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segunda-feira, 30 de novembro de 2009
As Oscilações da Personalidade.
Pretender que a nossa personalidade seja móvel e susceptível de grandes mudanças é, por vezes, noção um pouco contrária às idéias tradicionais atinentes à estabilidade do “eu”. A sua unidade foi durante muito tempo um dogma indiscutível. Factos numerosos vieram provar quanto esta ideia era fictícia.
O nosso “eu” é um total. Compõe-se da adição de inumeráveis “eu” celulares. Cada célula concorre para a unidade de um exército. A homogeneidade dos milhares de indivíduos que o compõem resulta somente de uma comunidade de acção que numerosas coisas podem destruir.
É inútil objectar que a personalidade dos seres parece, em geral, bastante estável. Se ela nunca varia, com efeito, é porque o meio social permanece mais ou menos constante. Se subitamente esse meio se modifica, como em tempo de revolução, a personalidade de um mesmo indivíduo poderá transformar-se por completo. Foi assim que se viram, durante o Terror, bons burgueses reputados pela sua brandura tornarem-se fanáticos sanguinários. Passada a tormenta e, por conseguinte, representando o antigo meio e o seu império, eles readquiriram sua personalidade pacifica. Desenvolvi, há muito tempo, essa teoria e mostrei que a vida dos personagens da Revolução era incompreensível sem ela.
De que elementos se compõe o “eu”, cuja síntese constitui a nossa personalidade? A psicologia é muda nesse particular. Sem pretender precisar muito, diremos que os elementos do “eu” resultam de um resíduo de personalidades ancestrais, isto é, criadas pela série completa das nossas existências anteriores. O “eu”, repito, não é uma unidade, mas o total dos milhões de vidas celulares das quais o organismo está formado. Elas podem provocar numerosas combinações.
Excitações emocionais violentas, certos estados patológicos observáveis nos médiuns, nos extáticos, nos indivíduos hipnotizados, etc., fazem variar essas combinações e, por conseguinte, determinam, pelo menos momentaneamente, no mesmo ente, uma personalidade diversa, inferior ou superior à superioridade ordinária. Todos possuímos possibilidades de acção que ultrapassam a nossa capacidade habitual e que certas circunstâncias virão despertar.
Gustave Le Bon, in "As Opiniões e as Crenças"
Profundidade...
domingo, 29 de novembro de 2009
Os Amantes
Os Amantes
Encheram profunda taça e envolveram-se em fervor.
Ficou-lhes na boca — presa ao crescente desejo
de mais beberem, de mais conhecerem — o sabor
da outra Vida maior, onde os levara o ensejo
de ultrapassarem a carne. Em solidão limitados,
num barco sem dia a dia, compromissos ou tratados,
singram velozes sem tempo, definidos pela estrela
que lhes indica, serena e nitidamente, o norte.
Encheram de novo a taça; incha mais a panda vela.
E para serem iguais, apenas lhes falta a Morte!
António Salvado, in "Difícil Passagem"
Margens.
sábado, 28 de novembro de 2009
O Livro dos Amantes .
Glorifiquei-te no eterno.
Eterno dentro de mim
fora de mim perecível.
Para que desses um sentido
a uma sede indefinível.
Para que desses um nome
à exactidão do instante
do fruto que cai na terra
sempre perpendicular
à humidade onde fica.
E o que acontece durante
na rapidez da descida
é a explicação da vida.
Harmonioso vulto que em mim se dilui.
Tu és o poema
e és a origem donde ele flui.
Intuito de ter. Intuito de amor
não compreendido.
Fica assim amor. Fica assim intuito.
Prometido.
Príncipe secreto da aventura
em meus olhos um dia começada e finita.
Onda de amargura numa água tranquila.
Flor insegura enlaçada no vento que a suporta.
Pássaro esquivo em meus ombros de aragem
reacendendo em cadência e em passagem
a lua que trazia e que apagou.
Dá-me a tua mão por cima das horas.
Quero-te conciso.
Adão depois do paraíso
errando mais nítido à distância
onde te exalto porque te demoras.
Toma o meu corpo transparente
no que ultrapassa tua exigência taciturna
Dou-me arrepiando em tua face
uma aragem nocturna.
Vem contemplar nos meus olhos de vidente
a morte que procuras
nos braços que te possuem para além de ter-te.
Toma-me nesta pureza com ângulos de tragédia.
Fica naquele gosto a sangue
que tem por vezes a boca da inocência.
Aumentámos a vida com palavras
água a correr num fundo tão vazio.
As vidas são histórias aumentadas.
Há que ser rio.
Passámos tanta vez naquela estrada
talvez a curva onde se ilude o mundo.
O amor é ser-se dono e não ter nada.
Mas pede tudo.
Tu pedes-me a noção de ser concreta
num sorriso num gesto no que abstrai
a minha exactidão em estar repleta
do que mais fica quando de mim vai.
Tu pedes-me uma parcela de certeza
um desmentido do meu ser virtual
livre no resultado de pureza
da soma do meu bem e do meu mal.
Deixa-me assim ficar. E tu comigo
sem tempo na viagem de entender
o que persigo quando te persigo.
Deixa-me assim ficar no que consente
a minha alma no gosto de reter-te
essencial. Onde quer que te invente.
Eis-me sem explicações
crucificada em amor:
a boca o fruto e o sabor.
Pusemos tanto azul nessa distância
ancorada em incerta claridade
e ficamos nas paredes do vento
a escorrer para tudo o que ele invade.
Pusemos tantas flores nas horas breves
que secam folhas nas árvores dos dedos.
E ficámos cingidos nas estátuas
a morder-nos na carne dum segredo.
Natália Correia, in "Poemas (1955)"
O Equilíbrio Humano .
As nossas opiniões são apenas suplementos da nossa existência e na maneira de pensar de uma pessoa pode ver-se o que lhe falta. Os indivíduos mais frívolos são os que se têm a si mesmos em grande consideração, e as pessoas de maior qualidade são apreensivas. O homem de vícios é descarado e o virtuoso é tímido. Deste modo tudo se equilibra: cada um de nós quer ser completo ou, pelo menos, quer ver-se como tal.
Johann Wolfgang von Goethe
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
A Beleza Maior é a que não se Vê
- Hoje, durante o meu passeio matinal, vi uma linda mulher... Meu Deus, que linda que ela era! (...)
- Sério, sr. Spinell? Descreva-ma então.
- Não, não posso! Dar-lhe-ia uma imagem imperfeita dela. Ao passar, mal a vi; na verdade, não a vi. Apercebi-me, porém, da sua sombra esfumada, e isso bastou para me excitar a imaginação e guardar dela uma imagem de beleza. Meu Deus, que linda imagem!
A mulher do sr. Klöterjahn sorriu.
- É essa a sua maneira de olhar para as mulheres bonitas, senhor Spinell?
- Sim, minha senhora, é; é muito melhor do que olhá-las fixamente na cara, com uma grosseira avidez da realidade, para no fim ficarmos com uma impressão falsa...
Thomas Mann, in "Tristão"
Sonhos de cores falsas.
Sonhos
que pintas o mundo
com cores falsas
que fazes do sono capacho
insónias
memórias,assombradas
trevas
de noites mal passadas.
Noites nublosas
no lumiar do desespero
sonhos distantes
que me intranquilizam
me metem medo...
Acorda
sonhar é viver o passado
vai,segue em frente
esquece os sonhos amaldiçoados
A vida é bela
vive o presente
o futuro é a felicidade...
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
A Gloriola do Jornal !
O jornal estende sobre o mundo as suas duas folhas, salpicadas de preto, como aquelas duas asas com que os iconografistas do século XV representavam a Luxúria ou a Gula: e o Mundo todo se arremessa para o jornal, se quer agachar sob as duas asas que o levem à gloriola, lhe espalhem o nome pelo ar sonoro. E é por essa gloriola que os homens se perdem, e as mulheres se aviltam, e os Políticos desmancham a ordem do Estado, e os Artistas rebolam na extravagância estética, e os Sábios alardeiam teorias mirabolantes, e de todos os cantos, em todos os géneros, surge a horda ululante dos charlatães... (Como me vim tornando altiloquente e roncante!...) Mas e a verdade, meu Bento! Vê quantos preferem ser injuriados a serem ignorados! (Homenzinhos de letras, poetisas, dentistas, etc.). O próprio mal apetece sofregamente as sete linhas que o maldizem. Para aparecerem no jornal, há assassinos que assassinam. Até o velho instinto da conservação cede ao novo instinto da notoriedade - e existe tal maganão, que ante um funeral convertido em apoteose pela abundância das coroas, dos coches e dos prantos oratórios, lambe os beiços, pensativo, e deseja ser o morto.
Eça de Queirós, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'
Quem me dera poder voar
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
O Mundo ...
O Mundo Real não Existe para o Homem Prático
Há duas maneiras de olhar as coisas, como há duas maneiras de as não olhar. Ou se olham pondo-nos de fora delas ou pondo-nos dentro delas. Só no segundo caso as vemos bem, porque só então nos vemos mal ou simplesmente nos perdemos a nós de vista. O primeiro ver é o do homem prático, o segundo, o do artista. Um e outro também divergem no modo de não ver as coisas. O primeiro porque simplesmente as não vê; o segundo porque não repara nelas. Ao contrário do que se supõe, o mundo real não existe para o homem prático: o que existe é a sua instrumentalização. Uma flor só lhe existe se a puser na lapela ou mesmo num jarro; como um pássaro só lhe é real se o tiver numa gaiola ou o comer frito.
Vergílio Ferreira, in "Conta-Corrente 2"
Sorriso vagabundo...
Sorrir
é pegar a vida pelos cornos
de sorriso rasgado
da tristeza á que fugir
sorria de orelha a orelha
sorridente
bem humorado
para toda a gente
Encare o mundo, contente
sempre a sorrir
mágoas passadas
não moem a vida
há que ir em frente
viver o presente
ser crente.
Rosas para todo o mundo
um lindo ramo de flores
para um vagabundo
que sem ter nada
é feliz
e sorri para toda a gente.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Contrastes Trágicos.
Quem não quer ver o que há de elevado num homem olha com maior agudeza para aquilo que nele é baixo e superficial – e assim se revela a si mesmo.
É bastante mau! Sempre a velha história! Quando se acaba de construir a casa nota-se que ao construí-la, sem dar por isso, se aprendeu algo que simplesmente se devia ter sabido absolutamente antes de – começar a construir. O eterno e maçador «tarde de mais!» - A melancolia de todo o terminado!...
Os homens de profunda tristeza denunciam-se quando são felizes: têm um modo de pegar na felicidade como se quisessem esmagá-la e sufocá-la, por ciúme – ah, sabem bem de mais que lhes foge!
Friedrich Nietzsche, in "Para Além de Bem e Mal"
Nos dois lados da vidraça.
Do outro lado da vidraça
chove copiosamente,
gente que passa
poças de água,
ondulantes
refletem a luz da lua,
enquadradas
no cinzento da rua.
Deste lado da vidraça,
olhar fixo
vidrado,
nada se passa
hoje,
é mais um dia
de saudade
fantasia.
Do outro lado da vidraça
o mundo não para,
gira
movimenta-se
sentimentos ,
tristezas,
alegrias,
na roda da vida
fria.
de uma mão cheia de incertezas.
Neste lado da vidraça
bátegas de água,
deslizam
sabor salgado,
lágrimas de um profundo sentir
chuva que me repassa,
saudade que se vai
e me faz sorrir...
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Conduta e Poesia
Quando o tempo nos vai comendo com o seu relâmpago quotidiano decisivo, as atitudes fundadas, as confianças, a fé cega se precipitam e a elevação do poeta tende a cair como o mais triste nácar cuspido, perguntamo-nos se já chegou a hora de envilecermos. A hora dolorosa de ver como o homem se sustém a puro dente, a puras unhas, a puros interesses. E como entram na casa da poesia os dentes e as unhas e os ramos da feroz árvore do ódio. É o poder da idade, ou proventura, a inércia que faz retroceder as frutas no próprio bordo do coração, ou talvez o «artístico» se apodere do poeta e, em vez do canto salobro que as ondas profundas devem fazer saltar, vemos cada dia o miserável ser humano defendendo o seu miserável tesouro de pessoa preferida?
Aí, o tempo avança com cinza, com ar e com água! A pedra que o lodo e a angústia morderam floresce com prontidão com estrondo de mar, e a pequena rosa regressa ao seu delicado túmulo de corola.
O tempo lava e desenvolve, ordena e continua.
E que fica então das pequenas podridões, das pequenas conspirações do silêncio, dos pequenos frios sujos da hostilidade? Nada, e na casa da poesia não permanece nada além do que foi escrito com sangue para ser escutado pelo sangue.
Pablo Neruda, in "Nasci para Nascer"
É já amanhã.
Dia Nacional da Cultura Científica em Constância
Dia 24 de Novembro
No próximo dia 24 de Novembro comemora-se o Dia Nacional da Cultura Científica, uma data que Constância vai assinalar com a dinamização de três iniciativas, que decorrerão entre as 10.00h e as 23.00H.
Das 10.00H às 13.00H, o Parque Ambiental de Santa Margarida recebe a iniciativa O Sol e a Água, uma actividade que pretende explorar dois temas: o Sol enquanto fonte de energia, com a construção de um pequeno forno solar; e a água – nutriente essencial à vida – através da realização de experiências acerca da utilização deste recurso. A Actividade O Sol e a Água tem como público-alvo os alunos do 5º ano da Escola Básica e Secundária Luís de Camões.
Destinado aos alunos do 7º ano da Escola Básica e Secundária Luís de Camões o evento O Sol e as Estrelas vai decorrer no Centro Ciência Viva de Constância, das 14.30H às 18.00H, o qual visa promover a exploração das características físicas da nossa estrela Sol e a comparação com as outras estrelas que fazem parte da nossa Galáxia.
À noite, entre as 21.00H e as 23.00H, destinado ao público em geral e aos alunos da EFA da Escola Básica e Secundária Luís de Camões, no Auditório da Casa-Memória de Camões, decorrerá Diálogo de Saberes, um encontro entre Ciência e a Poesia através da evocação do cientista e poeta Rómulo de Carvalho/António Gedeão, na data que assinala o dia do seu nascimento.
Por CMC
Voz dos sonhos.
sábado, 21 de novembro de 2009
Refúgio...
Palco da vida...
Enredos
são segredos
da alma.
Quando o espírito descansa
o corpo dorme,
a vida acalma.
Viver sem adrenalina
não vale nada,
com muito amor á mistura
sinceridade e ternura
sexo,
prazer,
e o resto que vier
é fogo que se quer.
É representar
neste palco da vida,
é seduzir
na embriaguês do amor,
é amar
é sentir um desejo ardente,
sublime
no refúgio do teu ninho
que existe na minha mente...
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
A Sociedade Destroça o Indivíduo
Trata-se dum conjunto, dum todo, a sociedade, e, podre, uma vez que é preciso contar com ela ao mesmo tempo que se não deve contar. Quer dizer, é como um conjunto estável, composto por elementos instáveis. Ora é impossível viver no interior, sem sofrer essa instabilidade, esse monte de mentiras. Surge então o medo de utilizar o mínimo pormenor que participe dessa instabilidade. É a revolta. Você duvida do valor das palavras, dos gestos, do que representam as palavras, das ideias, das simples associações de ideias, dos sonhos e até da realidade, das sensações mais claras, mais agudas. Você duvida mesmo da sua dúvida, da organização que toma, da forma que adopta. Não lhe fica nada, nada. Já não é nada, é um camaleão, um eco, uma sombra. Isso é obra da sociedade, compreende?
J.-M. G. Le Clézio, in 'A Febre'
Margens que me oprimem...
Rios onde brinquei
amei
cresci...
Dois rios distantes
armoniosos.
Tejo
sublime
nobre
grandioso.
Zêzere
límpido
cristalino
majestoso.
Águas que me refrescaram.
Lavei a minha alma
salgueiros verdejantes
nas tuas sombras
descansei,
exaltei meus pecados
desfrutando a vida com calma...
Recordações singelas
viagens envolventes
em barcos que navegam
na força das vossas correntes.
Eternizar momentos
brilhantes
entre mil peripécias
hei-de sempre recordar
estes rios deslumbrantes.
Tejo segue o teu leito
ronda castelos
inunda Lezírias
corre
serpenteia
vai...
vai para o mar com toda a tua ânsia
Zêzere que abortas aqui
nunca te arrependas de ficar
nesta linda vila de Constância.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
O Juízo Final
Chegou o miserável milionário no céu e, impacientemente, esperou a sua vez de ser julgado. Introduziram-no numa sala, noutra sala, noutra sala, até que se viu frente a uma luz ofuscante, na qual pouco a pouco foi dintinguindo a figura santa do pai dos Homens. Em voz tonitroante este, tendo à direita, Pedro, e, à esquerda, uma figura que ele não conhecia, julgou sumariamente dois outros pecadores que estavam à sua frente. E, afinal, dirigiu-se a ele:
- Que fez você de bom na sua vida ?
- Bem, eu nasci, cresci, amei, casei, tive filhos, vivi.
- Ora - disse o Senhor - isso são actos sociais e biológicos a que você estava destinado. Quero saber que bondade específica e determinada você teve para com o seu semelhante.
- Bem - disse o milionário - eu criei indústrias, comprei fazendas, dei emprego a muita gente, melhorei as condições sociais de muita gente.
- Não, isso não serve - disse o Todo-Poderoso - essas acções estavam implícitas ao acto de você enriquecer. Você as praticou porque precisava viver melhor. Não foram intrinsecamente boas acções, desprendidas, não servem.
O milionário escarafunchou o cérebro e não encontrou nada. Em verdade, passara uma vida egoísta, pensando apenas em si mesmo. Nunca o preocupara seu semelhante, nunca olhara para o ser humano a seu lado senão como uma fonte de lucro para as suas indústrias. Mas, de repente, lemboru-se das obras de filantropia.
- Ah - disse, puxando uma caderneta - aqui está. Uma vez dei cem cruzeiros para uma velhinha da Casa dos Artistas, outra vez contribuí com duzentos cruzeiros para o Hospital dos Alienados e outra vez contribuí com quinhentos cruzeiros para a Fundação das Operárias de Jesus.
- Só ? - perguntou Deus.
- Só - disse o milionário contrafeito.
- Josué! - gritou o Todo-Poderoso -, dê oitocentos cruzeiros ao cavalheiro aqui e que vá para o Inferno.
Moral: Amor com amor se paga e o dinheiro com dinheiro também.
Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"
estradas...
Estrada fora
percorro o meu caminho,
o mundo não para,
gira.
Vou por caminhos que me levam,
outros me trazem
Existem várias direcções:
No levar,
no trazer,
no amor
e no prazer.
Cruzo-me com a vida,
solitária,outras vezes nem tanto...
Cruzamentos que me afastam,
me empurra
para a solidão.
Sigo...
Vou não vou.
Semáforos que se acendem
outros que se apagam.
Um turbilhão de idéias,
a vida sempre presente,
e o mundo girando.
Um rumo,
esperança
partir,
ir,mas não fugir
ou ficar para sempre
nesta angústia constante!
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
A Alienação Parental
vai ser tema de debate em Constância no próximo dia 25 de Novembro
• Maria Saldanha Pinto Ribeiro, Ana Baptista e Fátima Duarte são as oradoras convidadas
No próximo dia 25 de Novembro a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Constância vai dinamizar a 5º Encontro Confluências, subordinado ao tema A Alienação Parental, uma iniciativa que decorre no Auditório do Cine-Teatro Municipal de Constância, pelas 14.30H.
A Sessão de Abertura do 5º Encontro Confluências vai contar com a presença do Dr. António Marques, Presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Constância e do Dr. Máximo Ferreira, Presidente da Câmara Municipal de Constância.
A Dra. Ana Baptista, Jurista e a Dra. Fátima Duarte, Psicóloga, ambas da Comissão Nacional de Crianças e Jovens em Risco serão as duas oradoras do primeiro painel. No que concerne ao segundo e último painel terá como oradora a Dra. Maria Saldanha Pinto Ribeiro, Psicóloga, Mediadora Familiar e Presidente do Instituto Português de Mediação Familiar, ao que se seguirá um espaço de debate.
A participação no 5º Encontro Confluências – A Alienação Parental é gratuita, devendo os interessados proceder à respectiva inscrição até ao próximo dia 19 de Novembro, através do telefone 249 736 476, do número de telemóvel 969 856 177 ou através do e-mail cpcj.constancia@gmail.com.
Por CMC
Literatura.
Ilusões Perdidas”
“Ora aqui está ele, um dos monstros sagrados da Literatura de todos os tempos. Morreu com 49 anos, media um metro e meio, escrevia da meia-noite às oito da manhã, rodeado de candelabros e alimentado a café, e deixou uma obra única.
Fica-se cheio de admiração pela capacidade que este homenzinho tem de construir um mundo, ele que considerava o romance a ‘História Privada das Nações’ e achava indispensável ter remexido em toda a vida social para ser um verdadeiro escritor. Depois de Balzac a Literatura evoluiu imenso mas o seu lugar é eterno, seja o que for que a palavra signifique.”
Acordar.
Amanhece,
acordo para a vida.
Fecho a montra dos sonhos,
aceito as coisas,
nada deito fora,
guardo tudo dentro de mim...
Passado,
distante,
ontem.
Ao acordar,tudo faz sentido
Quando é de manhã,torno-me parte dessa manhã
Sonhos
pensamentos
ilusões
neste mundo cão
onde ao abrir os olhos
tudo o que quero,
é não saber viver
sem ser o que sou,
sentir-me livre
neste novo amanhecer...
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Boas Notícias...já não era sem tempo!
Um estudo recente conduzido pela Universidade Técnica de Lisboa mostrou que cada português caminha em média 440 km por ano.
Outro estudo feito pela Associação Médica de Coimbra revelou que, em média, o português bebe 26 litros de Vinho por ano.
Conclusão:
Isto significa que o português, em média, gasta 5,9 litros aos 100km, ou seja ... é económico!
...Afinal, nem tudo está mal, neste País!
Não se nasce leitor
Não se nasce leitor: literatura para a infância e juventude
Acção de Formação em Constância
• 27 e 28 de Novembro
Não se nasce leitor: literatura para a infância e juventude, é o título da acção de formação que vai decorrer em Constância, nos próximos dias 27 e 28 de Novembro, uma organização do Município de Constância, através da Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill, com o apoio da Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas.
Os objectivos desta acção de formação são os seguintes: conhecimento de literacia em Portugal; dominar as premissas que norteiam a promoção da leitura; aprofundar os saberes relativos à literatura existente em Portugal e no estrangeiro para crianças e jovens ; animar uma colecção de livros ou uma pequena biblioteca.
Dinamizada por Rui Marques Veloso, a acção destina-se a animadores sócio-culturais, bibliotecários, professores, educadores e técnicos de biblioteca. A iniciativa terá a duração de 15 horas e decorrerá na sala polivalente da Biblioteca Municipal Alexandre O’Neill e no Cine-Teatro Municipal de Constância, a partir das 9.00H.
As inscrições para esta acção são limitadas, até ao número máximo de 25 participantes, e podem efectuar-se até ao dia 20 de Novembro na Biblioteca Municipal Alexandre O’Neill.
Para informações ou esclarecimentos adicionais devem os interessados contactar a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill através do número de telefone 249 739 367 ou via correio electrónico para biblioteca@cm-constancia.pt.
Leia mais. Viva mais.
Por CMC
Túnel...
Escavando,
entro nas minhas entranhas
procuro algo gravado
no fogo da minha alma.
Não sinto dentro de mim,
o que me faz ser eu,
apenas escuridão.
Luz,
com o teu calor,faz derreter
a frieza, que envolve
meu coração.
Vai ao centro do labirinto
abraçar o vazio,
que lá bem no fundo,eu sinto
perdido ,
amedrontado
e frio.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
No obscuro desejo .
no obscuro desejo,
no incerto silêncio,
nos vagares repetidos,
na súbita canção
que nasce como a sombra
do dia agonizante,
quando empalidece
o exterior das coisas,
e quando não se sabe
se por dentro adormecem
ou vacilam, e quando
se prefere não chegar
a sabê-lo, a não ser,
pressentindo-as, ainda
um momento, na aresta
indizível do lusco-fusco.
Vasco Graça Moura
Alma.
Emoções sentidas.
domingo, 15 de novembro de 2009
Profecia
Nem me disseram ainda
para o que vim.
Se logro ou verdade,
se filho amado ou rejeitado.
Mas sei
que quando cheguei
os meus olhos viram tudo
e tontos de gula ou espanto
renegaram tudo
— e no meu sangue veias se abriram
noutro sangue...
A ele obedeço,
sempre,
a esse incitamento mudo.
Também sei
que hei-de perecer, exangue,
de excesso de desejar;
mas sinto,
sempre,
que não posso recuar.
Hei-de ir contigo
bebendo fel, sorvendo pragas,
ultrajado e temido,
abandonado aos corvos,
com o pus dos bolores
e o fogo das lavas.
Hei-de assustar os rebanhos dos montes
ser bandoleiro de estradas.
— Negro fado, feia sina,
mas não sei trocar a minha sorte!
Não venham dizer-me
com frases adocicadas
(não venham que os não oiço)
que levo caminho errado,
que tenho os caminhos cerrados
à minha febre!
Hei-de gritar,
cair, sofrer
— eu sei.
Mas não quero ter outra lei,
outro fado, outro viver.
Não importa lá chegar...
O que eu quero é ir em frente
sem loas, ópios ou afagos
dos lábios que mentem.
É esta, não é outra, a minha crença.
Raios vos partam, vós que duvidais,
raios vos partam, cegos de nascença!
Fernando Namora, in "Relevos"
Objectivos de Vida
Não te deixes distrair com os incidentes que te chegam de fora! Reserva-te um tempo livre para aprender qualquer coisa de bom e deixa-te de flanar sem rumo! Já é tempo de te guardares doutra sorte de vagabundeio. Bem loucos, com efeito, são aqueles que, por serem topa-a-tudo, sentem o cansaço da vida e não têm um fim a que dirijam os seus esforços e, para o dizer de uma vez, as suas ideias.
Marco Aurélio (Imperador Romano), in "Pensamentos"
sábado, 14 de novembro de 2009
Todos Nós...
Todos Nós Hoje Nos Desabituamos do Trabalho de Verificar .
Todos nós hoje nos desabituamos, ou antes nos desembaraçamos alegremente, do penoso trabalho de verificar. É com impressões fluídas que formamos as nossas maciças conclusões. Para julgar em Política o facto mais complexo, largamente nos contentamos com um boato, mal escutado a uma esquina, numa manhã de vento. Para apreciar em Literatura o livro mais profundo, atulhado de ideias novas, que o amor de extensos anos fortemente encadeou—apenas nos basta folhear aqui e além uma página, através do fumo escurecedor do charuto. Principalmente para condenar, a nossa ligeireza é fulminante. Com que soberana facilidade declaramos—«Este é uma besta! Aquele é um maroto!» Para proclamar—«É um génio!» ou «É um santo!» of erecemos uma resistência mais considerada. Mas ainda assim, quando uma boa digestão ou a macia luz dum céu de Maio nos inclinam à benevolência, também concedemos bizarramente, e só com lançar um olhar distraído sobre o eleito, a coroa ou a auréola, e aí empurramos para a popularidade um maganão enfeitado de louros ou nimbado de raios. Assim passamos o nosso bendito dia a estampar rótulos definitivos no dorso dos homens e das coisas. Não há acção individual ou colectiva, personalidade ou obra humana, sobre que não estejamos prontos a promulgar rotundamente uma opinião bojuda E a opinião tem sempre, e apenas, por base aquele pequenino lado do facto, do homem, da obra, que perpassou num relance ante os nossos olhos escorregadios e fortuitos. Por um gesto julgamos um carácter: por um carácter avaliamos um povo.
Eça de Queirós, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'
Limite.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Refúgio.
Quarto velho,distante no tempo
refúgio.
Olho o mar nocturno,
distâncias
metáforas que nos aproximam,
solidão.
Mar que me embala,
recordação,
infância.
Refugiu-me
nada vejo
nada tenho.
Metáforas ajudam a eliminar,
o que nos separa...
Quando a lua fica azul
tudo escurece
desaparece
tudo acaba.
No meu quarto velho,
distante
vazio
entre quatro paredes
escondo-me
reduzindo as distâncias
procuro novos caminhos
novas estradas...
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
A Voz que Nos Rasgou por Dentro .
De onde vem - a voz que
nos rasgou por dentro, que
trouxe consigo a chuva negra
do outono, que fugiu por
entre névoas e campos
devorados pela erva?
Esteve aqui — aqui dentro
de nós, como se sempre aqui
tivesse estado; e não a
ouvimos, como se não nos
falasse desde sempre,
aqui, dentro de nós.
E agora que a queremos ouvir,
como se a tivéssemos re-
conhecido outrora, onde está? A voz
que dança de noite, no inverno,
sem luz nem eco, enquanto
segura pela mão o fio
obscuro do horizonte.
Diz: "Não chores o que te espera,
nem desças já pela margem
do rio derradeiro. Respira,
numa breve inspiração, o cheiro
da resina, nos bosques, e
o sopro húmido dos versos."
Como se a ouvíssemos.
Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas"
O Talento na Juventude e na Velhice.
Nada menos exacto do que supor que o talento constitui privilégio da mocidade. Não. Nem da mocidade, nem da velhice. Não se é talentoso por se ser moço, nem genial por se ser velho. A certidão de idade não confere superioridade de espírito a ninguém. Nunca compreendi a hostilidade tradicional entre velhos e moços (que aliás enche a história das literaturas); e não percebo a razão por que os homens se lançam tantas vezes recíprocamente em rosto, como um agravo, a sua velhice ou a sua juventude.
Ser idoso não quer dizer que se seja necessáriamente intolerante e retrógado; e engana-se quem supuser que a mocidade, por si só, constitui garantia de progresso ou de renovação mental. As grandes descobertas que ilustram a história da ciência e contribuiram para o progresso humano são, em geral, obra dos velhos sábios; e a mocidade literária, negando embora sistemáticamente o passado, é nele que se inspira, até que o escritor adquire (quando adquire) personalidade própria.
(...) A mocidade, em geral, não cria; utiliza, transformando-o, o legado que recebeu. Juventude e velhice não se opõem; completam-se na harmonia universal dos seres e das coisas. A vida não é só o entusiasmo dos moços; nem só a reflexão dos velhos; não está apenas na audácia de uns, nem apenas na experiência dos outros; realiza-se pela magnífica integração das virtudes contrárias, sem a qual não seria possível, em todo o seu esplendor, a marcha da humanidade. Que se ganha em cavar um abismo entre mocidade e velhice, se uma é, fatalmente, o prolongamento da outra; se o que passa de mão em mão é, afinal, o mesmo facho aceso, como na corrida ritual da Grécia antiga; e se, bem vistas as coisas, não está de nenhum modo provado que os novos sejam intelectualmente os mais novos, e os velhos os mais velhos?
(...) Como admitir o divórcio entre novos e velhos - invenção antinatural dos conventículos literários de todos os tempos -, se os velhos têm nas novas gerações, penhor radioso do futuro, o instrumento de compreensão e de difusão da sua obra, e se os novos devem aos velhos a formação do seu espírito, a educação da sua sensibilidade e a opulenta capitalização de riquezas da língua em que se expressam?
A paz entre idades sucederá um dia, decerto, à paz entre as nações - quando a velhice egoísta reconhecer, finalmente, que não deve menosprezar os moços, antes facilitar-lhe o caminho da vida, e quando, por seu turno, a juventude impaciente chegar à convicção de que não é atropelando nem injuriando que se vence, e de que, quando os jovens se instalaram no planeta - já os velhos o habitavam.
Júlio Dantas, in "Páginas de Memórias"
Insónias.
Vagueio pela noite
ao acaso dos meus sonhos,
insónias
trevas
escuridão.
As formas se esvanecem,
ténuas.
Fecho os olhos,em vão.
Imagens ofuscam-me a mente,
memórias passadas
distantes.
Fragmentos de vida,
desfeitos
destroçados,
calados para sempre...
Procuro no meu interior
outra maneira de sonhar
rever,
imaginar
o meu novo amor.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Os Arlequins - Sátira
Musa, depõe a lira!
Cantos de amor, cantos de glória esquece!
Novo assunto aparece
Que o gênio move e a indignação inspira.
Esta esfera é mais vasta,
E vence a letra nova a letra antiga!
Musa, toma a vergasta,
E os arlequins fustiga!
Como aos olhos de Roma,
— Cadáver do que foi, pávido império
De Caio e de Tibério, —
O filho de Agripina ousado assoma;
E a lira sobraçando,
Ante o povo idiota e amedrontado,
Pedia, ameaçando,
O aplauso acostumado;
E o povo que beijava
Outrora ao deus Calígula o vestido,
De novo submetido
Ao régio saltimbanco o aplauso dava.
E tu, tu não te abrias,
Ó céu de Roma, à cena degradante!
E tu, tu não caías,
Ó raio chamejante!
Tal na história que passa
Neste de luzes século famoso,
O engenho portentoso
Sabe iludir a néscia populaça;
Não busca o mal tecido
Canto de outrora; a moderna insolência
Não encanta o ouvido,
Fascina a consciência!
Vede; o aspecto vistoso,
O olhar seguro, altivo e penetrante,
E certo ar arrogante
Que impõe com aparências de assombroso;
Não vacila, não tomba,
Caminha sobre a corda firme e alerta:
Tem consigo a maromba
E a ovação é certa.
Tamanha gentileza,
Tal segurança, ostentação tão grande,
A multidão expande
Com ares de legítima grandeza.
O gosto pervertido
Acha o sublime neste abatimento,
E dá-lhe agradecido
O louro e o monumento.
Do saber, da virtude,
Logra fazer, em prêmio dos trabalhos,
Um manto de retalhos
Que a consciência universal ilude.
Não cora, não se peja
Do papel, nem da máscara indecente,
E ainda inspira inveja
Esta glória insolente!
Não são contrastes novos;
Já vem de longe; e de remotos dias
Tornam em cinzas frias
O amor da pátria e as ilusões dos povos.
Torpe ambição sem peias
De mocidade em mocidade corre,
E o culto das idéias
Treme, convulsa e morre.
Que sonho apetecido
Leva o ânimo vil a tais empresas?
O sonho das baixezas:
Um fumo que se esvai e um vão ruído;
Uma sombra ilusória
Que a turba adora ignorante e rude;
E a esta infausta glória
Imola-se a virtude.
A tão estranha liça
Chega a hora por fim do encerramento,
E lá soa o momento
Em que reluz a espada da justiça.
Então, musa da história,
Abres o grande livro, e sem detença
À envilecida glória
Fulminas a sentença.
Machado de Assis, in 'Crisálidas'
O Socorro
Ele foi cavando, foi cavando, cavando, pois sua profissão - coveiro - era cavar. Mas, de repente, na distracção do ofício que amava, percebeu que cavara de mais. Tentou sair da cova e não conseguiu. Levantou o olhar para cima e viu que, sozinho, não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enlouqueceu de gritar, cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardas. Bateu o frio da madrugada e, na noite escura, não se ouvia mais um som humano, embora o cemitério estivesse cheio dos pipilos e coaxares naturais dos matos. Só pouco depois da meia-noite é que lá vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça ébria apareceu lá em cima, perguntou o que havia: «O que é que há?»
O coveiro então gritou, desesperado: «Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível!». «Mas coitado!» - condoeu-se o bêbado. - «Tem toda razão de estar com frio.
Alguém tirou a terra toda de cima de você, meu pobre mortinho!». E, pegando na pá, encheu-a de terra e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.
Moral: Nos momentos graves é preciso verificar muito bem para quem se apela
Millôr Fernandes, in 'Pif-Paf'
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