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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"tesouros ocultos."


Há aparências de dureza que ocultam tesouros de sensibilidade e de afecto .

Olhos nos olhos.


Seu olhar me beija os olhos
o nariz, a boca
desce pelo pescoço numa gula deliciosa
pára nos seios, suga-os gota a gota...

Seu olhar vem até mim, numa fúria louca
despe-me, devora-me
enquanto,cruzo as pernas
e acentuo os seus desejos



Você vem em minha direção
um sorriso maroto
tira-me para dançar
enlaça-me, me faz sufocar,

Nossas pernas se cruzam,
sinto o seu respirar...
o corpo fala, responde
e suspira, mostrando os sons , arpejos
dessa sinfonia que não precisa tocar

Homenagem aos seios mais lindos do mundo.





Desde pequeno gostei de seios. Não por inveja, mas porque me causavam curiosidades. Algumas vezes imaginei que pudessem ser um incomodo. Outras vezes pensei em entretenimento, mas na maioria delas sempre vi como beleza. Era nessa beleza que curiosamente sempre cuidei de canto de olho quando as mulheres se debruçavam nos balcões, quando usavam blusas brancas, quando seus sutiãs eram um número a menos e seus seios estavam lá como Pão de Açúcar. E quando chovia. A chuva dá aos seios um mistério do velado no revelado.
Nunca me botei a olhar por buracos de fechadura, por frestas de portas ou janelas entre abertas. Os seios de uma mulher são sua face, seu rosto, suas intensidades, seus gostos e desgostos. Vê-los simplesmente, sem que exista ali o semblante de quem os possui nada mais é do que nada.
Quando era menino os seios me pareciam duas bolas de gude, quando amadureci tive plena certeza que eram as esferas mais radiantes que um corpo de mulher pode ter. Nunca me passou pela cabeça que os seios estavam lá simplesmente para que pudessem ser usados como um veículo de alimentação. Seria de uma displicência incrível de quem os criou. Sempre me pareceu que o criador desenhou ali frutas. Sendo assim, alguns seios têm formato de pêssegos, outros de morangos, há os que parecem com pêras e os abundantes são uma grande concentração de amoras. Sempre tropicais, os seios são sempre tropicais. Exigem eles uma grande liberdade, um remexer-se, um dançar, um frenesi. Mesmo aparentando frutas de inverno brotam no verão, é essa a estação. A sua estação.
As mulheres carregam seus seios como quem carregam suas existências. Acredito que lá dentro trazem bilhetes de antigos amores, histórias de quando deixaram de ser meninas, portas que se fecharam e arco-íris que se fotografaram. Neles estão as marcas dos afetos, dos carinhos, de mãos que mesmo rudes foram delicadas e de mãos que mesmo querendo ser delicadas foram rudes. Geograficamente se encontram lá em cima, a frente, algum espaço primeiro de todo encontro. Os seios abraçam muito antes de todo o corpo. Quase como um sensor – isso se perderá, isso ficará em meus seios por uma eternidade.
Diante de seios homens viram meninos. Diante de seios meninos viram homens. Mesmo já conhecidos, algo fala neles e são essas palavras que os tornam sempre outros. Outros como nunca vistos.

Overmundo.

Porto Alegre RS textos-ficcao textos-literatura

domingo, 25 de outubro de 2009

Invenções.


Quantas coisas não inventará o ser humano para justificar o que seu coração deseja ...

O Professor como Mestre




Não me basta o professor honesto e cumpridor dos seus deveres; a sua norma é burocrática e vejo-o como pouco mais fazendo do que exercer a sua profissão; estou pronto a conceder-lhe todas as qualidades, uma relativa inteligência e aquele saber que lhe assegura superioridade ante a classe; acho-o digno dos louvores oficiais e das atenções das pessoas mais sérias; creio mesmo que tal distinção foi expressamente criada para ele e seus pares. De resto, é sempre possível a comparação com tipos inferiores de humanidade; e ante eles o professor exemplar aparece cheio de mérito. Simplesmente, notaremos que o ser mestre não é de modo algum um emprego e que a sua actividade se não pode aferir pelos métodos correntes; ganhar a vida é no professor um acréscimo e não o alvo; e o que importa, no seu juízo final, não é a ideia que fazem dele os homens do tempo; o que verdadeiramente há-de pesar na balança é a pedra que lançou para os alicerces do futuro.

Agostinho da Silva.

Nada é pequeno...


Nada é pequeno no amor. Quem espera as grandes ocasiões para provar a sua ternura não sabe amar .

sábado, 24 de outubro de 2009

Para o outro lado do Atlântico.



Sem perguntar, sei de notícias tuas,
Leio em sinais esquecidos por aqui.
Esta distância é um nada que magoa,
Eu não consigo existir sem ti.

Se a tua voz pertence a outra pessoa,
O teu silêncio não lhe pode pertencer.
A paisagem é uma palavra à toa
Que não te disse. Nunca quiseste saber.

Onde estás, que não te vejo
Andas longe no teu vagar,
Procuro apenas no meu desejo,
Apenas em mim te sei encontrar.

Esse adeus continua até hoje
A despedida teve um nome qualquer
Devagar, o tempo foge,
Foge contigo e sou eu que o estou a perder.

Tenho tantos sonhos guardados,
Tenho tantas lembranças de ti,
Recomeço os planos adiados
E começo a imaginar-te aqui.

João Pedro Pais - Letras

Para Todo o Sempre .









O Poeta morre,
mas não cessa de escrever.

Enquanto escreve,
vive
ressuscitando fugidias horas
mudadas em auroras...

Uma pequenina flor,
pisada por quem passa,
é agora
um milagre de cor,
uma negaça
de mil desejos...

E os beijos
que nunca foram dados,
tornados tão reais...

Aquela borboleta
arrasta
infindas primaveras
no seu voo fremente...

- Uma palavra mais,
Poeta!
Uma palavra quente!
Uma palavra para todo o sempre!

Saúl Dias, in "Essência"

Alegria-


A alegria é a vida vista atrás de um raio de sol ...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Carlos Kleiber


O facto de sermos não sei quantos milhões de pessoas e, não obstante, a comunicação, a comunicação completa, ser totalmente impossível entre duas pessoas parece-me uma das coisas mais trágicas do mundo ...

O amor é grande.


O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Mergulha nos Sonhos


Mergulhar nos Sonhos

mergulha nos sonhos
ou um lema pode ser teu aluimento
(as árvores são as suas raízes
e o vento é o vento)

confia no teu coração
se os mares se incendeiam
(e vive pelo amor
embora as estrelas para trás andem)

honra o passado
mas acolhe o futuro
(e esgota no bailado
deste casamento a tua morte)

não te importes com o mundo
com quem faz a paz e a guerra
(pois deus gosta de raparigas
e do amanhã e da terra)

E. E. Cummings, in "livrodepoemas"

Absinto.



Bebo do teu nectar,
entrego-me em teus lábios!
Morro neste (Ab)sinto
que degusto em tua boca
e entrego minha alma,
te envolvo na melodia
dos meus braços.
Entrega-me e
Alivia minha dor
no deleite deste amor
e derruba-me
no gole mortal
deste (ab)sinto.
Que mal sinto
em meu corpo ardente
o labirinto de teu corpo.
Estou vivo e...
estou morto!
Mas sinto o teu (ab)sinto
em minha gartanta,
Queima a carne
levemente em teu olhar
profundo e profano.
Deixo absorver
a dor saborosa
deste alívio
partir--
pra dentro de ti
e te Sinto
num gole de (ab)sinto
de tua saliva--
que nos integra num único ser!

Ludiro

Não sei quem sou, que alma tenho.



Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."

Fernando Pessoa

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Lúbrica .




Quando a vejo, de tarde, na alameda,
Arrastando com ar de antiga fada,
Pela rama da murta despontada,
A saia transparente de alva seda,
E medito no gozo que promete
A sua boca fresca, pequenina,
E o seio mergulhado em renda fina,
Sob a curva ligeira do corpete;
Pela mente me passa em nuvem densa
Um tropel infinito de desejos:
Quero, às vezes, sorvê-la, em grandes beijos,
Da luxúria febril na chama intensa...
Desejo, num transporte de gigante,
Estreitá-la de rijo entre meus braços,
Até quase esmagar nesses abraços
A sua carne branca e palpitante;
Como, da Ásia nos bosques tropicais
Apertam, em espiral auriluzente,
Os músculos hercúleos da serpente,
Aos troncos das palmeiras colossais.
Mas, depois, quando o peso do cansaço
A sepulta na morna letargia,
Dormitando, repousa, todo o dia,
À sombra da palmeira, o corpo lasso.

Assim, quisera eu, exausto, quando,
No delírio da gula todo absorto,
Me prostasse, embriagado, semimorto,
O vapor do prazer em sono brando;
Entrever, sobre fundo esvaecido,
Dos fantasmas da febre o incerto mar,
Mas sempre sob o azul do seu olhar,
Aspirando o frescor do seu vestido,
Como os ébrios chineses, delirantes,
Respiram, a dormir, o fumo quieto,
Que o seu longo cachimbo predileto
No ambiente espalhava pouco antes...
Se me lembra, porém, que essa doçura,
Efeito da inocência em que anda envolta,
Me foge, como um sonho, ou nuvem solta,
Ao ferir-lhe um só beijo a face pura;
Que há de dissipar-se no momento
Em que eu tentar correr para abraçá-la,
Miragem inconstante, que resvala
No horizonte do louco pensamento;
Quero admirá-la, então, tranqüilamente,
Em feliz apatia, de olhos fitos,
Como admiro o matiz dos passaritos,
Temendo que o ruído os afugente;
Para assim conservar-lhe a graça imensa,
E ver outros mordidos por desejos
De sorver sua carne, em grandes beijos,

Da luxúria febril na chama intensa...
Mas não posso contar: nada há que exceda
A nuvem de desejos que me esmaga,
Quando a vejo, da tarde à sombra vaga,
Passeando sozinha na alameda...

Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'

A Nossa Sensibilidade .



Sofremos mais hoje que as gerações passadas porque o estímulo da maquinaria, da multidão, da coisa impressa e do barulho desgastou os tecidos protectores dos nossos nervos. Há compensações: esta sensibilidade em carne viva ergue-nos a uma subtileza de percepção e de coordenação nervosa e muscular que somos capazes de fazer coisas absolutamente impossíveis aos homens primitivos e mesmo aos medievais. Ficamos na situação dos músicos, cujos "ouvidos educados" os fazem sofrer com todos os sons que não sejam harmónicos: esses músicos pagam o crime da sensibilidade excessiva e possuem os defeitos das suas virtudes. Mas pensam lá eles em perder tais dons em troca de se livrarem dos sofrimentos consequentes? Não há homem moderno que queira desistir de uma sensibilidade que, se puplica o sofrimento, também multiplica os prazeres.

Will Durant, in "Filosofia da Vida"

"Desporto."


O amor é o único desporto que não se suspende por falta de luz ...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Interrogação.




Onde é que está essa mulher fadada,
Que o meu sonho criou num desvario,
Acaso existe, acaso foi criada,
Ou vive apenas porque eu a crio?

Onde é que vive essa mulher sonhada,
Da minha mesa o vinho e o loiro trigo,
Acaso morta jaz desfeita em nada?
Acaso, assim, há-de vir ter comigo?

Onde é que existe essa mulher que um dia
Eu me pus a chamar e não me ouviu,
Onde é que passa oculta a sua vida,
Acaso nunca essa mulher me viu?

Acaso, às vezes penso, essa mulher
Traz em sua alma algum poder oculto,
Para que nunca, ou uma vez sequer,
Caísse em mim a sombra do seu vulto?

Acaso nunca essa mulher que eu sonho,
Há-de vir abraçar-se ao meu desejo,
Pondo em mim esse amor que nela eu ponho,
Acaso nunca me dará um beijo?

Acaso nunca essa mulher que eu amo,
Como se pode amar com mais loucura,
Há-de vir até mim quando eu a chamo,
Para me dar um pouco de ternura?

Acaso nunca essa mulher dilecta
Enxugará meus olhos ao sol-pôr,
E trará ao meu sonho de poeta
Um bocadinho do seu grande amor?

Acaso nunca essa mulher que é alma,
Há-de trazer ao meu viver incerto
Um quase nada de ternura e calma,
Para que eu veja Deus já de mais perto?

Acaso nunca essa mulher essência,
Perfeita como as santas dos vitrais,
Há-de vir embalar minha existência?
Acaso nunca ela há-de vir, Jamais?

Alfredo Brochado.

A Parte Invisível do Visível...




A parte invisível do visível.
De resto conhecer mais o quê?
O Manifesto do Invisível.
Os lobos são a cabeça do anjo que não se vê.
Sangue no Focinho e Cobardia.

Gonçalo M. Tavares,