Seguidores

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Ondas de Solidão.



Se possuísse uma canoa e um papagaio, podia considerar-me realmente como um Robinson Crusoé, desamparado na sua ilha. Há, é verdade, em roda de mim uns quatro ou cinco milhões de seres humanos. Mas, que é isso? As pessoas que nos não interessam e que se não interessam por nós, são apenas uma outra forma da paisagem, um mero arvoredo um pouco mais agitado. São, verdadeiramente como as ondas do mar, que crescem e morrem, sem que se tornem diferenciáveis uma das outras, sem que nenhuma atraia mais particularmente a nossa simpatia enquanto rola, sem que nenhuma, ao desaparecer, nos deixe uma mais especial recordação. Ora estas ondas, com o seu tumulto, não faltavam decerto em torno do rochedo de Robinson - e ele continua a ser, nos colégios e conventos, o modelo lamentável e clássico da solidão.

Eça de Queirós, in 'Correspondência'

1 comentário:

Anónimo disse...

É COMOVENTE A POSTURA DO VELHINHO, POIS QUASE SEMPRE,O DESALENTO DA VIDA DA MAIORIA DA NOSSA 3ª IDADE,LEVA A QUE SEJA DE ROSTO CAIDO QUE OS VEMOS NO NOSSO DIA A DIA. E O QUE É QUE VEMOS O NOSSO GOVERNO FAZER? NADA.-----DE COIMBRA.