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sábado, 28 de novembro de 2009

O Livro dos Amantes .





Glorifiquei-te no eterno.
Eterno dentro de mim
fora de mim perecível.
Para que desses um sentido
a uma sede indefinível.

Para que desses um nome
à exactidão do instante
do fruto que cai na terra
sempre perpendicular
à humidade onde fica.

E o que acontece durante
na rapidez da descida
é a explicação da vida.


Harmonioso vulto que em mim se dilui.
Tu és o poema
e és a origem donde ele flui.
Intuito de ter. Intuito de amor
não compreendido.
Fica assim amor. Fica assim intuito.
Prometido.


Príncipe secreto da aventura
em meus olhos um dia começada e finita.
Onda de amargura numa água tranquila.
Flor insegura enlaçada no vento que a suporta.
Pássaro esquivo em meus ombros de aragem
reacendendo em cadência e em passagem
a lua que trazia e que apagou.


Dá-me a tua mão por cima das horas.
Quero-te conciso.
Adão depois do paraíso
errando mais nítido à distância
onde te exalto porque te demoras.


Toma o meu corpo transparente
no que ultrapassa tua exigência taciturna
Dou-me arrepiando em tua face
uma aragem nocturna.

Vem contemplar nos meus olhos de vidente
a morte que procuras
nos braços que te possuem para além de ter-te.

Toma-me nesta pureza com ângulos de tragédia.
Fica naquele gosto a sangue
que tem por vezes a boca da inocência.

Aumentámos a vida com palavras
água a correr num fundo tão vazio.
As vidas são histórias aumentadas.
Há que ser rio.

Passámos tanta vez naquela estrada
talvez a curva onde se ilude o mundo.
O amor é ser-se dono e não ter nada.
Mas pede tudo.

Tu pedes-me a noção de ser concreta
num sorriso num gesto no que abstrai
a minha exactidão em estar repleta
do que mais fica quando de mim vai.

Tu pedes-me uma parcela de certeza
um desmentido do meu ser virtual
livre no resultado de pureza
da soma do meu bem e do meu mal.

Deixa-me assim ficar. E tu comigo
sem tempo na viagem de entender
o que persigo quando te persigo.

Deixa-me assim ficar no que consente
a minha alma no gosto de reter-te
essencial. Onde quer que te invente.

Eis-me sem explicações
crucificada em amor:
a boca o fruto e o sabor.


Pusemos tanto azul nessa distância
ancorada em incerta claridade
e ficamos nas paredes do vento
a escorrer para tudo o que ele invade.

Pusemos tantas flores nas horas breves
que secam folhas nas árvores dos dedos.
E ficámos cingidos nas estátuas
a morder-nos na carne dum segredo.

Natália Correia, in "Poemas (1955)"

4 comentários:

AFRICA EM POESIA disse...

MANUEL

A altura foi má mas eu consigo sempre... mesmo debilitada...
O meu Livro
MAGIA DE NATAL está quase pronto.
Conto fazer o lançamento no próximo sábado.
É mais um sonho concretizado

ACHADOS


Pedras e pedrinhas...
Encontro no meu caminho...


Pérolas e diamantes...
Encontro nas vitrinas...


Ostras e ostrinhas...
Encontro junto à praia...


E, não encontro...
O que procuro...


Mas... vou procurar...
Porque sei que vou achar...


LILI LARANJO

Whispers disse...

Bonito poema.
Pusemos palavras soltas
Umas ditas, outras ainda por dizer
Construímos pontes invisíveis,
Entre almas que não se conhecem
Se dão a mão e ficamos amigos
Amigos eternos do coração
Mil beijos
Rachel

Rosa disse...

Muito bonito!!
Bjs e Bom Fim de Semana

Anónimo disse...

Bonita Homenagem a Natália Correia!

Poetisa que sempre admirei!

Beijos