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segunda-feira, 26 de maio de 2008

A eternidade dos amores fugases.

Maria das Graças Targino *


Pedro Juan Gutierrez, escritor cubano, ignorado em sua terra natal e festejado em outros países, pela coragem em decantar em seus livros, muitas vezes, de forma brutal e venal, as atrocidades vividas pelo seu povo, costuma, de forma direta ou indireta, exaltar os amores fugazes. Para ele, o amor fugidio, oculto, proibido, recôndito, secreto ou interdito tem muito de magia e encantamento. São amores sem expectativas. Sem passado. Sem futuro. Nada há para lembrar. Nada há para lamentar. Nada há para esperar. Daí se enquadrarem na frase quase histórica do eterno Vinicius de Morais, ao cantar o amor: "que seja eterno enquanto dure!"

Sim, que seja eterno enquanto dure! Isto incentiva a todos nós, pobres mortais, para que vivamos intensamente cada amor, nas mil vidas que fazem a nossa própria vida. Vale viver! Viver intensamente! Viver sem medos! Sem rancores! Sem amarguras! Viver a delícia de cada momento! Mas, se as expectativas em excesso podem destruir e corroer os sentimentos humanos, porque fortalecem grilhões, algemam com dor, geram cobranças, estabelecem prazos, pedem respostas e mais respostas, a falta total de esperança também é arrasadora. Não permite a criação de laços. Não permite um viver sem sobressaltos. E não falo de um viver pautado na acomodação dos amores de caserna. Falo na tranqüilidade de que é possível esperar, confiar, amar. Amar sem temor. Amar com esperança. Amar com amor infindo! Se mesmo assim, o amor se for, o sentimento deixado é o de uma eternidade vivida, é de uma delícia saboreada que acabou, mas não deixou um travo amargo de dor e pesar. É chorar o amor perdido. É lamentar o sonho abortado. É recordar com saudade, mas sem horror, a beleza dos momentos vividos.

Caso contrário, frente ao amor fugaz, porque nós o queremos fugaz; frente ao amor fortuito e passageiro, porque nós o queremos fortuito e passageiro, quando este se vai, deixa em seu rastro e como legado uma sensação de fracasso infindo, um sentimento de dor, uma sensação de pesar, um gosto amargo de fel. E a busca continua. É preciso prosseguir. É preciso correr, quase insanamente, para viver novos amores. Mas a vida se vai e se esvai numa trajetória que não permite tréguas...

Por tudo isto, mesmo se não há certeza de um viver até que a morte nos separe, vivo, de cara limpa e alma límpida, esta história de amor que a vida me reservou. Não posso renegar um presente dos deuses. Um presente que se torna presente a cada momento, quando transformamos um amor fugaz em eterno. São os gestos infindos de carinho. A compreensão que se impõe a cada dificuldade. A cumplicidade dos olhares enamorados. A troca de beijos apaixonados. As lágrimas de saudade. A emoção incontida em cada encontro. A coragem de transpor as quase intransponíveis barreiras da possibilidade... Enfim, é, antes de tudo, a esperança sem fim de transmutar a fugacidade dos amores tardios e longínquos na eternidade dos amores intensos e verdadeiros!

3 comentários:

r disse...

Não concordo com metade deste texto, mas requer tempo para ser comentado.
Voltarei.

Unknown disse...

Aguardemos.

r disse...

Logo em seguida, acabei por decidir (tomo muitas decisões): nah! deixa estar assim. melhor esperar pelo amanhã, a ver se resolvo outra coisa.

Fugaz? Fortuito?
Não me parece. mas s'ela diz.