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domingo, 20 de dezembro de 2009

Passei o Dia Ouvindo o que o Mar Dizia .




Eu ontem passei o dia
Ouvindo o que o mar dizia.

Chorámos, rimos, cantámos.

Falou-me do seu destino,
Do seu fado...

Depois, para se alegrar,
Ergueu-se, bailando e rindo,
Pôs-se a cantar
Um canto molhado e lindo.

O seu hálito perfuma,
E o seu perfume faz mal!

Deserto de águas sem fim.

Ó sepultura da minha raça
Quando me guardas a mim?...

Ele afastou-se calado;
Eu afastei-me mais triste,
Mais doente, mais cansado...

Ao longe o Sol na agonia
De roxo as águas tingia.

«Voz do mar, mesteriosa;
Voz do amor e da verdade!
- Ó voz moribunda e doce
Da minha grande Saudade!
Voz amarga de quem fica,
Trémula voz de quem parte...

E os poetas a cantar
São ecos da voz do mar!

António Botto, in 'Canções'

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
angela disse...

Belissimo poema. Ouvi o mar enquanto lia.
beijos