Seguidores
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
A Percepção do Poeta;
Sim, o que é o próprio homem senão um cego insecto inane a zumbir (?) contra uma janela fechada; instintivamente sente para além do vidro uma grande luz e calor. Mas é cego e não pode vê-la; nem pode ver que algo se interpõe entre ele e a luz. De modo que preguiçosamente (?) se esforça por se aproximar dela. Pode afastar-se da luz, mas não pode ir além do vidro. Como o ajudará a Ciência? Pode descobrir a aspereza e nodosidade próprias do vidro, pode chegar a conhecer que aqui é mais espesso, ali mais fino, aqui mais grosseiro, ali mais delicado: com tudo isto, amável filósofo, quão mais perto está da luz? Quão mais perto alcança ver? E contudo, acredito que o homem de génio, o poeta, de algum modo consegue atravessar o vidro para a luz do outro lado; sente calor e alegria por estar tão mais além de todos os homens (?), mus mesmo assim não continuará ele cego? Está ele um pouco mais perto de conhecer a Verdade eterna?
Fernando Pessoa, in 'Ideias Estéticas'
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Ciência, literatura, poesia, filosofia... economia, o futebol, também é cousa mui importante e a política, a política também, principalmente, a local,... tudo coisas, verdadeiramente, importantes.....
de resto, «há metafísica bastante».......... e a metafísica das árvores é, tão-só, a de serem copadas e fazerem sombra e assim
Boa noite.
Enviar um comentário