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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

As palavras.




As palavras saltitam, pululam,

estão soltas, sem amarras.



Palavras vivas.



Sons, movimentos, sentimentos.



Se não, estão

petrificadas,

feitas de letras

- arquiteturas banais.



As palavras não representam,

elas são,

estão além dos significados

- ou seria, mais, bem,

aquém?



Libertadas dos dicionários

pelos campos

pelas fábricas, pelos lugares

de sua gestação.



Originárias, necessárias.



Elas exercem um poder

tanto porque podemos com elas

apoderar-nos do mundo

(ou conhecer)

quanto elas nos governam

e orientam.



As palavras são a música

das coisas nomináveis;

as formas das coisas:

o próprio som

que elas emitem.



Podemos dar às palavras

o sentido que se queira

aprisiona-las em obras

de fina urdidura.



Mas nem sempre

-e felizmente –

as palavras levam à Razão,

vão ao imaginário

à beleza de sua condição:



as ondas equilibram o movimento

do mar, marmorizado nas palavras.



Podemos transformá-las

em textos decifráveis.



Esgarçá-las, montá-las

sobre uma superfície

limitante, e fria.



Não obstante, as palavras

estarão livres

vivificadas

quando poesia.

(António Miranda)

2 comentários:

r disse...

Este homem-poeta foi uma grande descoberta para mim.
Fabulástico!

r disse...

Libertas dos dicionários... ó Zeus, que bom lê-lo...