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terça-feira, 10 de maio de 2011
A Minha Biblioteca é o Meu Harém ...
Olho para as centenas de livros no meu gabinete e apercebo-me que não toquei na maior parte deles depois de os ter lido ou dado uma vista de olhos pela primeira vez. Mas nem sequer considero a hipótese de me desfazer deles - então, e se eu quiser abrir este ou aquele um dia destes? Gastei o meu último dinheiro tanto a adquirir novos livros como em prostitutas. Comprar livros novos é um prazer muito diferente do prazer de ler: examinar, cheirar, folhear um livro novo é a própria felicidade.
Os livros dão-me confiança pela sua disponibilidade, de que posso sempre aproveitar-me se quiser. O mesmo acontece com as mulheres - preciso de muitas delas e têm de se abrir à minha fente como os livros. Na verdade, para mim, os livros e as mulheres são semelhantes de muitas formas. Abrir as páginas de um livro é o mesmo que afastar as pernas de uma mulher - o conhecimento revela-se à nossa vista.
Todos os livros têm um odor próprio: quando abrimos um livro e cheiramos, cheiramos a tinta, e é diferente em cada livro. Rasgar as páginas de um livro é um prazer inenarrável. Mesmo um livro estúpido me dá prazer quando o abro pela primeira vez. Quanto mais esperto for, mais me atrai, e a beleza da capa não é importante para mim. Isto não é necessariamente verdade para as mulheres.
Tal como uma mulher se pode vir com qualquer homem habilidoso, assim um livro se abre a qualquer um que lhe pegue. Dará o prazer da sua sabedoria a quem for capaz de o compreender. Por isso sou cioso dos meus livros e não gosto de os dar a ninguém para ler. A minha biblioteca é o meu harém.
Alexander Puschkine, in 'Diário Secreto'
domingo, 8 de maio de 2011
Divagação...
sábado, 7 de maio de 2011
Dia de ser mãe.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Literatura.
Sinopse.
Um grande amor em tempos de guerra, a sedução de África e o retrato de um Portugal inesquecível...
Isabel recebe um manuscrito em condições inesperadas e misteriosas. O seu autor, Rodrigo, desaparecido há seis anos e dado como morto pelos seus amigos, relata as experiências e as vivências, os factos e as emoções, os encontros e os desencontros que marcaram a sua vida.
O leitor é levado numa viagem que o transporta aos loucos anos sessenta na alta sociedade lisboeta e o leva à sedução de África, continente misterioso que abre novos horizontes.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Andáva a Lua nos Céus
Andáva a lua nos céus
Com o seu bando de estrellas.
Na minha alcova,
Ardiam vellas,
Em candelabros de bronze.
Pelo chão, em desalinho,
Os velludos pareciam
Ondas de sangue e ondas de vinho.
Elle olhava-me scismado;
E eu,
Placidamente, fumava,
Vendo a lua branca e núa
Que pelos céus caminhava.
Aproximou-se; e em delirio
Procurou ávidamente,
E ávidamente beijou
A minha boca de cravo
Que a beijar se recusou.
Arrastou-me para Elle,
E, encostado ao meu hombro,
Fallou-me d'um pagem loiro
Que morrêra de Saudade,
Á beira-mar, a cantar...
Olhei o céu!
Agora, a lua, fugia,
Entre nuvens que tornavam
A linda noite sombría.
Déram-se as bocas n'um beijo,
- Um beijo nervoso e lento...
O homem cede ao desejo
Como a nuvem cede ao vento.
Vinha longe a madrugada.
Por fim,
Largando esse corpo
Que adormecêra cansado
E que eu beijára loucamente
Sem sentir,
Bebia vinho, perdidamente,
Bebia vinho... até cahir.
António Botto, in 'Canções'
terça-feira, 3 de maio de 2011
Voz activa
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Teus olhos amêndoa...
Olhos de amêndoa
olhar agridoce
arco íris no olhar
mulher de olhos bonitos
da cor do mar...
Amêndoas doces teus olhos são
secos de água pela saudade
nos teus olhos vejo a luz
o azul da água do mar
um olhar que me seduz...
olhar amendoado
com travo de amêndoa e mel
gosto do teu doce olhar de mulher
olhar encantado
que me faz viver...
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Explicação da Eternidade
devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.
os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até ao fim.
José Luís Peixoto, in "A Casa, A Escuridão"
quarta-feira, 27 de abril de 2011
O que valemos ?
terça-feira, 26 de abril de 2011
Janela do meu mundo...
Ondas que rebentam
sobre a areia da praia
espuma branca
dissolvem a marca dos meus pensamentos...
Tudo desaparece
numa neblina cinzenta cerrada
olho o horizonte
e penso...
És um sonho
que eu quero sonhar
ao acordar
um rio que desagua em mim
num (a)mar sem fim...
És flor do campo
lágrima e meu encanto
luz da vida
janela do meu mundo
meu pranto...
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Na sombra de um raio.
Plena mulher, maçã carnal, lua quente,
espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,
que obscura claridade se abre entre tuas colunas?
que antiga noite o homem toca com seus sentidos?
Ai, amar é uma viagem com água e com estrelas,
com ar opresso e bruscas tempestades de farinha:
amar é um combate de relâmpagos e dois corpos
por um só mel derrotados.
Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,
e o fogo genital transformado em delícia
corre pelos tênues caminhos do sangue
até precipitar-se como um cravo nocturno,
até ser e não ser senão na sombra de um raio.
Pablo Neruda
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Insónia.
Noite dentro
o tempo passa lentamente
procuro adormecer
o sono nada me diz
oiço o bater das horas
nesta longa espera...
Queria sonhar
possuir-te em sonhos
tarda
o tempo evapora-se
esfuma-se.
Oiço tua voz lá bem no fundo
será que vens ?
Amanhece
o clarear do dia aparece
de ti nada sei
mais uma noite em branco
neste quarto solitário
onde apenas há insónia
solidão...
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Obriga-me...
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
(Hilda Hist)
domingo, 17 de abril de 2011
sábado, 16 de abril de 2011
Amar é parir o amor,,,
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Num poema despido.
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Agradecimento.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
sábado, 9 de abril de 2011
At My Most Beautiful
Eu encontrei uma maneira de torná-lo
Eu encontrei uma maneira
Uma maneira de fazer você sorrir
Leio poesia ruim
Em sua máquina
Eu salvo seus recados
Basta ouvir a sua voz
Você sempre ouvir com atenção
Para rimas difíceis
Você sempre diz seu nome,
Como se eu não soubesse que é você,
Na sua mais bela
Na minha mais bela
Eu conto seus cílios secretamente
Com cada um, sussurrar eu te amo
Eu deixei você dormir
Eu sei que você está me vigiando de olhos fechados,
Ouvindo
Eu pensei que eu vi um sorriso
sexta-feira, 8 de abril de 2011
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Os primeiros passos...
No silêncio da chuva
de mãos dadas
ensaiamos os primeiros passos
tímido olho
os teus olhos
o reflexo da lua
treme no teu rosto...
Não quero ser limitado
pelo que sinto
quero olhar
no charco de água
e ver os teus olhos
sem mágoa...
Em noites frias
de chuva intensa
quero aquecer-me
no teu lume
e no rasto do meu corpo
sentir o teu perfume...
terça-feira, 5 de abril de 2011
Grito a tua ausência…
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Não te Amo
Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma.
E eu n’alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!
Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.
Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?
E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.
Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'
domingo, 3 de abril de 2011
Passa uma Borboleta por Diante de Mim
Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XL"
Heterónimo de Fernando Pessoa
A Primeira Palavra que em Toda a Minha Vida me Esgotou o Ser
Uma palavra. Disse-a. Amo-te - uma palavra breve. Quantos milhões de palavras eu disse durante a vida. E ouvi. E pensei. Tudo se desfez. Palavras sem inteira significação em si, o professor devia ter razão. Palavras que remetiam umas para as outras e se encostavam umas às outras para se aguentarem na sua rede aérea de sons. Mas houve uma palavra - meu Deus. Uma palavra que eu disse e repercutiu em ti, palavra cheia, quente de sangue, palavra vinda das vísceras, da minha vida inteira, do universo que nela se conglomerava, palavra total. Todas as outras palavras estavam a mais e dispensavam-se e eram uma articulação ridícula de sons e mobilizavam apenas a parte mecânica de mim, a parte frágil e vã. Palavra absoluta no entendimento profundo do meu olhar no teu, palavra infinita como o verbo divino. Recordo-a agora - onde está? Como se desfez? Ou não desfez mas se alterou e resfriou e absorveu apenas a fracção de mim onde estava a ternura triste, o conforto humilde, a compaixão. Não haverá então uma palavra que perdure e me exprima todo para a vida inteira? E não deixe de mim um recanto oculto que não venha à sua chamada e vibre nela desde os mais finos filamentos de si? Uma palavra. Recupero-a agora na minha imaginação doente. Amo-te. Na intimidade exclusiva e ciumenta do nosso olhar mútuo e encantado. Fecha-nos o lençol na claridade difusa do amanhecer, estás perto de mim no intocável da tua doçura. Frágil de névoa. Fímbria de sorriso e de receio, de pavor, no meu olhar embevecido. Uma palavra. A primeira que em toda a minha vida me esgotou o ser. A que foi tão completa e absorvente, que tudo o mais foi um excesso na criação. Deus esgotou em mim, na minha boca, todo o prodígio do seu poder. Ao princípio era a palavra. Eu a soube. E nada mais houve depois dela.
Vergílio Ferreira, in 'Para Sempre'
quinta-feira, 31 de março de 2011
literatura.
Sinopse
A história de um jovem dividido entre duas religiões e dois amores, em busca da sua liberdade e da do seu povo, na Andaluzia do séc. XVI.
1568. Depois de derrotados por Isabel, a Católica, a comunidade muçulmana andaluza sobrevive com muitas dificuldades, sob a constante repressão dos Cristãos, mas depressa o descontentamento dá lugar a uma sanguinária revolta.
Entre os revoltosos encontra-se Hernando, um jovem desprezado pelo seu próprio povo e maltratado por Brahim, o seu padrasto. Dotado de uma extraordinária habilidade para lidar com animais, Hernando salva a vida ao filho de uma jovem belíssima, Fátima. Dividido entre a fé que lhe foi incutida e as atrocidades que vê serem cometidas em nome de Alá, o seu coração impele-o a ajudar um nobre cristão, obtendo a sua eterna gratidão.
Porém, a sua coragem e honestidade também lhe granjeiam alguns inimigos, sobretudo o seu cruel padrasto que, aproveitando-se da morte do rei, consegue condenar Hernando à escravatura e desposar a bela Fátima, o grande amor do enteado. Brahim, na qualidade de lugartenente do novo monarca, parece inatacável, e Hernando parece condenado à desgraça…
quarta-feira, 30 de março de 2011
Eu Simplesmente Amo-te
Eu amo-te sem saber como, ou quando, ou a partir de onde. Eu simplesmente amo-te, sem problemas ou orgulho: eu amo-te desta maneira porque não conheço qualquer outra forma de amar sem ser esta, onde não existe eu ou tu, tão intimamente que a tua mão sobre o meu peito é a minha mão, tão intimamente que quando adormeço os teus olhos fecham-se.
Pablo Neruda, in "Cem Sonetos de Amor"
terça-feira, 29 de março de 2011
Penso em Ti e Dentro de Mim Estou Completo .
Vai alta no céu a lua da Primavera
Penso em ti e dentro de mim estou completo.
Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.
Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
Isso será uma alegria e uma verdade para mim.
Alberto Caeiro, in "O Pastor Amoroso"
Heterónimo de Fernando Pessoa
segunda-feira, 28 de março de 2011
A Lealdade é um Amor que Esquece o Mundo.
Só se é realmente leal quando se está sujeito a alguém ou a algo. Aí, onde mesmo um sonho pode ser senhor. Na sujeição de quem serve uma causa, na sujeição de quem se submete a um chefe, na sujeição à pessoa amada, na sujeição do sentimento e na sujeição do dever, no sacrifício da liberdade, da razão e do interesse. No desperdício e no desprezo do que está à vista e do que está à mão, é nesta desagradável situação que se acha ou não acha a lealdade. É por ser selvagem e servil, mas só a um senhor, que a lealdade tem valor. É muito difícil ser-se leal, mas só porque é muito difícil seguirmos o coração. A lealdade é um amor que esquece o mundo.
Ao escolher um amigo, e ao ser-se amigo dele, rejeitam-se as outras pessoas. Quando estamos apaixonados, é através dessa pessoa que amamos a humanidade. O amor ocupa-nos muito. E para os outros, não fica quase nada.
Não se consegue ser leal ao ponto de calar o coração. Mas sofremos com as nossas deslealdades. Sabemos perfeitamente o que estamos a fazer, quem sacrificámos, e porquê. É por causa da consciência da nossa imperfeição que o ideal da verdadeira lealdade não pode ser abandonado ou alterado. O facto de ser incumprível não obriga a que se arranje uma versão softcore, mais cómoda e realista. É preciso aguentar. A lealdade é uma coisa tão cega e simples de determinar quanto é difícil de determinar quanto é difícil de seguir.
Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'
domingo, 27 de março de 2011
Sonho de amor..
sábado, 26 de março de 2011
viver o amor...
quinta-feira, 24 de março de 2011
quarta-feira, 23 de março de 2011
Ai quem me dera...
terça-feira, 22 de março de 2011
segunda-feira, 21 de março de 2011
Quem não Dava a Vida por um Amor?
O essencial é amar os outros. Pelo amor a uma só pessoa pode amar-se toda a humanidade. Vive-se bem sem trabalhar, sem dormir, sem comer. Passa-se bem sem amigos, sem transportes, sem cafés. É horrível, mas uma pessoa vai andando.
Apresentam-se e arranjam-se sempre alternativas. É fácil.
Mas sem amor e sem amar, o homem deixa-se desproteger e a vida acaba por matar.
Philip Larkin era um poeta pessimista. Disse que a única coisa que ia sobreviver a nós era o amor. O amor. Vive-se sem paixão, sem correspondência, sem resposta. Passa-se sem uma amante, sem uma casa, sem uma cama. É verdade, sim senhores.
Sem um amor não vive ninguém. Pode ser um amor sem razão, sem morada, sem nome sequer. Mas tem de ser um amor. Não tem de ser lindo, impossível, inaugural. Apenas tem de ser verdadeiro.
O amor é um abandono porque abdicamos, de quem vamos atrás. Saímos com ele. Atiramo-nos. Retraímo-nos. Mas não há nada a fazer: deixamo-lo ir. Mai tarde ou mais cedo, passamos para lá do dia a dia, para longe de onde estávamos. Para consolar, mandar vir, tentar perceber, voltar atrás.
O amor é que fica quando o coração está cansado. Quando o pensamento está exausto e os sentidos se deixam adormecer, o amor acorda para se apanhar. O amor é uma coisa que vai contra nós. É uma armadilha. No meio do sono, acorda. No meio do trabalho, lembra-se de se espreguiçar. O amor é uma das nossas almas. É a nossa ligação aos outros. Não se pode exterminar. Quem não dava a vida por um amor? Quem não tem um amor inseguro e incerto, lindo de morrer: de quem queira, até ao fim da vida, cuidar e fugir, fugir e cuidar?
Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'
domingo, 20 de março de 2011
O teu poema.
As tuas palavras
poucas
mas claras
mostram-me o mundo
de outra maneira
que o amor é tudo
desde que um homem queira...
As tuas palavras
singelas
mas belas
que me arrepiam a pele
fazem-me sentir
o teu amor fiel...
As tuas palavras
que me beijam
perfumam-me a alma
com cheiros de alfazema
é singelo
mas belo
o teu poema...
sábado, 19 de março de 2011
Pai, a Minha Sombra és Tu
a cadeira está vazia, um corpo ausente
não aquece a madeira que lhe dá forma
e não ouço o recado que me quiseste dar
nem a tua voz forte que grita meninos
na hora de acordar
ouço o teu abraço, no corredor em gaia
e os olhos molhados pela inusitada despedida
o sol foge
mas o crepúsculo desenha a sombra que
tenho colada aos pés
ou o espelho, coberto com a tua face
pai, digo-te
a minha sombra és tu
Jorge Reis-Sá, in "A Palavra no Cimo das Águas"
sexta-feira, 18 de março de 2011
Adormecer...
Vai vida na madrugada fria.
O teu amante fica,
na posse deste momento que foi teu,
amorfo e sem limites como um anjo;
a cabeça cheia de estrelas...
Fica abraçado a esta poeira que teu pé levantou.
Fica inútil e hirto como um deus,
desfalecendo na raiva de não poder seguir-te!
Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"
quinta-feira, 17 de março de 2011
Se falássemos de amor falávamos de outra maneira.
A imagem de qualquer pedra servia bem a desordem
que vai sobre esta mesa
o copo de cerveja
admiráveis modos de viver
o mais mortal amigo é sempre qualquer coisa.
Assim explicava os grandes reinados rituais
o produto da terra
a arte da guerra
a ilusão vindo de muito longe
a única árvore o único poço por fortuna. Hábil
guerreiro e de palavra.
Contra ele os que foram foram inutilmente.
João Miguel Fernandes Jorge, in "Meridional
quarta-feira, 16 de março de 2011
A Mulher Mais Bonita do Mundo
estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.
entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.
entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.
há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.
estás tão bonita hoje.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.
José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"
terça-feira, 15 de março de 2011
Os meus desejos...
segunda-feira, 14 de março de 2011
Literatura.
Sinopse
O Sonho do Celta baseia-se na vida do irlandês Roger Casement, cônsul britânico no Congo belga, em inícios do século XX, que durante duas décadas denunciou as atrocidades do regime de Leopoldo II. Este homem, amigo de Joseph Conrad (e que o guiou numa viagem pelo Rio Congo, revelando-lhe uma realidade mais tarde retratada no romance Coração das Trevas), teve uma vida extraordinária, plena de aventura. Acérrimo defensor dos direitos humanos ‹ como também o comprovam os relatórios que redigiu durante a estadia na Amazónia peruana - militou activamente, no fim da sua vida, o nacionalismo irlandês, acabando condenado à morte por traição e executado.
domingo, 13 de março de 2011
O Amor é de outro Reino
O amor é de outro reino. (...) Da amizade, do amor, do encontro de duas pessoas que se sentem bem uma ao lado da outra, fazendo amor, falando de amor, trocando amor, conversando de amor, falando de nada, falando de pequenas histórias código de ministros com aventuras de aventuras sem ministros conversa alta e baixa de livros e de quadros de compras e de ninharias conversas trocadas em miúdos ouvindo música sem escutar música que ajuda o amor o amor precisa de ajudas de ir às cavalitas de andas de muita coisa simples amor é um segredo que deve ser alimentado nas horas vagas alimentado nas horas de trabalho nas horas mais isoladas amor é uma ocupação de vinte e quatro horas com dois turnos pela mesma pessoa com desconfianças e descobertas com cegueiras e lumineiras amor de tocar no mais íntimo na beleza de um encanto escondido recôndito que todos no mundo fizeram pais de padres mães de bispos avós de cardeais amor agarrado intrometido de falus com prazer de alegria amor que não se sabe o que vai dar que nunca se sabe o que vai dar amor tão amor.
Ruben A., in 'Silêncio para 4'
sábado, 12 de março de 2011
Esta é a Forma Fêmea .
Esta é a forma fêmea:
dos pés à cabeça dela exala um halo divino,
ela atrai com ardente
e irrecusável poder de atração,
eu me sinto sugado pelo seu respirar
como se eu não fosse mais
que um indefeso vapor
e, a não ser ela e eu, tudo se põe de lado
— artes, letras, tempos, religiões,
o que na terra é sólido e visível,
e o que do céu se esperava
e do inferno se temia,
tudo termina:
estranhos filamentos e renovos
incontroláveis vêm à tona dela,
e a acção correspondente
é igualmente incontrolável;
cabelos, peitos, quadris,
curvas de pernas, displicentes mãos caindo
todas difusas, e as minhas também difusas,
maré de influxo e influxo de maré,
carne de amor a inturgescer de dor
deliciosamente,
inesgotáveis jactos límpidos de amor
quentes e enormes, trémula geléia
de amor, alucinado
sopro e sumo em delírio;
noite de amor de noivo
certa e maciamente laborando
no amanhecer prostrado,
a ondular para o presto e proveitoso dia,
perdida na separação do dia
de carne doce e envolvente.
Eis o núcleo — depois vem a criança
nascida de mulher,
vem o homem nascido de mulher;
eis o banho de origem,
a emergência do pequeno e do grande,
e de novo a saída.
Não se envergonhem, mulheres:
é de vocês o privilégio de conterem
os outros e darem saída aos outros
— vocês são os portões do corpo
e são os portões da alma.
A fêmea contém todas
as qualidades e a graça de as temperar,
está no lugar dela e movimenta-se
em perfeito equilíbrio,
ela é todas as coisas devidamente veladas,
é ao mesmo tempo passiva e activa,
e está no mundo para dar ao mundo
tanto filhos como filhas,
tanto filhas como filhos.
Assim como na Natureza eu vejo
minha alma refletida,
assim como através de um nevoeiro,
eu vejo Uma de indizível plenitude
e beleza e saúde,
com a cabeça inclinada e os braços
cruzados sobre o peito
— a Fêmea eu vejo.
Walt Whitman, in "Leaves of Grass"
sexta-feira, 11 de março de 2011
Porque é que os Homens não Compreendem as Mulheres
Tu estás convencida há vários anos de que eu não te compreendo. Esta é sempre a teoria das mulheres, que não são compreendidas, que não são queridas, que não são adoradas, as queixas montanhas grandes, queixas enormes, sempre a justificar uma infelicidade que lhes vem lá do fundo da criação do mundo, do útero, da terra, as mulheres reflectem o útero feminino da terra, um útero cheio de aflições, em conclusão, queixam-se de tudo então entre os quarenta e os cinquenta, esse útero funciona nas alturas, é um útero cósmico que já não é parte de uma mulher, pertence à mulher do mundo. Há muita verdade no que dizes, o homem desinteressa-se facilmente, depois do acto do amor, depois logo sacode as penas, arrebita, passa à frente, domina outro mundo, a mulher fica fechada, acanhada nesse encontro muito íntimo, nesse seu mais fundo dos fundos, na identidade uterina com a ideia da criação, da reprodução da génese, salta, salta, forma-se na mulher a visão do caos a que só ela pelo amor pode dar uma nova regra, pelo domínio da paixão, pela companhia, para isso tem de ser compreendida, ela julga que é compreendida, tem de justificar a sua infelicidade pela compreensão do amor, de um outro amor, a mulher busca no outro amor o amor definitivo, amor que nunca aparece, é o poder fantásmico de convicção, que rompe todas as barreiras, a mulher atira-se, não sabe onde nem como, é capaz dos maiores actos de heroísmo clandestino, aparece, vai, surge, abre-se, mostra o que é o amor, a sua entrega total.
Ruben A., in 'Silêncio para 4'
quinta-feira, 10 de março de 2011
A Falsa Emancipação da Mulher .
Actualmente, tem-se a pretensão de que a mulher é respeitada. Uns cedem-lhe o lugar, apanham-lhe o lenço: outros reconhecem-lhe o direito de exercer todas as funções, de tomar parte na administração, etc.; mas a opinião que têm dela é sempre a mesma - um instrumento de prazer. E ela sabe-o. Isso em nada difere da escravatura. A escravatura mais não é do que a exploração por uns do trabalho forçado da maioria. Assim, para que deixe de haver escravatura é necessário que os homens cessem de desejar usufruir o trabalho forçado de outrem e considerem semelhante coisa como um pecado ou vergonha. Entretanto, eles suprimem a forma exterior da escravatura, depois imaginam, persuadem-se de que a escravatura está abolida mas não vêem, não querem ver que ela continua a existir porque as pessoas procedem sempre de maneira idêntica e consideram bom e equitativo aproveitar o trabalho alheio. E desde que isso é julgado bom, torna-se inveitável que apareçam homens mais fortes ou mais astutos dispostos a passar à acção. A escravatura da mulher reside unicamente no facto de os homens desejarem e julgarem bom utilizá-la como instrumento de prazer. Hoje em dia, emancipam-na ou concedem-lhe todos os direitos iguais aos do homem, mas continua-se a considerá-la como um instrumento de prazer, a educá-la nesse sentido desde a infância e por meio da opinião pública. Por isso ela continua uma escrava, humilhada, pervertida, e o homem mantém-se um corruptor possuidor de escravos.
Leon Tolstoi, in 'Sonata a Kreutzer'
terça-feira, 8 de março de 2011
Dia internacional da Mulher.
segunda-feira, 7 de março de 2011
O Amor é Inevitável
(O Amor) É inevitável, faz parte da combustão da natureza, é força, mar, elemento, água, fogo, destruição, é atmosfera, respira-se, quando se morre abandona-se, o amor deixa, fica isolado, é um elemento, come-se, bebe-se, sustenta pão, pão diário para rico e pobre, pão que ilumina o forno do amassador, aparece nas condições mais estranhas, bicho que nasce, copula dentro de si mesmo, paira, espermatozóide e óvulo, as duas coisas ao mesmo tempo, amor é assim outro elemento fundamental da natureza, as pessoas vivem tanto com o amor, ou tão alheias do amor, que nem notam, raro percebem que o amor existe, raro percebem que respiram, que a água está, é indispensável, ninguém pode viver alheio aos elementos, ao amor.
Ruben A., in 'Silêncio para 4'
domingo, 6 de março de 2011
Preciso de ti.
Oiço o sussurro do Mar
meu coração bate
preciso de ti
preciso de te amar
beijar teus lábios rúbios
cor de escarlate...
Preciso do teu corpo escaldante
das tuas palavras do teu destino
do teu amor penetrante
que penetra em mim
do teu olhar constante
do teu cheiro a jasmim...
Preciso de ti
aonde estás
volta por favor
não sei em que caminho te perdi
volta para mim
não me deixes morrer de amor...
sábado, 5 de março de 2011
Reserva...
sexta-feira, 4 de março de 2011
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