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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Felicidade Perene e Felicidade Duradoura




Por entre as vicissitudes de uma longa vida, reparei que as épocas das mais doces delícias e dos prazeres mais vivos não são aqueles cuja lembrança mais me atrai e mais me toca. Esses curtos momentos de delíriro e paixão, por mais vivos que possam ter sido, não são, no entanto, e até pela sua própria intensidade, senão pontos bem afastados uns dos outros na linha da minha vida. Foram demasiados raros e demasiado rápidos para constituírem um estado, e a felicidade de que o meu coração sente saudades não é constituída por instantes fugidios, é antes um estado simples e permanente que em si mesmo não tem vivacidade, mas cuja duração aumenta o seu encanto ao ponto de nele encontrar finalmente a felicidade suprema.

Na terra, tudo vive num fluxo contínuo. Nada conserva uma forma constante e segura, e as nossas afeições, que se prendem às coisas exteriores, passam e, como elas, mudam. Sempre à nossa frente ou atrás de nós, elas lembram o passado que já não existe, ou prevêem o futuro que muitas vezes não será: não existe nada de sólido a que o coração possa prender-se. É por isso que, na terra, só existe prazer passageiro; duvido que se conheça felicidade que dure. Nos nossos prazeres mais vivos, quase não existe um instante em que o coração possa verdadeiramente dizer-nos: Queria que este instante durasse para sempre; e como poderá chamar-se felicidade a um estado fugidio que nos deixa o coração inquieto e vazio, que nos faz ter saudades de algo que passou, ou desejar alguma coisa no futuro?

Jean-Jacques Rousseau, in 'Os Devaneios do Caminhante Solitário'

19 comentários:

ValeriaC disse...

É querido, tudo por aqui na vida é transitório demais...passageiro demais... são poucos os momentos que nos possam ser memoráveis e duradouros...e assim vamos vivendo uma vida construída em momentos de felicidade, não uma constante felicidade.
Doce final de tarde amigo...beijos...
Valéria

Zélia Guardiano disse...

Muito, muito interessante, Manuel!
Eu penso que a felicidade não existe em nenhuma circunstância. Ora, mesmo o que chamam de momentos felizes , não o são, já que nos trazem, em seu bojo, a consciência de sua efemeridade...
Grande abraço, meu amigo!

Yo Neris disse...

Querido amigo,
Costumo dizer que : "felicidade é a somatória de pequenas alegrias"
bjo no core

Regina Rozenbaum disse...

Então, vamos filosofar... O prazer é sempre bom. É tudo de bom. Por isso, buscamos, na vida, o máximo prazer. Às vezes, a mera redução de um desconforto já é prazerosa. Platão, na "Apologia de Sócrates", relata a iniciativa desse último de afrouxar as correntes, o que lhe teria proporcionado algum prazer. Por isso bebemos para aplacar a sede, comemos para eliminar a fome. E, assim, damo-nos conta de que os prazeres têm muito a ver com os sofrimentos. Por isso, quanto mais intensas e diversificadas as carências, maior a chance de m encontro prazeroso com o mundo. Esperança dos carentes. Tédio dos abastados. Brindemos, Manu, à vida prazerosa!
Beijuuss n.c.

www.toforatodentro.blogspot.com

franciete disse...

No livro da minha vida
Alguém escreveu com amor
Agora vejo perdida
Grande parte dessa vida
Que me causou tanta dor

Nesse livro eu escrevi
Pedaços de uma ilusão
No meu destino passado
Só restará um culpado
E o passado foi em vão

Beijinhos de luz e paz

pensandoemfamilia disse...

Pois não é que a felicidade é tecida pelos momentos fugidios, mas que valem a pena tê-los vivido.
bjs

angela disse...

Um texto que nos deixa bem pensativos...
Convido você para uma brincadeira, se quiser participar passe pelo meu blog
beijos

Rosane Marega disse...

...e muitas vezes somos a felicidade de alguem só por existirmos e nem sabemos que a pessoa existe...
...
e aquela estrela, que você olha, para e pensa...pôxa, nesse exato momento tem alguem, em algum lugar,olhando essa mesma estrela... e pensando em mim...
...
Ah, Manuel...é dificil...mas, existem palavras,minutos,olhar...
que mesmo passageiro, vale a pena ser vivido...
Beijosssssssssss

diariodumapsi disse...

Ei querido Manuel !
Bela postagem,viva a vida!
Te desejo uma semana alegre e cheia de luz!
Gd beijo

Unknown disse...

So,
So you think you can tell
Heaven from Hell,
Blue skies from pain
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?

Pink Floyd (wish you were here)

Uma boa semana pra vc amigo!!
Beeeeeeeeijos.

João A. Quadrado disse...

de repente, este excerto, recordou-me as peripécias literárias de José Cela no Vagabundo ao Serviço de Espanha, que já foi lido por duas vezes e não será a última, se o tempo assim quiser...

um imenso abraço, Manuel

Leonardo B.

Entrevidas disse...

Obrigada pela visita, e quero dizer que gosto muita do que voce escreve. Outro beijo meu amigo

Laura disse...

Olá!

Alguém nos enganou quando disse que poderíamos ser felizes para sempre! ou então acreditamos que o podíamos ser, mas, parece que se andássemos na lua todos os dias da vida, a vida não avançaria e ainda estaríamos nos anos 30...
Quando estamos mais infelizes, temos de nos virar para qualquer lado e é por isso que o homem e a mulher, nesse estado, avançam para uma nova escala de saber, e com isso o mundo só tem a ganhar,senão!...

Beijinho da laura

mundo azul disse...

_________________________________

Concordo inteiramente... Não há felicidade que dure... Mas, nem tristeza! Vivemos em constante movimento e tudo passa muito rápido, como propaganda de TV.

Excelente o texto! Obrigada por partilhar...

Beijos de luz!

_______________________________

Laços e Rendas de Nós disse...

A felicidade é como o mar, o nosso mar, Manuel.

Tem marés...

Beijo

Lídia Borges disse...

Da fugacidade da vida e dos seus prazeres.

Um prazer esta leitura que nos traz.


L.B.

Mara Santos disse...

Olá querido amigo....
Gosto de Rosseau....principalmente de sua obra "Emílio".
Parabéns pela postagem!
Tenha uma boa tarde.
Beijo,
Mara

Guma disse...

Olá Manuel estimado amigo.

Visto por este prisma é materializar demais os momentos que são puro sentimento, emoções e como tal nem se explicam, que são um todo e francamente não gostaria de as ver por separado, catalogando-os.
Talvez até fosse mais saudável conseguir fazê-lo, mas não está ao meu alcance!
Porque mesmo os doces momentos fugidios e felizes, por mais perenes que tenham sido, marcam definitivamente a forma como iremos viver os ditos duradouros.
Uns e outros cruzam-se, entrosam-se e vão nos transformando, ao ponto de por vezes não nos reconhecer-mos perante as nossas acções. Estamos e muito bem, em constante renovação.
Tudo realmente é passageiro, as coisas materiais, passam, mas a que recheamos com amor e dedicação, ficam por mais que façam parte de um passado mais ou menos longínquo e os tenhamos vivido previamente sabendo que seriam um momento e não algo que se estende no tempo.
Por isso amar, amar a vida, aceitá-la e manter o entusiasmo e a esperança de a melhorar através de boas energias, é sujeitar-mo-nos à melhor leitura possível pelo universo que nos rodeia e, daí advirem coisas boas a acontecerem. E isso é o que te desejo sinceramente.

Forte kandando amigo.

P.S.: Para cada um de nós, felicidade é algo muito diferente! Se assim é, imagino o que para cada um de nós seja felicidade perene, ou duradoura!

guímel disse...

Rousseau definindo as coisas do coração...
Maravilhoso!
"Felicidade é um estado da Alma".

Bjsss