Nem saberia dizer onde moro exactamente
Desconfio que habito dentro dos meus dentes.
Doutras vezes,a penugem dos canários,
e era ali,naquelas sedas,penugem e cor,
que eu me mudava para as minhas mãos,
senão os gatos,o dorso,viajava neles.
E se um pássaro súbito:
não pelo avisto,pelo o ouvido porém;
(o som é que è súbito)-e outra vez me mudava,
era só ouvidos.
Para os meus olhos,
eles se esbarraram-sobre todos os horizontes
-em cima da beleza:
clamassem os dentes,
clamassem as mãos,clamassem as oiças,
a pele também clamasse-qual nada!-
haveria de engolfá-la só com os olhos
anos a fio moro neles.
Um dia morei sobre o peito de minhas mães
branca e preta,as mães,
(todas verdadeiras)
na mesma medida,agora assim
minha banda-fêmea
te regaça:
desta vez
"mulher"
sou tua "mãe".
Pousa, amor,
te esbalda na cavilha deste peito-pulso
que pulso de pulsar te estremece:
teus dentes,tua-inteira,toda-tua,
tua cara,teus cabelos,tua pele-tudo-e alma;
deixa-te cair neste infinito-agora.
Terminei de sair dos meus dentes,dos meus olhos,
das minhas oiças também saí;
habito agora apenas esta minha mão;
sou apenas esta mão:
nenhuma diferença entre todas as coisas,
um dia quis pegá-las,mordê-las;mão,
o calor de tuas sedas.
E se dormires
recobrirei respeitosamente a tua nudez,
que é só tua-
pousadamente,pousa
o hálito
na cavilha deste peito largo:
dorme amor
sossega
da
tua
nudez-sossega
que da aurora
vigilante
eu tomo conta.
(Poesia de Carlos Feitosa).
3 comentários:
Bem!... Esta toca fundo!
Chamada foto-profunda!
Olá [é marca de gelado, eu sei!]!
Esta... poesia. A poesia. O poema é que toca fundo. Já lhe disse: corro a sete pés de toda e qualquer neblina.
Curioso que,se tivesse esta foto e a de baixo, teria postado a foto abaixo neste poema.
O poema é tão vivo... a neblina é cinzenta.
Leituras...
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