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sexta-feira, 3 de abril de 2009

O beijo.


Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto....

Olavo Bilac

Lenda.


Conta uma lenda dos índios sioux que, certa vez, Touro Bravo e Nuvem azul chegaram de mãos dadas à tenda do velho feiticeiro da tribo e pediram:

- Nós nos amamos e vamos nos casar. Mas nos amamos tanto que queremos um conselho que nos garanta ficar sempre juntos, que nos assegure estar um ao lado do outro até a morte. Há algo que possamos fazer?

E o velho, emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:

- Há o que possa ser feito, ainda que sejam tarefas muito difíceis. Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte da aldeia apenas com uma rede, caçar o falcão mais vigoroso e trazê-lo aqui, com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro Bravo, deves escalar a montanha do trono; lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias. Somente com uma rede deverás apanhá-la, trazendo-a para mim viva!

Os jovens se abraçaram com ternura e logo partiram para cumprir a missão.
No dia estabelecido, na frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves.

O velho tirou-as dos sacos e constatou que eram verdadeiramente formosos exemplares dos animais que ele tinha pedido.
E agora, o que faremos? Os jovens perguntaram.
-Peguem as aves e amarrem uma à outra pelos pés com essas fitas de couro. Quando estiverem amarradas, soltem-nas para que voem livres.

Eles fizeram o que lhes foi ordenado e soltaram os pássaros. A águia e o falcão tentaram voar, mas conseguiram apenas saltar pelo terreno.

Minutos depois, irritadas pela impossibilidade do vôo, as aves arremessaram-se uma contra a outra, bicando-se até se machucar.
Então o velho disse:

-Jamais esqueçam o que estão vendo, esse é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão. Se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se como também, cedo ou tarde, começarão a machucar um ao outro.

Se quiserem que o amor entre vocês perdure, voem juntos, mas jamais amarrados.
Liberte a pessoa que você ama para que ela possa voar com as próprias asas.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Dia Internacional do Livro Infantil.



Ler,dá saúde e faz crescer!

Sobrevivência.


Na África todas as manhãs, a mais lenta das gazelas acorda sabendo que deve conseguir correr mais depressa do que o mais rápido
dos leões se quiser se manter viva.
E todas as manhãs o mais lento dos leões acorda sabendo que deve correr mais depressa do que a mais rápida das gazelas, se ele não quiser morrer de fome.

Moral da História: Não faz diferença se você é a gazela ou o leão, quando o sol nascer " comece a correr "!

A Terra.




Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.

Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.

Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!

Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.

Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!

E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.

Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!

A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.

Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!

Miguel Torga.

Ondas de Solidão.



Se possuísse uma canoa e um papagaio, podia considerar-me realmente como um Robinson Crusoé, desamparado na sua ilha. Há, é verdade, em roda de mim uns quatro ou cinco milhões de seres humanos. Mas, que é isso? As pessoas que nos não interessam e que se não interessam por nós, são apenas uma outra forma da paisagem, um mero arvoredo um pouco mais agitado. São, verdadeiramente como as ondas do mar, que crescem e morrem, sem que se tornem diferenciáveis uma das outras, sem que nenhuma atraia mais particularmente a nossa simpatia enquanto rola, sem que nenhuma, ao desaparecer, nos deixe uma mais especial recordação. Ora estas ondas, com o seu tumulto, não faltavam decerto em torno do rochedo de Robinson - e ele continua a ser, nos colégios e conventos, o modelo lamentável e clássico da solidão.

Eça de Queirós, in 'Correspondência'

quarta-feira, 1 de abril de 2009

1 de Abril.

Dia das mentiras.

Teatro!


Para grandes amigos aplausos!!! Para os pequenos e os que ainda nao vieram...Que se tornem grandes!!!
E para os inimigos que se fechem as cortinas...
...Porque a vida é um teatro e nós temos que aproveitar o que há de melhor nela.

Quanto de ti, Amor...


Quanto de ti, Amor...

Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço
em que de penetrar-te me senti perdido
no ter-te para sempre -
Quanto de ter-te me possui em tudo
o que eu deseje ou veja não pensando em ti
no abraço a que me entrego -
Quanto de entrega é como um rosto aberto,
sem olhos e sem boca, só expressão dorida
de quem é como a morte -
Quanto de morte recebi de ti,
na pura perda de possuir-te em vão
de amor que nos traiu -
Quanta traição existe em possuir-se a gente
sem conhecer que o corpo não conhece
mais que o sentir-se noutro -
Quanto sentir-te e me sentires não foi
senão o encontro eterno que nenhuma imagem
jamais separará -
Quanto de separados viveremos noutros
esse momento que nos mata para
quem não nos seja e só -
Quanto de solidão é este estar-se em tudo
como na auséncia indestrutível que
nos faz ser um no outro -
Quanto de ser-se ou se não ser o outro
é para sempre a única certeza
que nos confina em vida -
Quanto de vida consumimos pura
no horror e na miséria de, possuindo, sermos
a terra que outros pisam -
Oh meu amor, de ti, por ti, e para ti,
recebo gratamente como se recebe
não a morte ou a vida, mas a descoberta
de nada haver onde um de nós não esteja.



Jorge de Sena
in Visão Perpétua

terça-feira, 31 de março de 2009

100 Horas de Astronomia .



Iniciativa Mundial em Constância de 2 a 4 de Abril
De 2 a 4 de Abril Constância recebe a iniciativa mundial 100 Horas de Astronomia, integrada nas Comemorações do Ano Internacional da Astronomia, um evento que decorrerá no Centro Ciência de Constância – Parque de Astronomia.

100 Horas de Astronomia, é uma iniciativa que engloba Workshops, Palestras, Visitas Orientadas, Sessões de Planetário, Observações do Sol no Laboratório de Heliofísica, Observações do Céu Nocturno e um Curso sobre noções elementares de Astronomia.

Para participar nas 100 Horas de Astronomia, ou para mais informações sobre o evento devem os interessados contactar o Centro Ciência Viva de Constância – Parque de Astronomia de Constância, através do telefone 249 739 066, ou via e-mail para info@constancia.cienciaviva.pt.
Por CMC

Poema anónimo.



Vais até à nudez estreme dos sentidos
e nem vês que apagas o azul
desta água entardecida
entre a exacta ave circular
e a carne viva das palavras
que fluem da página dorida.

E o círculo da ave
é tão interior
na alegria da luz
que a albufeira retém o silêncio solar
até que se esgote o policrómico rumor
do poema que estás a desfiar.

Mas nenhuma água é tão perfeita e livre,
tão povoada de voos azuis,
tão compacta de sons incandescentes
como a que ressuma na obscuridade
onde os meus olhos se recolhem
de súbito inexistentes.

É que rente à ferida feliz
que é todo o meu corpo
está o lume do deslumbramento mais atroz
que fere talvez irremediavelmente
se eu não conseguir por algum tempo
receber apenas a tua voz.


(Poeta anónimo, in "Immoderato Instabile"

O nosso eu!


Uma alma gêmea é alguém cujas fechaduras coincidem com nossas chaves e cujas chaves coincidem com nossas fechaduras. Quando nos sentimos seguros a ponto de abrir as fechaduras, surge o nosso eu mais verdadeiro e podemos ser completa e honradamente quem somos. Cada um descobre a melhor parte do outro.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil em Constância



Dia 2 de Abril
O Município de Constância, através da Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill, vai assinalar o Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil, que se comemora a 2 de Abril (data do nascimento de Hans Christian Andersen), com a realização de uma peça de teatro infantil.

Nesta peça infantil de Maria Alberta Menéres, O que é que aconteceu na terra dos Procópios, a animação e as descobertas são constantes. As personagens pretendem mostrar a magia das pequeninas coisas de todos os dias: como um copo transparente, uma vulgar cadeira de madeira ou um misterioso saco de estopa.

Com esta iniciativa, pretende-se sensibilizar as crianças para a importância dos livros e da leitura no seu desenvolvimento e ao mesmo tempo valorizar e divulgar a qualidade da literatura infantil portuguesa.

Aberto à comunidade em geral, esta actividade está agendada para o dia 2 de Abril (quinta-feira) às 10.30H e às 14.30H na Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill, sendo obrigatória uma inscrição prévia, para participar nesta iniciativa.

Para informações ou esclarecimentos adicionais contactar a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill através do número de telefone 249 739 367 ou via correio electrónico para biblioteca@cm-constancia.pt.


Leia mais. Viva mais.


Por CMC

O Encontro.





Como se um raio mordesse

meu corpo pêro rosado

e o namorado viesse

ou em vez do namorado



um novilho atravessasse

meus flancos de seda branca

e o trajecto me deixasse

uma açucena na anca



como se eu apenas fosse

o efeito de um feitiço

um astro me desse um couce

e eu não sofresse com isso



como se eu já existisse

antes do sol e da lua

e se a morte me despisse

eu não me sentisse nua



como se deus cá em baixo

fosse um cigano moreno

como se deus fosse macho

e as minhas coxas de feno



como se alguém dos espaços

me desse o nome de flor

ou me deixasse nos braços

este cordeiro de amor

Natália Correia.

poesia dos rios.


"O mistério

dos rios

é que eles passam

por dentro

de nós

e só depois

deságuam no mar".

Amor - O Interminável Aprendizado


Criança, ele pensava: amor, coisa que os adultos sabem. Via-os aos pares namorando nos portões enluarados se entrebuscando numa aflição feliz de mãos na folhagem das anáguas. Via-os noivos se comprometendo à luz da sala ante a família, ante as mobílias; via-os casados, um ancorado no corpo do outro, e pensava: amor, coisa-para-depois, um depois-adulto-aprendizado.

Se enganava.

Se enganava porque o aprendizado de amor não tem começo nem é privilégio aos adultos reservado. Sim, o amor é um interminável aprendizado.

Por isto se enganava enquanto olhava com os colegas, de dentro dos arbustos do jardim, os casais que nos portões se amavam. Sim, se pesquisavam numa prospecção de veios e grutas, num desdobramento de noturnos mapas seguindo o astrolábio dos luares, mas nem por isto se encontravam. E quando algum amante desaparecia ou se afastava, não era porque estava saciado. Isto aprenderia depois. É que fora buscar outro amor, a busca recomeçara, pois a fome de amor não sabia nunca, como ali já não se saciara.

De fato, reparando nos vizinhos, podia observar. Mesmo os casados, atrás da aparente tranqüilidade, continuavam inquietos. Alguns eram mais indiscretos. A vizinha casada deu para namorar. Aquele que era um crente fiel, sempre na igreja, um dia jogou tudo para cima e amigou-se com uma jovem. E a mulher que morava em frente da farmácia, tão doméstica e feliz, de repente fugiu com um boêmio, largando marido e filhos.

Então, constatou, de novo se enganara. Os adultos, mesmo os casados, embora pareçam um porto onde as naus já atracaram, os adultos, mesmo os casados, que parecem arbustos cujas raízes já se entrançaram, eles também não sabem, estão no meio da viagem, e só eles sabem quantas tempestades enfrentaram e quantas vezes naufragaram.

Depois de folhear um, dez, centenas de corpos avulsos tentando o amor verbalizar, entrou numa biblioteca. Ali estavam as grandes paixões. Os poetas e novelistas deveriam saber das coisas. Julietas se debruçavam apunhaladas sobre o corpo morto dos Romeus, Tristãos e Isoldas tomavam o filtro do amor e ficavam condenados à traição daqueles que mais amavam e sem poderem realizar o amor.

O amor se procurava. E se encontrando, desesperava, se afastava, desencontrava.

Então, pensou: há o amor, há o desejo e há a paixão.

O desejo é assim: quer imediata e pronta realização. É indistinto. Por alguém que, de repente, se ilumina nas taças de uma festa, por alguém que de repente dobra a perna de uma maneira irresistivelmente feminina.

Já a paixão é outra coisa. O desejo não é nada pessoal. A paixão é um vendaval. Funde um no outro, é egoísta e, em muitos casos, fatal.

O amor soma desejo e paixão, é a arte das artes, é arte final.

Mas reparou: amor às vezes coincide com a paixão, às vezes não.

Amor às vezes coincide com o desejo, às vezes não.

Amor às vezes coincide com o casamento, às vezes não.

E mais complicado ainda: amor às vezes coincide com o amor, às vezes não.

Absurdo.

Como pode o amor não coincidir consigo mesmo?

Adolescente amava de um jeito. Adulto amava melhormente de outro. Quando viesse a velhice, como amaria finalmente? Há um amor dos vinte, um amor dos cinqüenta e outro dos oitenta? Coisa de demente.

Não era só a estória e as estórias do seu amor. Na história universal do amor, amou-se sempre diferentemente, embora parecesse ser sempre o mesmo amor de antigamente.

Estava sempre perplexo. Olhava para os outros, olhava para si mesmo ensimesmado.

Não havia jeito. O amor era o mesmo e sempre diferenciado.

O amor se aprendia sempre, mas do amor não terminava nunca o aprendizado.

Optou por aceitar a sua ignorância.

Em matéria de amor, escolar, era um repetente conformado.

E na escola do amor declarou-se eternamente matriculado.


Texto extraído do livro "21 Histórias de amor",

Affonso Romano de Sant'Anna.

domingo, 29 de março de 2009

Literatura

A criação do mundo.

Autor:Miguel Torga.




Neste livro, Torga, primeiro escritor a receber o prêmio Camões, narra as principais lembranças de sua vida, como a infância em Trás-os-Montes, as paisagens do campo, sua primeira viagem pela Europa, o encontro em Paris com exilados políticos portugueses, as rebeliões anti-salazaristas, sua prisão e a morte de seus pais.

Continuidade em Constância


O Mirante - diário online - Política - Máximo Ferreira assegura mandato de continuidade em Constância

amizade.


Convém tratar a amizade como os vinhos, desconfiando das misturas !

Eternidade .




Vens a mim
pequeno como um deus,
frágil como a terra,
morto como o amor,
falso como a luz,
e eu recebo-te
para a invenção da minha grandeza,
para rodeio da minha esperança
e pálpebras de astros nus.

Nasceste agora mesmo. Vem comigo.

Jorge de Sena, in 'Perseguição'

sábado, 28 de março de 2009

Mundial-2010

Uma História de Amor






Era uma vez uma ilha, onde moravam o amor e outros sentimentos.
Um dia avisaram para os moradores desta ilha que ela ia ser inundada.
Apavorado, o AMOR, cuidou para que todos os sentimentos se salvassem.
Ele então falou:
- Fujam todos, a ilha vai ser inundada.
Todos correram e pegaram seus barquinhos, para irem a um morro bem alto.
Só o AMOR não se apressou, pois queria ficar um pouco mais com sua ilha.
Quando já estava se afogando, correu para pedir ajuda.
Estava passando a Riqueza e ele disse:
- RIQUEZA leve-me com você....
- não posso, meu barco está cheio de ouro e prata e você não vai caber.
Passou então a Vaidade e ele pediu:
- Oh! VAIDADE leva-me com você....
- Não posso vai sujar meu barco.
Logo atrás vinha a Tristeza.
- TRISTEZA, posso ir com você?
- Ah! AMOR, estou tão triste que prefiro ir sozinha.
Passou a ALEGRIA, mas estava tão alegre que nem ouviu o AMOR chamar por ela.
Já desesperado, achando que ia ficar só, o AMOR começou a chorar.
Então passou um barquinho onde estava um velhinho e ele então falou:
- Sobe AMOR, que te levo.
O AMOR ficou radiante de felicidade que até esqueceu de perguntar o nome do velhinho.
Chegando ao morro alto onde estavam os sentimentos, ele perguntou à Sabedoria:
- SABEDORIA, quem era o velhinho que me trouxe aqui?
Ela então respondeu:
- O TEMPO
- O Tempo?
Mas porque só o tempo me trouxe aqui?
- Porque só o Tempo é capaz de entender um grande AMOR.

Solidão




Estás todo em ti, mar, e, todavia,
como sem ti estás, que solitário,
que distante, sempre, de ti mesmo!

Aberto em mil feridas, cada instante,
qual minha fronte,
tuas ondas, como os meus pensamentos,
vão e vêm, vão e vêm,
beijando-se, afastando-se,
num eterno conhecer-se,
mar, e desconhecer-se.

És tu e não o sabes,
pulsa-te o coração e não o sente...
Que plenitude de solidão, mar solitário!

Juan Ramón Jiménez, in "Diario de Un Poeta Reciencasado"

O velho de Alcântara mar.

Por:
Miguel S.Tavares.

Eu estava a almoçar sozinho num restaurante, como tanto gosto de fazer, a meio do dia de trabalho. Detesto «almoços de trabalho», almoços de circunstância ou almoços de coisa alguma. Detesto almoçar os outros, resumindo. Prefiro almoçar a comida, acompanhada de uma revista ou de um jornal.

O restaurante era pouco mais que uma tasquinha de Alcântara, que tem a vantagem de ter uma comida caseira e sem pretensões e de não ser frequentado pela classe emergente dos almoços, com os telemóveis em cima da mesa, ao alcance de uma urgência, porque gente importante e ocupada é assim. Este restaurante, pelo contrário, é frequentado por uns clientes discretos, habituais e silenciosos, que vêm comer polvo cozido com todos e parecem cobertos por uma fina poeira de tristeza que os toma, de certa forma, íntimos. Íntimos, apesar do nosso mútuo silêncio, cúmplices na solidão das mesas, como marinheiros naufragados, cada um em sua ilha.

Gosto destes personagens lisboetas da hora de almoço, que comem sozinhos resmungando entre dentes, que compram lotaria, lêem os anúncios do Correio da Manhã e tratam as empregadas de mesa por «Menina isto» e «Menina aquilo». Imagino em cada um deles um Fernando Pessoa, órfão de obra e deserdado de sentimentos. São solitários e tristes, porém não são trôpegos, mas dignos, de costas direitas e cara fechada olhando em frente, quando se levantam da mesa discretamente em direcção à porta, como se deslizassem em direcção à vida.

Um dia entrou um homem destes, que eu já tinha visto anteriormente. Era um cliente de bairro, um «vizinho» do restaurante — ocasionalmente almoça, mas, regra geral, limita-se a chegar sobre o tarde, senta-se numa mesa em frente à porta com um jornal dobrado à frente, encomenda uma bica e fica a olhar para a rua, atento ao passar do tempo. Vê-se que é reformado porque não tem horário fixo nem pressa alguma. Não será viúvo, mas apenas gasto, viverá num 3° esquerdo, indiferente às lamúrias da «patroa», sentado num sofá de costas para a janela para receber a luz para as palavras cruzadas do jornal.

Mas nesse dia o homem entrou no restaurante com um sorriso luminoso na cara. Parecia ter rejuvenescido dez anos, as costas estavam mais direitas, a roupa mais alisada, o cabelo penteado deveria cheirar a água de colónia Ach. Brito. Só percebi a razão da transformação quando o vi virar-se para trás na porta da entrada e estender a mão a um miúdo que o seguia: era o neto. Passeou o miúdo pelo restaurante como se apresentasse uma namorada rainha de beleza. De mão dada com ele, foi até ao balcão e sentou-o lá em cima para que todos os empregados o vissem, sorriu à volta e fez um gesto largo para o miúdo, indicando o mostruário onde repousavam a pescada para cozer ou fritar, o leitão frio ou quente da Mealhada e as costeletas de vitela para grelhar, e disse: «Então, escolhe lá o que queres almoçar».

Pediu mesa com toalha de pano, encostada à parede, de onde todos o pudessem ver e ele pudesse ver todos. Levou o neto ao colo até à mesa, sentou-o na cadeira, atou-lhe o guardanapo de pano ao pescoço e então o miúdo agarrou-lhe a cara de repente, puxou-o para si e deu-lhe um beijo. O velho sentou-se à frente dele e olhou em frente. Encontrou o meu olhar, que devorava a cena. Por um brevíssimo instante pareceu-me que ele tinha ficado suspenso da minha reacção: queria ser visto, mas tinha medo. Inclinei a cabeça e cumprimentei-o em silêncio — foi a primeira vez que o cumprimentei: o seu olhar era líquido de ternura e firme de orgulho. Quando for velho, quero ser exactamente assim.


Texto extraído do livro “Não te deixarei morrer, David Crockett

sexta-feira, 27 de março de 2009

Dee purple.

Luz.


O amor é uma luz que não deixa escurecer a vida !

Como Queiras, Amor...




Como queiras, Amor, como tu queiras.
Entregue a ti, a tudo me abandono,
seguro e certo, num terror tranquilo.
A tudo quanto espero e quanto temo,
entregue a ti, Amor, eu me dedico.

Nada há que eu não conheça, que eu não saiba,
e nada, não, ainda há por que eu não espere
como de quem ser vida é ter destino.

As pequeninas coisas da maldade, a fria
tão tenebrosa divisão do medo
em que os homens se mordem com rosnidos
de malcontente crueldade imunda,
eu sei quanto me aguarda, me deseja,
e sei até quanto ela a mim me atrai.

Como queiras, Amor, como tu queiras.
De frágil que és, não poderás salvar-me.
Tua nobreza, essa ternura tépida
quais olhos marejados, carne entreaberta,
será só escárneo, ou, pior, um vão sorriso
em lábios que se fecham como olhares de raiva.
Não poderás salvar-me, nem salvar-te.
Apenas como queiras ficaremos vivos.

Será mais duro que morrer, talvez.
Entregue a ti, porém, eu me dedico
àquele amor por qual fui homem, posse
e uma tão extrema sujeição de tudo.

Como tu queiras, meu Amor, como tu queiras.

Jorge de Sena, in 'Post-Scriptum'

Bild-sport

26.März



Até os alemães comentam,que após a porcaria feita pelo árbitro Lucílio Baptista na final de taça da Liga,o padre Eleutero se nega a baptizar crianças com o nome do árbitro.
E esta hem!

quinta-feira, 26 de março de 2009

O Mirante - diário online - Cultura & Lazer - Nova Entidade Regional de Turismo não garante apoio a festas de Constância

O Mirante - diário online - Cultura & Lazer - Nova Entidade Regional de Turismo não garante apoio a festas de Constância

Quando Voltei ,


Encontrei os Meus Passos

Quando voltei encontrei os meus passos
Ainda frescos sobre a úmida areia.
A fugitiva hora, reevoquei-a,
_ Tão rediviva! nos meus olhos baços...
Olhos turvos de lágrimas contidas.
_ Mesquinhos passos, porque doidejastes
Assim transviados, e depois tornastes

Ao ponto das primeiras despedidas?
Onde fostes sem tino, ao vento vário,
Em redor, como as aves num aviário,
Até que a asita fofa lhes faleça...
Toda essa extensa pista _ para quê?
Se há de vir apagar-vos a maré,
Com as do novo rasto que começa...

Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'

Canoagem.


24ª Descida dos 3 Castelos em Canoagem
integra Festas do Concelho de Constância 2009
A Descida dos 3 Castelos é uma das mais antigas provas de canoagem do País e uma daquelas onde mais turistas náuticos participam, sendo por isso, um excelente meio e promoção dos rios Tejo e Zêzere e das terras por onde passa.

Integrada no programa desportivo das Festas do Concelho de Constância, a Descida dos 3 Castelos que decorrerá nos próximos dias 10 e 11 de Abril, é um evento turístico – desportivo que percorre 3 concelhos, 2 Rios e envolve muitas entidades da zona do Médio Ribatejo.

Foram já alguns milhares de pessoas que ao longo dos 23 anos deste evento descobriram esta vasta zona ribeirinha devido à participação desta prova de convívio, turismo e desporto.

Este ano a Descida dos 3 Castelos tem como grande desafio a preparação das comemorações das bodas de prata do evento, as quais de realizarão em 2010.
Por CMC

Entardecer.


A tarde é a velhice do dia. Cada dia é uma pequena vida, e cada pôr do Sol uma pequena morte !

quarta-feira, 25 de março de 2009

Pensamentos Nocturnos




Lastimo-vos, ó estrelas infelizes,
Que sois belas e brilhais tão radiosas,
Guiando de bom grado o marinheiro aflito,
Sem recompensa dos deuses ou dos homens:
Pois não amais, nunca conhecestes o amor!
Continuamente horas eternas levam
As vossas rondas pelo vasto céu.
Que viagem levastes já a cabo!,
Enquanto eu, entre os braços da amada,
De vós me esqueço e da meia-noite.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Canções"

Beijos.


O beijo fulmina-nos como o relâmpago, o amor passa como um temporal, depois a vida, novamente, acalma-se como o céu, e tudo volta a ser como dantes. Quem se lembra de uma nuvem ?

Eu conto carneirinhos.




Gosto de sonhar. Penso que os sonhos são passeios da alma. Sabe,quando queremos espairecer. Sair por aí. Distrair.

Só que os sonhos fazem viagens bem mais empolgantes. Viajam pelas lembranças, exploram o desconhecido, visitam até o que tememos e nos assustam com terríveis pesadelos. Mas são só pesadelos.

Revemos amigos, outros bem mais queridos e encontramos até gente nova. Sim!!! Acredito nisso. Sabe quando vemos alguém pela primeira vez e dizemos: "Eu não te conheço de algum lugar?" Sei lá, mas eu acho que é lá das voltinhas dos sonhos, que já o vimos antes.

Por isso é que gosto quando a noite chega. E espero ansiosa a hora de dormir, só pra saber a surpresa que terei. Que passeio farei, embalada em canções antigas de ninar. Quem sabe hajam caminhos de jujubas e rios de refrigerantes, laguinhos de chocolate com patinhos de bombom. Sei lá... As vezes a grande viajem é refugiar-se apenas no inimaginável.

Adriana Santos

terça-feira, 24 de março de 2009

A Evidência.



Ainda que pasmem os leitores, ainda que não acreditem e passem, doravante, a chamar este escritor de mentiroso e fátuo, a verdade é que, certo dia que não adianta precisar, entraram num restaurante de luxo, que não me interessa dizer qual seja, um ratinho gordo e catita e um enorme tigre de olhar estriado e grandes bigodes ferozes. Entraram e, como sucede nas histórias deste tipo, ninguém se espantou, muito menos o garçon do restaurante. Era apenas mais um par de fregueses. Entrados os dois, ratinho e tigre, escolheram uma mesa e se sentaram. O garçon andou de lá prá cá e de cá prá lá, como fazem todos os garçons durante meia hora, na preliminar de atender fregueses mas, afinal, atendeu-os, já que não lhe restava outra possibilidade, pois, por mais que faça um garçon, acaba mesmo tendo que atender seus fregueses. Chegou pois o garçon e perguntou ao ratinho o que desejava comer. Disse o ratinho, numa segurança de conhecedor - "Primeiro você me traga Roquefort au Blinnis. Depois Couer de Baratta filet roti à la broche pommes dauphine. Em seguida Medaillon Lagartiche Foie Gras de Strasbourg. E, como sobremesa, me traga um Parfait de biscuit Estraguèe avec Cerises Jubilée. Café. Beberei, durante o jantar, um Laffite Porcherrie Rotschild 1934.


— Muito bem - disse o garçon. E, dirigindo-se ao tigre — E o senhor, que vai querer?

— Ele não quer nada — disse o ratinho.

— Nada? — tornou o garçon — Não tem apetite?

— Apetite? Que apetite? — rosnou o ratinho enraivecido — Deixa de ser idiota, seu idiota! Então você acha que se ele estivesse com fome eu ia andar ao lado dele?

MORAL: É NECESSÁRIO MANTER A LÓGICA MESMO NA FANTASIA.

(Millor Fernandes)

Ouvir.


Hoje, não se sabe falar porque já não se sabe ouvir !

Delores Pires .





CREPÚSCULO

Luz de fim do dia.
E a tua imagem flutua...
Vaga nostalgia!

MUDANÇA

Cheia de neblina
a cidade, em verdade,
foge da rotina.

ACENTUAÇÃO

Em torno de si
o guarda-chuva coloca
o pingo nos ii.

SIMPLICIDADE

Singela e formosa
Num torvelinho de espinho
Desabrocha a rosa.

SOLITUDE

Silente, à tardinha,
desliza ao sabor da brisa
gaivota sozinha.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Afectos.


Os afectos podem às vezes somar-se; subtrair-se, nunca !

Soneto



Nessa manhã as garças não voaram

E dos confins da luz um deus chamou.

Docemente teus cílios se fecharam

Sobre o olhar onde tudo começou.



A terra uivou. Todas as cores mudaram

O mar emudeceu. O ar parou.

Escuros véus de pranto o sol taparam

De azáleas lívidas a ilha se cercou.



A que pélago o esquife te levava?

Não ao termo. A não chorar os mortos.

Teu sumo espiritual florido ensina.



E se o mundo em ti principiava,

No teu mistério entre astros absortos,

Suavemente, ó mãe, tudo termina.



Natália Correia.

in Mãe Ilha,Sonetos Românticos

Literatura.



No limiar da cor.

Judith Stone.

Quando Sandra Laing nasceu, em 1955, filha de um casal africânder a favor do apartheid, no coração de uma África do Sul conservadora, foi oficialmente registada como uma criança branca. Mas, desde o seu primeiro dia num internato para brancos, um grupo de alunos e professores começaram a importuná-la impiedosamente por causa da sua cor de pele acastanhada e do seu cabelo encarapinhado. Sannie e Abraham Laing justificavam a aparência de Sandra com uma união inter-racial bem antiga na sua história familiar e juraram que Sandra era sua filha. No entanto os vizinhos pensavam que a Sra. Laing tinha cometido adultério com um negro. A família foi ostracizada. Quando Sandra tinha dez anos, foi retirada da escola pela polícia e reclassificada como "mestiça" – de raça mista.

No Limiar da Cor é uma exploração da natureza da memória, a construção social da raça, crueldade, insanidade e arbitrariedade do apartheid. É, também, um drama pessoal emocionante que confirma a resistência do espírito humano apesar das formas horríveis que o ser humano usa para se magoar.

domingo, 22 de março de 2009

Romeu e Julieta.



Uma óptima semana para todo o mundo.

Convivência.


Quando houver desacertos nas suas relações, faça do diálogo uma ponte para transpor os descaminhos. Entenda que ceder não é fraquejar; e agredir não é fortalecer-se. A tolerância mútua é o princípio que norteia a boa convivência .

De noite: não te grito.






Não te grito, nem te cheiro

Quando as águas correm desabadas

Do alto do teu corpo

Feito cimento cru, feito osso.



Se fosse real teu inimigo

Haveria de pendurar laranjas

No limoeiro do quintal em frente



Poderia dizer-te as estrelas todas do caminho feito regresso

Morte



Não, nesta noite

Ainda haverá olhos atentos e poços deitados onde a água

Não se cansa dos buracos

Palavras rente ao silêncio dizer-te



Não, não te grito, nem te cheiro

E, quando caíres do alto dos nossos beijos

Como as beatas acesas dos dedos amarelos

E defronte o precipício ouvires gritar o meu nome

que não tarda:


já será dia nas luzes das candeias


(Sandro William Junqueira)

sábado, 21 de março de 2009

Amar o mar.


Homem livre, tu sempre gostarás do mar ...

Pastelaria.




Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

(Cesariny)

Primavera.



Vivaldi.

sexta-feira, 20 de março de 2009

A rose in winter.



Bom fim de semana para todos.

Primavera.


""Primavera não é uma simples estação de flores, é muito mais, é um colorido da alma."

Constância;


Presidente da República visita Constância e inaugura o maior telescópio público do país

Nesta sexta-feira, dia 20 de Março, o Presidente da República, Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva, visitou o concelho de Constância, para inaugurar o maior telescópio público do país, no Centro Ciência Viva de Constância – Parque de Astronomia (CCVC).

A visita teve início às 11.30h, no Centro Ciência Viva, uma infra-estrutura que se localiza no Alto de Santa Bárbara, em Constância.

Recorde-se que o Telescópio Ritchey-Chrétien de 510mm foi instalado no CCVC, no âmbito do Protocolo de Apoio Mecenático assinado com a Fundação EDP.

Além da inauguração do telescópio a cerimónia integrou também uma visita aos diversos equipamentos que compõem este parque científico e a observação do meio-dia solar na esfera armilar.

A visita do Presidente da República terminou no Centro Náutico de Constância, com a inauguração da exposição Centro Ciência Viva de Constância – 5 Anos a Divulgar Ciência, uma iniciativa comemorativa do 5º aniversário do CCVC.
Por CMC

Hoje, apetecia-me falar de amor...



Há dias assim... procuram-se histórias no interior...
Buscar as palavras mais belas...
Pintar a loucura, a paixão, colorir negras telas...
Hoje, como ontem... apetecia-me conversar...
Dizer por dizer... coisas sem ninguém escutar...
Ontem como amanhã... o silêncio que invade o coração...
Persistirá... presente... na ausência dessa invasão.
De tempos a tempos... escuto... sinto...
Este vazio... que reanima, depois de extinto...
Que me preenche... com inúmeros nadas...
Que me deixa, livremente de mãos atadas.
(Luz ao fundo...) ávido por um olhar...
Entro em túnel com vista para... amar...
Às paredes... meus sonhos vão segredando...
Os medos... os pesadelos... que vou guardando...
Ontem, como hoje... nasci de novo...
Hoje... como amanhã... morro...
Reencarno agora, novamente em mim...
E parto... para futuro com idêntico fim...
De mãos livremente atadas...
Repito-me...
De mãos livremente atadas...
Há sempre uma liberdade...
Há sempre uma verdade...
Há sempre... uma eterna saudade...
Para dizer... (o que disse na intimidade)

Filipe M.

quinta-feira, 19 de março de 2009

As Coisas Secretas da Alma .




Em todas as almas há coisas secretas cujo segredo é guardado até à morte delas. E são guardadas, mesmo nos momentos mais sinceros, quando nos abismos nos expomos, todos doloridos, num lance de angústia, em face dos amigos mais queridos - porque as palavras que as poderiam traduzir seriam ridículas, mesquinhas, incompreensíveis ao mais perspicaz. Estas coisas são materialmente impossíveis de serem ditas. A própria Natureza as encerrou - não permitindo que a garganta humana pudesse arranjar sons para as exprimir - apenas sons para as caricaturar. E como essas ideias-entranha são as coisas que mais estimamos, falta-nos sempre a coragem de as caricaturar. Daqui os «isolados» que todos nós, os homens, somos. Duas almas que se compreendam inteiramente, que se conheçam, que saibam mutuamente tudo quanto nelas vive - não existem. Nem poderiam existir. No dia em que se compreendessem totalmente - ó ideal dos amorosos! - eu tenho a certeza que se fundiriam numa só. E os corpos morreriam.

Mário de Sá-Carneiro, in 'Cartas a Fernando Pessoa'

O Jardim .




Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas,
calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes.
Sequências de convergências e divergências,
ordem e dispersões, transparência de estruturas,
pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.

Geometria que respira errante e ritmada,
varandas verdes, direcções de primavera,
ramos em que se regressa ao espaço azul,
curvas vagarosas, pulsações de uma ordem
composta pelo vento em sinuosas palmas.

Um murmúrio de omissões, um cântico do ócio.
Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis.
É aqui, é aqui que se renova a luz.

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"

Dia Mundial da Árvore .



No Parque Ambiental de Santa Margarida
No próximo sábado, 21 de Março, o Município de Constância, através da Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill e do Parque Ambiental de Santa Margarida vai comemorar o Dia Mundial da Árvore, com uma acção de sensibilização ambiental, que terá lugar no Parque Ambiental de Santa Margarida.

A iniciativa será apresentada pelo Prof. Manuel Lima, autor do livro O Tejo da Nascente... à foz, o qual retrata o rio Tejo ao longo de todo o seu percurso, desde que nasce até que desagua no Oceano Atlântico. O autor desvendará o seu trabalho na elaboração da obra e as condições que foi encontrando durante o percurso de produção literária.

Como não podia deixar de ser, a vila de Constância, dada a sua localização na confluência de dois dos principais rios portugueses, o Tejo e o Zêzere, é retratada nesta obra de Manuel Lima.

Aberta à comunidade em geral, a actividade decorrerá a partir das 15.00h, no Parque Ambiental de Santa Margarida.

Para mais informações ou esclarecimentos adicionais deverão os interessados contactar a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill através do telefone 249 739 367 ou via correio electrónico para biblioteca@cm-constancia.pt.


Leia mais. Viva mais.

Por CMC

quarta-feira, 18 de março de 2009

Reencontro.


Prefiro acreditar que não nos dissemos adeus, mas que nos separamos para que o destino nos dê um reencontro feliz...