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sexta-feira, 9 de setembro de 2011
A Amizade e o Amor Segundo uma Lógica de Bazar...
Desconfia-se do que é dado e pesa-se o que se recebe. A amizade e o amor parecem gerir-se, por vezes, segundo uma lógica de bazar. Já nem é considerado má-educação perguntar quanto é que uma prenda custou. Se esse preço é excessivo chega-se a dizer que não se pode aceitar. Recusar uma dádiva é como chamar interesseiro ao dador. É desconfiar que existe uma segunda intenção. De qualquer forma, só quem tem medo (ou corre o risco) de se vender pode pensar que alguém está a tentar comprá-lo. Quem dá de bom coração merece ser aceite de bom coração. A essência sentimental da dádiva é ultrajada pela frieza da avaliação.
A mania da equitatividade contamina os espíritos justos. É o caso das pessoas que, não desconfiando de uma dádiva, recusam-se a aceitar uma prenda que, pelo seu valor, não sejam capazes de retribuir. Esta atitude, apesar de ser nobre, acaba por ser igualmente destrutiva, pois supõe que existe, ou poderá vir a existir, uma expectativa de retribuição da parte de quem dá. Mas quem dá não dá para ser pago. Dá para ser recebido. Não dá como quem faz um depósito ou investimento. O valor de uma prenda não está na prenda - está na maneira como é prendada.
Hoje em dia, com a filosofia energumenóide e pseudojusta que impera, condensada no ditado ‹‹There is no such thing as a free lunch» é praticamente impossível oferecer um almoço a alguém. Todos os gestos de amor e de amizade são reduzidos ao valor de troca, a uma mera transacção em que é tudo avaliado, registado, saldado, pago a meias e de um modo geral discutido e destruído até estar esvaziado de significado.
Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'
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8 comentários:
Doar e Receber, dois verbos nobres que conjugam perfeitamente quando há pureza no coração.
Beijos
Aonde foram parar os valores? As as boas intenções agora precisam passar pela revista, feito estivéssemos numa alfândega?
É mesmo assim, a singeleza, a gentileza perderam a vez,dando lugar a uma praticidade de relacionamento quase robótica.
Eu ainda quero ser gente...
Muito bom, Manuel.
Beijo!
°º♫
°º✿
º° ✿♥ ♫° ·.
Olá, amigo!°º♫
°º✿
º° ✿♥ ♫°
Chamo isso de reflexos do mundo consumista... não é amor nem amizade.
Bom fim de semana!
Beijinhos.
Brasil°º♫
°º✿
º° ✿♥ ♫° ·.
Agora, anda-se com "um pé atrás", quando algo é oferecido... Particularmente, deixo a amizade fluir...as "máscaras", geralmente, caem...
Texto excelente, para se refletir!
Um abraço
Lúcia
Oi Manuel!!!
Um abraço ou um presente são demonstrações de amor e carinho não vejo problema em troca-los.
Bom fim de semana, meu querido amigo.
Beijinhos
olá Manuel,
o Miguel E. Cardoso, escreve umas quantas verdades, por vezes difíceis de tragar, mas infelizmente é uma constatação e só tem é de se digerir e desejar não fazer parte desse prato de balança que não devia existir.
bom fim de semana e meu kandando.
Eu entendo o raciocínio e concordo com ele, mas também entendo que as relações supõe troca e quanto mais justa, melhor...
Ótimo fim de semana.
"Todos os gestos de amor e de amizade são reduzidos ao valor de troca, a uma mera transacção em que é tudo avaliado, registado, saldado, pago a meias e de um modo geral discutido e destruído até estar esvaziado de significado."
Penso que gesto de amor, de amizade, de carinho é recíproco e natural. Ele acontece, ele enobrece quem oferece, mesmo sem receber retorno. Há pessoas que não sabem receber carinhos, andam desconfiadas, outras pensam que não merecem. Mas são gestos gentis, amáveis e gratuitos. Assim penso eu.
Uma linda noite para meu amigo querido.
Um grande abraço.
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