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quarta-feira, 2 de junho de 2010

A Tristeza dos Portugueses...




Porque é que os portugueses são tristes? Porque estão perto da verdade. Quem tiver lido alguns livros, deixados por pessoas inteligentes desde o princípio da escrita, sabe que a vida é sempre triste. O homem vive muito sujeito. Está sujeito ao seu tempo, à sua condição e ao seu meio de uma maneira tal que quase nada fica para ele poder fazer como quer. Para se afirmar, como agora se diz, tão mal.
Sobre nós mandam tanto a saúde e o dinheiro que temos, o sítio onde nascemos, o sangue que herdámos, os hábitos que aprendemos, a raça, a idade que temos, o feitio, a disposição, a cara e o corpo com que nascemos, as verdades que achamos; mandam tanto em nós estas coisas que nos dão que ficamos com pouco mais do que a vontade. A vontade e um coração acordado e estúpido, que pede como se tudo pudéssemos. Um coração cego e estúpido, que não vê que não podemos quase nada.

Aí está a razão da nossa tristeza permanente. Cada homem tem o corpo de um homem e o coração de um deus. E na diferença entre aquilo que sentimos e aquilo que acontece, entre o que pede o coração e não pode a vida, que muito cedo encontramos o hábito da tristeza. Habituamo-nos a amar sem nos sentirmos amados e a esse sentimento, cortado por surpresas curtas, passamos a chamar amor. E com verdade. No mundo das ausências, onde a tristeza vem de sabermos muito bem o que nos falta, a nós e àqueles que nos rodeiam, a bondade, que nos torna vulneráveis aos sofrimentos daqueles que nos acompanham e nos faz sofrer duas vezes mais do que se estivéssemos sozinhos, é o preço que pagamos por não sermos amargos. É graças à bondade que estamos tristes acompanhados. Há uma última doçura em sermos tristes num mundo triste. Igual a nós.

Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'

8 comentários:

Unknown disse...

Eu não acho os portuguêses são tristes!!
Eles estão sempre com um sorriso no rosto.

Os textos do seu blog estão maravilhoso continue assim...parabéns!!!

beijos.

Breve Leonardo disse...

[que saudades do MEC,o fiel da balança... por vezes desequilibrada, mas balança!]

Um imenso abraço, Manuel

Leonardo B.

Anónimo disse...

Gente,
vou até procurar este livro pra dar uma olhadinha.
Bjs.

Regina Rozenbaum disse...

Já fiquei fã de carteirinha desse homem (desde quando vc postou pela primeira vez)... Quero ter a oportunidade de ler mais...
Beijuuss n.c.

www.toforatodentro.blogspot.com

Glorinha L de Lion disse...

E como são tristes, têm o fado para mostrar ao mundo a beleza dessa tristeza...já nós, os idiotas aqui, vivemos sorrindo, abraçando todos os que chegam e temos o samba pra mostrar nossa alienação ao mundo... bjs, esses sim, tristes por meu povo e meu país...

Rosan disse...

sim é verdade, não sei sobre os portugueses, mas eu sou um pouco triste...na maior parte do tempo sorrio para a vida, mas o coração tem sim uma ponta de tristeza, pois no mundo somos prisioneiros do corpo, e asim tolidos da liberdade do espirito.

beijo

Beth/Lilás disse...

Amigo, Manuel, muito interessante o tema e fez-me lembrar que alguém de disse isto por aí, quando estive no ano passado.
Reparei que tem sim, algumas pessoas melancólicas, meio distantes em seus pensamentos. Vi isto quando estive no Cascais. Homens lojistas completamente ausentes quando entravam clientes em suas lojas, ficavam atrás dos balcões quase escondidos, quietinhos.
Mas, os portugueses aqui no Brasil são muito alegrinhos e cantantes.
Tive contatos minha vida inteira com famílias de portugueses, tenho amigos de infância portugueses e seus pais adoram cantar versinhos, rimas e outras coisas.
Às vezes acho um pouco charmosa esta melancolia. hehe
abraço carioca

angela disse...

Muito interessante esse texto.
beijos