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domingo, 9 de novembro de 2008
Tuas roupas.
Tuas roupas no meu
guarda-roupa têm mais
intimidade do que os
nossos corpos na cama.
Uma certa fricção ou
fruição macia e fria
de corpos prostrados
um roce, uma prega
do tira e põe do cabide.
Lado a lado são vestes
nuas, tuas, cruas
com vestígios de
felicidade.
Talvez por contágio
proximidade
sofreguidão, ressábio
presságio e ausência.
Roupas despidas de ti
vazias, contidas
guardando as formas
de tua liberdade.
Um certo fetichismo
de abandono
resquícios de suor
e perfume, dobras
quem sabe manchas.
Visito tuas roupas
com as narinas
com os dedos
solitários.
Superfícies aveludadas
amarfanhadas, repassadas
revisitadas
meias e ceroulas
misturadas com sutiãs
e gravatas na gaveta
alicates, dedais
preservativos
em estado de inação
e promiscuidade.
Uma carência de botões
bolsos, beiradas
desejos encardidos
preteridos
postergados.
Poema de Antonio Miranda.
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