Seguidores

terça-feira, 1 de julho de 2008

Os Lusíados-canto III




1

Agora tu, Calíope, me ensina
O que contou ao Rei o ilustre Gama:
Inspira imortal canto e voz divina
Neste peito mortal, que tanto te ama.
Assim o claro inventor da Medicina,
De quem Orfeu pariste, ó linda Dama,
Nunca por Dafne, Clície ou Leucotoe,
Te negue o amor devido, como soe.

2

Põe tu, Ninfa, em efeito meu desejo,
Como merece a gente Lusitana;
Que veja e saiba o mundo que do Tejo
O licor de Aganipe corre e mana.
Deixa as flores de Pindo, que já vejo
Banhar-me Apolo na água soberana;
Senão direi que tens algum receio,
Que se escureça o teu querido Orfeio.

3

Prontos estavam todos escutando
O que o sublime Gama contaria,
Quando, depois de um pouco estar cuidando,
Alevantando o rosto, assim dizia:
"Mandas-me, ó Rei, que conte declarando
De minha gente a grão genealogia:
Não me mandas contar estranha história,
Mas mandas-me louvar dos meus a glória.

4

"Que outrem possa louvar esforço alheio,
Cousa é que se costuma e se deseja;
Mas louvar os meus próprios, arreceio
Que louvor tão suspeito mal me esteja;
E para dizer tudo, temo e creio,
Que qualquer longo tempo curto seja:
Mas, pois o mandas, tudo se te deve,
Irei contra o que devo, e serei breve.

5

"Além disso, o que a tudo enfim me obriga,
É não poder mentir no que disser,
Porque de feitos tais, por mais que diga,
Mais me há-de ficar inda por dizer.
Mas, porque nisto a ordens leve e siga,
Segundo o que desejas de saber,
Primeiro tratarei da larga terra,
Depois direi da sanguinosa guerra.

6

"Entre a Zona que o Cancro senhoreia,
Meta setentrional do Sol luzente,
E aquela que por f ria se arreceia
Tanto, como a do meio por ardente,
Jaz a soberba Europa, a quem rodeia,
Pela parte do Areturo, e do Ocidente,
Com suas salsas ondas o Oceano,
E pela Austral o mar Mediterrano.

7

"Da parte donde o dia vem nascendo,
Com Ásia se avizinha; mas o rio
Que dos montes Rifeios vai correndo,
Na alagoa Meotis, curvo o frio,
As divide: e o mar que, fero e horrendo,
Viu dos Gregos o irado senhorio,
Onde agora de Tróia triunfante
Não vê mais que a memória o navegante.

8

"Lá onde mais debaixo está do Pólo,
Os montes Hiperbóreos aparecem,
E aqueles onde sempre sopra Eolo,
E co'o nome, dos sopros se enobrecem.
Aqui tão pouca força tem de Apolo
Os raios que no mundo resplandecem,
Que a neve está contido pelos montes,
Gelado o mar, geladas sempre as fontes.

9

"Aqui dos Citas grande quantidade
Vivem, que antigamente grande guerra
Tiveram, sobre a humana antiguidade,
Co'os que tinham então a Egípcia terra;
Mas quem tão fora estava da verdade,
(Já que o juízo humano tanto erra)
Para que do mais certo se informara,
Ao campo Damasceno o perguntara.

10

"Agora nestas partes se nomeia
A Lápia fria, a inculta Noruega,
Escandinávia Ilha, que se arreia
Das vitórias que Itália não lhe nega.
Aqui, enquanto as águas não refreia
O congelado inverno, se navega
Um braço do Sarmático Oceano
Pelo Brúsio, Suécio e frio Dano.

11

"Entre este mar e o Tánais vive estranha
Gente: Rutenos, Moseos e Livónios,
Sármatas outro tempo; e na montanha
Hircínia os Marcomanos são Polónios.
Sujeitos ao Império de Alemanha
São Saxones, Boêmios e Panónios,
E outras várias nações, que o Reno frio
Lava, e o Danúbio, Amasis e Albis rio.

12

"Entre o remoto Istro e o claro Estreito,
Aonde Hele deixou co'o nome a vida,
Estão os Traces de robusto peito,
Do fero Marte pátria tão querida,
Onde, colo Hemo, o Ródope sujeito
Ao Otomano está, que submetida
Bizâncio tem a seu serviço indino:
Boa injúria do grande Constantino!

13

"Logo de Macedónia estão as gentes,
A quem lava do Axio a água fria;
E vós também, ó terras excelentes
Nos costumes, engenhos e ousadia,
Que criastes os peitos eloquentes
E os juízos de alta fantasia,
Com quem tu, clara Grécia, o Céu penetras,
E não menos por armas, que por letras.

14

"Logo os Dálmatas vivem; e no seio,
Onde Antenor já muros levantou,
A soberba Veneza está no meio
Das águas, que tão baixa começou.
Da terra um braço vem ao mar, que cheio
De esforço, nações várias sujeitou,
Braço forte, de gente sublimada,
Não menos nos engenhos, que na espada.

15

"Em torno o cerca o Reino Neptunino,
Co'os muros naturais por outra parte;
Pelo meio o divide o Apenino,
Que tão ilustre fez o pátrio Marte;
Mas depois que o Porteiro tem divino,
Perdendo o esforço veio, e bélica arte;
Pobre está já de antiga potestade:
Tanto Deus se contenta de humildade!

16

"Gália ali se verá que nomeada
Co'os Cesáreos triunfos foi no mundo,
Que do Séquana e Ródano é regada,
E do Giruna frio e Reno fundo.
Logo os montes da Ninfa sepultada
Pirene se alevantam, que segundo
Antiguidades contam, quando arderam,
Rios de ouro e de prata então correram.

17

"Eis aqui se descobre a nobre Espanha,
Como cabeça ali de Europa toda,
Em cujo senhorio o glória estranha
Muitas voltas tem dado a fatal roda;
Mas nunca poderá, com força ou manha,
A fortuna inquieta pôr-lhe noda,
Que lhe não tire o esforço e ousadia
Dos belicosos peitos que em si cria.

18

"Com Tingitânia entesta, e ali parece
Que quer fechar o mar Mediterrano,
Onde o sabido Estreito se enobrece
Co'o extremo trabalhado Tebano.
Com nações diferentes se engrandece,
Cercadas com as ondas do Oceano;
Todas de tal nobreza e tal valor,
Que qualquer delas cuida que é melhor.

19

"Tem o Tarragonês, que se fez claro
Sujeitando Parténope inquieta;
O Navarro, as Astúrias, que reparo
Já foram contra a gente Mahometa;
Tem o Galego cauto, e o grande e raro
Castelhano, a quem fez o seu Planeta
Restituidor de Espanha e senhor dela,
Bétis, Lião, Granada, com Castela.

20

"Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa,
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floresça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora, e lá na ardente
África estar quieto o não consente.

21

"Esta é a ditosa pátria minha amada,
A qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso, ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
E nela então os Íncolas primeiros.

22

"Desta o pastor nasceu, que no seu nome
Se vê que de homem forte os feitos teve;
Cuja fama ninguém virá que dome,
Pois a grande de Roma não se atreve.
Esta, o velho que os filhos próprios come
Por decreto do Céu, ligeiro e leve,
Veio a fazer no mundo tanta parte,
Criando-a Reino ilustre; e foi desta arte:

23

"Um Rei, por nome Afonso, foi na Espanha,
Que fez aos Sarracenos tanta guerra,
Que por armas sanguinas, força e manha,
A muitos fez perder a vida o a terra;
Voando deste Rei a fama estranha
Do Herculano Calpe à Cáspia serra,
Muitos, para na guerra esclarecer-se,
Vinham a ele e à morte oferecer-se.

24

"E com um amor intrínseco acendidos
Da Fé, mais que das honras populares,
Eram de várias terras conduzidos,
Deixando a pátria amada e próprios lares.
Depois que em feitos altos e subidos
Se mostraram nas armas singulares,
Quis o famoso Afonso que obras tais
Levassem prémio digno e dons iguais.

25

"Destes Anrique, dizem que segundo
Filho de um Rei de Ungria exprimentado,
Portugal houve em sorte, que no mundo
Então não era ilustre nem prezado;
E, para mais sinal d'amor profundo,
Quis o Rei Castelhano, que casado
Com Teresa, sua filha, o Conde fosse;
E com ela das terras tornou posse.

26

"Este, depois que contra os descendentes
Da escrava Agar vitórias grandes teve,
Ganhando muitas terras adjacentes,
Fazendo o que a seu forte peito deve,
Em prémio destes feitos excelentes,
Deu-lhe o supremo Deus, em tempo breve,
Um filho, que ilustrasse o nome ufano
Do belicoso Reino Lusitano.

27

"Já tinha vindo Anrique da conquista
Da cidade Hierosólima sagrada,
E do Jordão a areia tinha vista,
Que viu de Deus a carne em si lavada;
Que não tendo Gotfredo a quem resista,
Depois de ter Judeia sojugada,
Muitos, que nestas guerras o ajudaram,
Para seus senhorios se tornaram;

28

"Quando chegado ao fim de sua idade,
O forte e famoso Úngaro estremado,
Forçado da fatal necessidade,
O espírito deu a quem lhe tinha dado,
Ficava o filho em tenra mocidade,
Em quem o pai deixava seu traslado,
Que do mundo os mais fortes igualava;
Que de tal pai tal filho se esperava.

29

"Mas o velho rumor, não sei se errado,
Que em tanta antiguidade não há certeza,
Conta que a mãe, tomando todo o estado,
Do segundo himeneu não se despreza.
O filho órfão deixava deserdado,
Dizendo que nas terras a grandeza
Do senhorio todo só sua era,
Porque, para casar, seu pai lhes dera.

30

"Mas o Príncipe Afonso, que desta arte
Se chamava, do avô tomando o nome,
Vendo-se em suas terras não ter parte,
Que a mãe, com seu marido, as manda e come,
Fervendo-lhe no peito o duro Marte,
Imagina consigo como as tome.
Revolvidas as causas no conceito,
Ao propósito firme segue o efeito.

31

"De Guimarães o campo se tingia
Co'o sangue próprio da intestina guerra,
Onde a mãe, que tão pouco o parecia,
A seu filho negava o amor e a terra.
Com ele posta em campo já se via;
E não vê a soberba o muito que erra
Contra Deus, contra o maternal amor;
Mas nela o sensual era maior.

32

"Ó Progne crua! ó mágica Medeia!
Se em vossos próprios filhos vos vingais
Da maldade dos pais, da culpa alheia,
Olhai que inda Teresa peca mais:
Incontinência má, cobiça feia,
São as causas deste erro principais:
Cila, por uma, mata o velho pai,
Esta, por ambas, contra o filho vai.

33

"Mas já o Príncipe claro o vencimento
Do padrasto e da iníqua mãe levava;
Já lhe obedece a terra num momento,
Que primeiro contra ele pelejava.
Porém, vencido de ira o entendimento,
A mãe em ferros ásperos atava;
Mas de Deus foi vingada em tempo breve:
Tanta veneração aos pais se deve!

34

"Eis se ajunta o soberbo Castelhano,
Para vingar a injúria de Teresa,
Contra o tão raro em gente Lusitano,
A quem nenhum trabalho agrava ou pesa.
Em batalha cruel o peito humano,
Ajudado da angélica defesa,
Não só contra tal fúria se sustenta,
Mas o inimigo aspérrimo afugenta.

35

"Não passa muito tempo, quando o forte
Príncipe em Guimarães está cercado
De infinito poder; que desta sorte
Foi refazer-se o inimigo magoado;
Mas, com se oferecer à dura morte
O fiel Egas amo, foi livrado;
Que de outra arte pudera ser perdido,
Segundo estava mal apercebido.

36

"lulas o leal vassalo, conhecendo
Que seu senhor não tinha resistência,
Se vai ao Castelhano, prometendo
Que ele faria dar-lhe obediência.
Levanta o inimigo o cerco horrendo,
Fiado na promessa e consciência
De Egas Moniz; mas não consente o peito
Do moço ilustre a outrem ser sujeito.

37

"Chegado tinha o prazo prometido,
Em que o Rei Castelhano já aguardava
Que o Príncipe, a seu mando sometido,
Lhe desse a obediência que esperava.
Vendo Egas que ficava fementido,
O que dele Castela não cuidava,
Determina de dar a doce vida
A troco da palavra mal cumprida.

38

"E com seus filhos e mulher se parte
A alevantar com eles a fiança,
Descalços e despidos, de tal arte,
Que mais move a piedade que a vingança.
- "Se pretendes, Rei alto, de vingar-te
De minha temerária confiança,
Dizia, eis aqui venho oferecido
A te pagar, coa vida, o prometido.

39

"Vês aqui trago as vidas inocentes
Dos filhos sem pecado e da consorte;
Se a peitos generosos e excelentes,
Dos fracos satisfaz a fera morte.
Vês aqui as mãos e a língua delinquentes:
Nelas sós exprimenta toda a sorte
De tormentos, de mortes, pelo estilo
De Cínis e do touro de Perilo"! —

40

"Qual diante do algoz o condenado,
Que já na vida a morte tem bebido,
Põe no cepo a garganta, e já entregado
Espera pelo golpe tão temido:
Tal diante do Príncipe indinado,
Egas estava a tudo oferecido.
Mas o Rei, vendo a estranha lealdade,
Mais pôde, enfim, que a ira a piedade.

41

" Ó grão fidelidade Portuguesa,
De vassalo, que a tanto se obrigava!
Que mais o Persa fez naquela empresa,
Onde rosto e narizes se cortava?
Do que ao grande Dario tanto pesa,
Que mil vezes dizendo suspirava,
Que mais o seu Zopiro são prezara,
Que vinte Babilónias que tomara.

42

Mas já o Príncipe Afonso aparelhava
O Lusitano exército ditoso,
Contra o Mouro que as terras habitava
D'além do claro Tejo deleitoso;
Já no campo de Ourique se assentava
O arraial soberbo e belicoso,
Defronte do inimigo Sarraceno,
Posto que em força e gente tão pequeno.

43

"Em nenhuma outra cousa confiado,
Senão no sumo Deus, que o Céu regia,
Que tão pouco era o povo batizado,
Que para um só cem Mouros haveria.
Julga qualquer juízo sossegado
Por mais temeridade que ousadia,
Cometer um tamanho ajuntamento,
Que para um cavaleiro houvesse cento.

44

"Cinco Reis Mouros são os inimigos,
Dos quais o principal Ismar se chama;
Todos exprimentados nos perigos
Da guerra, onde se alcança a ilustre fama.
Seguem guerreiras damas seus amigos,
Imitando a formosa e forte Dama,
De quem tanto os Troianos se ajudaram,
E as que o Termodonte já gostaram.

45

"A matutina luz serena e fria,
As estrelas do Pólo já apartava,
Quando na Cruz o Filho de Maria,
Amostrando-se a Afonso, o animava.
Ele, adorando quem lhe aparecia,
Na Fé todo inflamado assim gritava:
- "Aos infiéis, Senhor, aos infiéis,
E não a mim, que creio o que podeis!"

46

"Com tal milagre os ânimos da gente
Portuguesa inflamados, levantavam
Por seu Rei natural este excelente
Príncipe, que do peito tanto amavam;
E diante do exército potente
Dos imigos, gritando o céu tocavam,
Dizendo em alta voz: — "Real, real,
Por Afonso alto Rei de Portugal."

47

"Qual co'os gritos e vozes incitado,
Pela montanha o rábido Moloso,
Contra o touro remete, que fiado
Na força está do corno temeroso:
Ora pega na orelha, ora no lado,
Latindo mais ligeiro que forçoso,
Até que enfim, rompendo-lhe a garganta,
Do bravo a força horrenda se quebranta:

48

"Tal do Rei novo o estâmago acendido
Por Deus e pelo povo juntamente,
O Bárbaro comete apercebido,
Co'o animoso exército rompente.
Levantam nisto os perros o alarido
Dos gritos, tocam a arma, ferve a gente,
As lanças e arcos tomam, tubas soam,
Instrumentos de guerra tudo atroam.

49

"Bem como quando a flama, que ateada
Foi nos áridos campos (assoprando
O sibilante Bóreas) animada
Co'o vento, o seco mato vai queimando;
A pastoral companha, que deitada
Co'o doce sono estava, despertando
Ao estridor do fogo que se ateia,
Recolhe o fato, e foge para a aldeia:

50

"Desta arte o Mouro atónito e torvado,
Toma sem tento as armas mui depressa;
Não foge; mas espera confiado,
E o ginete belígero arremessa.
O Português o encontra denodado,
Pelos peitos as lanças lhe atravessa:
Uns caem meios mortos, e outros vão
A ajuda convocando do Alcorão.

51

"Ali se vêem encontros temerosos,
Para se desfazer uma alta serra,
E os animais correndo furiosos
Que Neptuno amostrou ferindo a terra.
Golpes se dão medonhos e forçosos;
Por toda a parte andava acesa a guerra:
Mas o de Luso arnês, couraça e malha
Rompe, corta, desfaz, abola e talha.

52

"Cabeças pelo campo vão saltando
Braços, pernas, sem dono e sem sentido;
E doutros as entranhas palpitando,
Pálida a cor, o gesto amortecido.
Já perde o campo o exército nefando;
Correm rios de sangue desparzido,
Com que também do campo a cor se perde,
Tornado carmesi de branco e verde.

53

"Já fica vencedor o Lusitano,
Recolhendo os troféus e presa rica;
Desbaratado e roto o Mauro Hispano,
Três dias o grão Rei no campo fiei.
Aqui pinta no branco escudo ufano,
Que agora esta vitória certifica,
Cinco escudos azuis esclarecidos,
Em sinal destes cinco Reis vencidos,

54

"E nestes cinco escudos pinta os trinta
Dinheiros por que Deus fora vendido,
Escrevendo a memória em vária tinta,
Daquele de quem foi favorecido.
Em cada uni dos cinco, cinco pinta,
Porque assim fica o número cumprido,
Contando duas vezes o do meio,
Dos cinco azuis, que em cruz pintando veio.

55

"Passado já algum tempo que passada
Era esta grão vitória, o Rei subido
A tomar vai Leiria, que tomada
Fora, mui pouco havia, do vencido.
Com esta a forte Arronches sojugada
Foi juntamente, e o sempre enobrecido
Scalabicastro, cujo campo ameno,
Tu, claro Tejo, regas tão sereno.

56

"A estas nobres vilas sometidas,
Ajunta também Mafra, em pouco espaço,
E nas serras da Lua conhecidas,
Sojuga a fria Sintra o duro braço;
Sintra, onde as Naiades, escondidas
Nas fontes, vão fugindo ao doce laço,
Onde Amor as enreda brandamente,
Nas águas acendendo fogo ardente.

57

"E tu, nobre Lisboa, que no Mundo
Facilmente das outras és princesa,
Que edificada foste do facundo,
Por cujo engano foi Dardânia acesa;
Tu, a quem obedece o mar profundo,
Obedeceste à força Portuguesa,
Ajudada também da forte armada,
Que das Boreais partes foi mandada.

58

"Lá do Germânico Albis, e do Rene,
E da fria Bretanha conduzidos,
A destruir o povo Sarraceno,
Muitos com tensão santa eram partidos.
Entrando a boca já do Tejo ameno,
Co'o arraial do grande Afonso unidos,
Cuja alta fama então subia aos Céus,
Foi posto cerco tos muros Ulisseus.

59

"Cinco vezes a Lua se escondera,
E outras tantas mostrara cheio o rosto,
Quando a cidade entrada se rendera
Ao duro cerco, que lhe estava posto.
Foi a batalha tão sanguina e fera,
Quanto obrigava o firme pressuposto
De vencedores ásperos e ousados,
E de vencidos já desesperados.

60

"Desta arte enfim tomada se rendeu
Aquela que, nos tempos já passados,
A grande força nunca obedeceu
Dos frios povos Cíticos ousados,
Cujo poder a tanto se estendeu
Que o Ibero o viu e o Tejo amedrontados;
E enfim co'o Bétis tanto alguns puderam
Que à terra de Vandália nome deram.

61

"Que cidade tão forte por ventura
Haverá que resista, se Lisboa
Não pôde resistir à força dura
Da gente, cuja fama tanto voa?
Já lhe obedece toda a Estremadura,
Óbidos, Alenquer, por onde soa
O tom das frescas águas, entre as pedras,
Que murmurando lava, e Torres Vedras.

62

"E vós também, ó terras Transtaganas,
Afamadas co'o dom da flava Ceres,
Obedeceis às forças mais que humanas,
Entregando-lhe os muros e os poderes.
E tu, lavrador Mouro, que te enganas,
Se sustentar a fértil terra queres;
Que Elvas, e Moura, e Serpa conhecidas,
E Alcácere-do-Sal estão rendidas.

63

"Eis a nobre Cidade, certo assento
Do rebelde Sertório antigamente,
Onde ora as águas nítidas de argento
Vem sustentar de longo a terra e a gente,
Pelos arcos reais, que cento e cento
Nos ares se alevantam nobremente,
Obedeceu por meio e ousadia
De Giraldo, que medos não temia.

64

"Já na cidade Beja vai tomar
Vingança de Trancoso destruída
Afonso, que não sabe sossegar,
Por estender coa fama a curta vida.
Não se lhe pode muito sustentar
A cidade; mas sendo já rendida,
Em toda a cousa viva a gente irada
Provando os fios vai da dura espada.

65

"Com estas sojugada foi Palmela,
E a piscosa Cezimbra, e juntamente,
Sendo ajudado mais de sua estrela,
Desbarata um exército potente:
Sentiu-o a vila, e viu-o a serra dela,
Que a socorrê-la vinha diligente
Pela fralda da serra, descuidado
Do temeroso encontro inopinado.

66

"O Rei de Badajoz era alto Mouro,
Com quatro mil cavalos furiosos,
Inúmeros peões, d'armas e de ouro
Guarnecidos, guerreiros e lustrosos.
Mas, qual no mês de Maio o bravo touro,
Co'os ciúmes da vaca, arreceosos,
Sentindo gente o bruto e cego amante
Salteia o descuidado caminhante:

67

"Desta arte Afonso súbito mostrado
Na gente dá, que passa bem segura,
Fere, mata, derriba denodado;
Foge o Rei Mouro, e só da vida cura.
Dum pânico terror todo assombrado,
Só de segui-lo o exército procura;
Sendo estes que fizeram tanto abalo
Não mais que só sessenta de cavalo.

68

"Logo segue a vitória sem tardança
O grão Rei incansábil, ajuntando
Gentes de todo o Reino, cuja usança
Era andar sempre terras conquistando.
Cercar vai Badajoz, e logo alcança
O fim de seu desejo, pelejando
Com tanto esforço, e arte, e valentia,
Que a fez fazer às outras companhia.

69

"Mas o alto Deus, que para longe guarda
O castigo daquele que o merece,
Ou, para que se emende, às vezes tarda,
Ou por segredos que homem não conhece,
Se até que sempre o forte Rei resguarda
Dos perigos a que ele se oferece;
Agora lhe não deixa ter defesa
Da maldição da mãe que estava presa.

70

"Que estando na cidade, que cercara,
Cercado nela foi dos Lioneses,
Porque a conquista dela lhe tomara,
De Lião sendo, e não dos Portugueses.
A pertinácia aqui lhe custa cara,
Assim como acontece muitas vezes,
Que em ferros quebra as pernas, indo aceso
A batalha, onde foi vencido e preso.

71

"Ó famoso Pompeio, não te pene
De teus feitos ilustres a ruína,
Nem ver que a justa Némesis ordene
Ter teu sogro de ti vitória dina,
Posto que o frio Fásis, ou Siene,
Que para nenhum cabo a sombra inclina,
O Bootes gelado e a linha ardente,
Temessem o teu nome geralmente.

72

"Posto que a rica Arábia e que os ferozes
Eníocos e Colcos, cuja fama
O Véu dourado estende, e os Capadoces,
E Judeia, que um Deus adora e ama,
E que os moles Sofenos, e os atroces
Cilícios, com a Arménia, que derrama
As águas dos dous rios, cuja fonte
Está noutro mais alto e santo monte;

73

"E posto enfim que desde o mar de Atlante
Até o Cítico Tauro monte erguido,
Já vencedor te vissem, não te espanto
Se o campo Emátio só te viu vencido,
Porque Afonso verás, soberbo e ovante,
Tudo render-se ser depois rendido.
Assim o quis o conselho alto e celeste,
Que vença o sogro a ti, e o genro a este.

74

"Tornado o Rei sublime finalmente,
Do divino Juízo castigado,
Depois que em Santarém soberbamente
Em vão dos Sarracenos foi cercado,
E depois que do mártire Vicente
O santíssimo corpo venerado
Do Sacro Promontório conhecido
A cidade Ulisseia foi trazido;

75

"Porque levasse avante seu desejo,
Ao forte filho manda o lasso velho
Que às terras se passasse d'Alentejo,
Com gente e co'o belígero aparelho.
Sancho, d'esforço o d'ânimo sobejo,
Avante passa, e faz correr vermelho
O rio que Sevilha vai regando,
Co'o sangue Mauro, bárbaro e nefando.

76

"E com esta vitória cobiçoso,
Já não descansa o moço até que veja
Outro estrago como este, temeroso,
No Bárbaro que tem cercado Beja.
Não tarda muito o Príncipe ditoso
Sem ver o fim daquilo que deseja.
Assim estragado o Mouro, na vingança
De tantas perdas põe sua esperança.

77

"Já se ajuntam do monte a quem Medusa
O corpo fez perder, que teve o Céu;
Já vem do promontório de Ampelusa
E do Tinge, que assento foi de Anteu.
O morador de Abila não se escusa,
Que também com suas armas se moveu,
Ao som da Mauritana e ronca tuba,
Todo o Reino que foi do nobre Juba.

78

"Entrava com toda esta companhia
O Miralmomini em Portugal;
Treze Reis mouros leva de valia,
Entre os quais tem o ceptro imperial;
E assim fazendo quanto mal podia,
O que em partes podia fazer mal,
Dom Sancho vai cercar em Santarém;
Porém não lhe sucede muito bem.

79

"Dá-lhe combates ásperos, fazendo
Ardis de guerra mil o Mouro iroso;
Não lhe aproveita já trabuco horrendo,
Mina secreta, aríete forçoso:
Porque o filho de Afonso não perdendo
Nada do esforço e acordo generoso,
Tudo provê com ânimo e prudência;
Que em toda a parte há esforço e resistência.

80

"Mas o velho, a quem tinham já obrigado
Os trabalhosos anos ao sossego,
Estando na cidade, cujo prado
Enverdecem as águas do Mondego,
Sabendo como o filho está cercado
Em Santarém do Mauro povo cego,
Se parte diligente da cidade;
Que não perde a presteza coa idade.

81

"E coa famosa gente à guerra usada
Vai socorrer o filho; e assim ajuntados,
A Portuguesa fúria costumada
Em breve os Mouros tem desbaratados.
A campina, que toda está coalhada
De marlotas, capuzes variados,
De cavalos, jaezes, presa rica,
De seus senhores mortos cheia fica.

82

"Logo todo o restante se partiu
De Lusitânia, postos em fugida;
O Miralmomini só não fugiu,
Porque, antes de fugir, lhe foge a vida.
A quem lhe esta vitória permitiu
Dão louvores e graças sem medida:
Que em casos tão estranhos claramente
Mais peleja o favor de Deus que a gente.

83

"De tamanhas vitórias triunfava
O velho Afonso , Príncipe subido,
Quando, quem tudo enfim vencendo andava,
Da larga e muita idade foi vencido.
A pálida doença lhe tocava
Com fria mão o corpo enfraquecido;
E pagaram seus anos deste jeito
A triste Libitina seu direito.

84

"Os altos promontórios o choraram,
E dos rios as águas saudosas
Os semeados campos alagaram
Com lágrimas correndo piedosas.
Mas tanto pelo mundo se alargaram
Com faina suas obras valerosas,
Que sempre no seu Reino chamarão
"Afonso, Afonso" os ecos, mas em vão.

85

"Sancho, forte mancebo, que ficara
Imitando seu pai na valentia,
E que em sua vida já se exprimentara,
Quando o Bétis de sangue se tingia,
E o bárbaro poder desbaratara
Do Ismaelita Rei de Andaluzia;
E mais quando os que Beja em vão cercaram,
Os golpes de seu braço em si provaram;

86

"Depois que foi por Rei alevantado,
Havendo poucos anos que reinava,
A cidade de Silves tem cercado,
Cujos campos o bárbaro lavrava.
Foi das valentes gentes ajudado
Da Germânica armada que passava,
De armas fortes e gente apercebida,
A recobrar Judeia já perdida.

87

"Passavam a ajudar na santa empresa
O roxo Federico, que moveu
O poderoso exército em defesa
Da cidade onde Cristo padeceu,
Quando Guido, coa gente em sede acesa,
Ao grande Saladino se rendeu,
No lugar onde aos Mouros sobejavam
As águas que os de Guido desejavam.

88

"Mas a formosa armada, que viera
Por contraste de vento àquela parte,
Sancho quis ajudar na guerra fera,
Já que em serviço vai do santo Marte.
Assim como a seu pai acontecera
Quando tomou Lisboa, da mesma arte
Do Germano ajudado Silves toma,
E o bravo morador destrue e doma.

89

"E se tantos troféus do Mahometa
Alevantando vai, também do forte
Lionês não consente estar quieta
A terra, usada aos casos de Mavorte,
Até que na cerviz seu jugo meta
Da soberba Tui, que a mesma sorte
Viu ter a muitas vilas suas vizinhas,
Que, por armas, tu, Sancho, humildes tinhas.

90

"Mas entre tantas palmas salteado
Da temerosa morte, fica herdeiro
Um filho seu, de todos estimado,
Que foi segundo Afonso, e Rei terceiro.
No tempo deste, aos Mouros foi tomado
Alcácere-do-Sal por derradeiro;
Porque dantes os Mouros o tomaram,
Mas agora estruídos o pagaram.

91

"Morto depois Afonso, lhe sucede
Sancho segundo, manso e descuidado,
Que tanto em seus descuidos se desmede,
Que de outrem, quem mandava, era mandado.
De governar o Reino, que outro pede,
Por causa dos privados foi privado,
Porque, como por eles se regia,
Em todos os seus vícios consentia.

92

"Não era Sancho, não, tão desonesto
Como Nero, que um moço recebia
Por mulher, e depois horrendo incesto
Com a mãe Agripina cometia;
Nem tão cruel às gentes e molesto,
Que a cidade queimasse onde vivia,
Nem tão mau como foi Heliogabalo,
Nem como o mole Rei Sardanapalo.

93

"Nem era o povo seu tiranizado,
Como Sicília foi de seus tiranos;
Nem tinha como Fálaris achado
Gênero de tormentos inumanos;
Mas o Reino, de altivo e costumado
A senhores em tudo soberanos,
A Rei não obedece, nem consente,
Que não for mais que todos excelente.

94

"Por esta causa o Reino governou
O Conde Bolonhês, depois alçado
Por Rei, quando da vida se apartou
Seu irmão Sancho, sempre ao ócio dado.
Este, que Afonso o bravo, se chamou,
Depois de ter o Reino segurado,
Em dilatá-lo cuida, que em terreno
Não cabe o altivo peito, tão pequeno.

95

"Da terra dos Algarves, que lhe fora
Em casamento dada, grande parte
Recupera co'o braço, e deita fora
O Mouro, mal querido já de Marte.
Este de todo fez livre e senhora
Lusitânia, com força e bélica arte;
E acabou de oprimir a nação forte,
Na terra que aos de Luso coube em sorte.

96

"Eis depois vem Dinis, que bem parece
Do bravo Afonso estirpe nobre e dina,
Com quem a fama grande se escurece
Da liberalidade Alexandrina.
Com este o Reino próspero florece
(Alcançada já a paz áurea divina)
Em constituições, leis e costumes,
Na terra já tranquila claros lumes.

97

"Fez primeiro em Coimbra exercitar-se
O valeroso ofício de Minerva;
E de Helicona as Musas fez passar-se
A pisar do Monde-o a fértil erva.
Quanto pode de Atenas desejar-se,
Tudo o soberbo Apolo aqui reserva.
Aqui as capelas dá tecidas de ouro,
Do bácaro e do sempre verde louro.

98

"Nobres vilas de novo edificou
Fortalezas, castelos mui seguros,
E quase o Reino todo reformou
Com edifícios grandes, e altos muros.
Mas depois que a dura Átropos cortou
O fio de seus dias já maduros,
Ficou-lhe o filho pouco obediente,
Quarto Afonso, mas forte e excelente.

99

"Este sempre as soberbas Castelhanas
Co'o peito desprezou firme e sereno,
Porque não é das forças Lusitanas,
Temer poder maior, por mais pequeno.
Mas porém, quando as gentes Mauritanas,
A possuir o Hespérico terreno
Entraram pelas terras de Castela,
Foi o soberbo Afonso a socorrê-la.

100

"Nunca com Semirâmis gente tanta
Veio os campos idáspicos enchendo,
Nem Atila, que Itália toda espanta,
Chamando-se de Deus açoute horrendo,
Gótica gente trouxe tanta, quanta
Do Sarraceno bárbaro estupendo,
Co'o poder excessivo de Granada,
Foi nos campos Tartésios ajuntada.

101

"E vendo o Rei sublime Castelhano
A força inexpugnábil, grande e forte,
Temendo mais o fim do povo hispano,
Já perdido uma vez, que a própria morte,
Pedindo ajuda ao forte Lusitano,
Lhe mandava a caríssima consorte,
Mulher de quem a manda, e filha amada
Daquele a cujo Reino foi mandada.

102

"Entrava a formosíssima Maria
Pelos paternais paços sublimados,
Lindo o gesto, mas fora de alegria,
E seus olhos em lágrimas banhados;
Os cabelos angélicos trazia
Pelos ebúrneos ombros espalhados:
Diante do pai ledo, que a agasalha,
Estas palavras tais, chorando, espalha:

103

- "Quantos povos a terra produziu
De África toda, gente fera e estranha,
O grão Rei de Marrocos conduziu
Para vir possuir a nobre Espanha:
Poder tamanho junto não se viu,
Depois que o salso mar a terra banha.
Trazem ferocidade, e furor tanto,
Que a vivos medo, e a mortos faz espanto.

104

- "Aquele que me deste por marido,
Por defender sua terra amedrontada,
Co'o pequeno poder, oferecido
Ao duro golpe está da Maura espada;
E se não for contigo socorrido,
Ver-me-ás dele e do Reino ser privada,
Viúva e triste, e posta em vida escura,
Sem marido, sem Reino, e sem ventura.

105

"Portanto, ó Rei, de quem com puro medo
O corrente Muluca se congela,
Rompe toda a tardança, acude cedo
A miseranda gente de Castela.
Se esse gesto, que mostras claro e ledo,
De pai o verdadeiro amor assela,
Acude e corre, pai, que se não corres,
Pode ser que não aches quem socorres." —

106

"Não de outra sorte a tímida Maria
Falando está, que a triste Vénus, quando
A Júpiter, seu pai, favor pedia
Para Eneias, seu filho, navegando;
Que a tanta piedade o comovia
Que, caído das mãos o raio infando,
Tudo o clemente Padre lhe concede,
Pesando-lhe do pouco que lhe pede.

107

"Mas já co'os esquadrões da gente armada
Os Eborenses campos vão coalhados:
Lustra co'o Sol o arnês, a lança, a espada;
Vão rinchando os cavalos jaezados.
A canora trombeta embandeirada,
Os corações à paz acostumados
Vai às fulgentes armas incitando,
Pelas concavidades retumbando.

108

"Entre todos no meio se sublima,
Das insígnias Reais acompanhado,
O valeroso Afonso, que por cima
De todos leva o colo alevantado;
E somente co'o gesto esforça e anima
A qualquer coração amedrontado.
Assim entra nas terras de Castela
Com a filha gentil, Rainha dela.

109

"Juntos os dous Afonsos finalmente
Nos campos de Tarifa estão defronte
Da grande multidão da cega gente,
Para quem são pequenos campo e monte.
Não há peito tão alto e tão potente,
Que de desconfiança não se afronte,
Enquanto não conheça e claro veja
Que co'o braço dos seus Cristo peleja.

110

"Estão de Agar os netos quase rindo
Do poder dos Cristãos fraco e pequeno,
As terras como suas repartindo
Antemão, entre o exército Agareno,
Que com título falso possuindo
Está o famoso nome Sarraceno.
Assim também com falsa conta e nua,
À nobre terra alheia chamam sua.

111

"Qual o membrudo e bárbaro Gigante,
Do rei Saul, com causa, tão temido,
Vendo o pastor inerme estar diante,
Só de pedras e esforço apercebido,
Com palavras soberbas o arrogante
Despreza o fraco moço mal vestido,
Que, rodeando a funda, o desengana
Quanto mais pode a Fé que a força humana:

112

"Desta arte o Mouro pérfido despreza
O poder dos Cristãos, e não entende
Que está ajudado da Alta Fortaleza,
A quem o inferno horrífico se rende.
Co ela o Castelhano, e com destreza
De Marrocos o Rei comete e ofende.
O Português, que tudo estima em nada,
Se faz temer ao Reino de Granada.

113

"Eis as lanças e espadas retiniam
Por cima dos arneses: bravo estrago!
Chamam (segundo as leis que ali seguiam)
Uns Mafamede, e os outros Santiago.
Os feridos com grita o Céu feriam,
Fazendo de seu sangue bruto lago,
Onde outros meios mortos se afogavam,
Quando do ferro as vidas escapavam.

114

"Com esforço tamanho estrui e mata
O Luso ao Granadil, que, em pouco espaço,
Totalmente o poder lhe desbarata,
Sem lhe valer defesa ou peito de aço.
De alcançar tal vitória tão barata
Inda não bem contente o forte braço,
Vai ajudar ao bravo Castelhano,
Que pelejando está co'o Mauritano.

115

"Já se ia o Sol ardente recolhendo
Para a casa de Tethys, e inclinado
Para o Ponente, o Véspero trazendo,
Estava o claro dia memorado,
Quando o poder do Mauro grande e horrendo
Foi pelos fortes Reis desbaratado,
Com tanta mortandade, que a memória
Nunca no mundo viu tão grã vitória.

116

"Não matou a quarta parte o forte Mário
Dos que morreram neste vencimento,
Quando as águas co'o sangue do adversário
Fez beber ao exército sedento;
Nem o Peno asperíssimo contrário
Do Romano poder, de nascimento,
Quando tantos matou da ilustro Roma,
Que alqueires três de anéis dos mortos toma.

117

"E se tu tantas almas só pudeste
Mandar ao Reino escuro de Cocito,
Quando a santa Cidade desfizeste
Do povo pertinaz no antigo rito:
Permissão e vingança foi celeste,
E não força de braço, ó nobre Tito,
Que assim dos Vates foi profetizado,
E depois por Jesu certificado.

118

"Passada esta tão próspera vitória,
Tornando Afonso à Lusitana terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste, e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que depois de ser morta foi Rainha.

119

"Tu só, tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.

120

"Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.

121

"Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fermosos se apartavam:
De noite em doces sonhos, que mentiam,
De dia em pensamentos, que voavam.
E quanto enfim cuidava, e quanto via,
Eram tudo memórias de alegria.

122

"De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo enfim, tu, puro amor, despreza,
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo, e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,

123

"Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co'o sangue só da morte indina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra uma fraca dama delicada?

124

"Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade:
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela com tristes o piedosas vozes,
Saídas só da mágoa, e saudade
Do seu Príncipe, e filhos que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,

125

"Para o Céu cristalino alevantando
Com lágrimas os olhos piedosos,
Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos;
E depois nos meninos atentando,
Que tão queridos tinha, e tão mimosos,
Cuja orfandade como mãe temia,
Para o avô cruel assim dizia:

126

- "Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas têm o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento,
Como coa mãe de Nino já mostraram,
E colos irmãos que Roma edificaram;

127

- "Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar uma donzela
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la)
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.

128

- "E se, vencendo a Maura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vicia com clemência
A quem para perdê-la não fez erro.
Mas se to assim merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia f ria, ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.

129

"Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei:
Ali com o amor intrínseco e vontade
Naquele por quem morro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste." -

130

— Morte de Inês de Castro
"Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo, e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra uma dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais, e cavaleiros?

131

"Qual contra a linda moça Policena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co'o ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela os olhos com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha)
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:

132

"Tais contra Inês os brutos matadores
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que depois a fez Rainha;
As espadas banhando, e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.

133

"Bem puderas, ó Sol, da vista destes
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia.
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetisses!

134

"Assim como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lascivas maltratada
Da menina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está morta a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas, e perdida
A branca e viva cor, coa doce vida.

135

"As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram;
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água, e o nome amores.

136

"Não correu muito tempo que a vingança
Não visse Pedro das mortais feridas,
Que, em tomando do Reino a governança,
A tomou dos fugidos homicidas.
Do outro Pedro cruíssimo os alcança,
Que ambos, imigos das humanas vidas,
O concerto fizeram, duro e injusto,
Que com Lépido e António fez Augusto.

137

"Este, castigador foi rigoroso
De latrocínios, mortes e adultérios:
Fazer nos maus cruezas, fero e iroso,
Eram os seus mais certos refrigérios.
As cidades guardando justiçoso
De todos os soberbos vitupérios,
Mais ladrões castigando à morte deu,
Que o vagabundo Aleides ou Teseu.

138

"Do justo e duro Pedro nasce o brando,
(Vede da natureza o desconcerto!)
Remisso, e sem cuidado algum, Fernando,
Que todo o Reino pôs em muito aperto:
Que, vindo o Castelhano devastando
As terras sem defesa, esteve perto
De destruir-se o Reino totalmente;
Que um fraco Rei f az fraca a forte gente.

139

"Ou foi castigo claro do pecado
De tirar Lianor a seu marido,
E casar-se com ela, de enlevado
Num falso parecer mal entendido;
Ou foi que o coração sujeito e dado
Ao vício vil, de quem se viu rendido,
Mole se fez e fraco; e bem parece,
Que um baixo amor os fortes enfraquece.

140

"Do pecado tiveram sempre a pena
Muitos, que Deus o quis, e permitiu:
Os que foram roubar a bela Helena,
E com Apio também Tarquilio o viu.
Pois por quem David Santo se condena?
Ou quem o Tribo ilustre destruiu
De Benjamim?Bem claro no-lo ensina
Por Sara Faraó, Siquém por Dina.

141

"E pois se os peitos fortes enfraquece
Um inconcesso amor desatinado,
Bem no filho de Alcmena se parece,
Quando em Ônfale andava transformado.
De Marco António a faina se escurece
Com ser tanto a Cleopatra afeiçoado.
Tu também, Peno próspero, o sentiste
Depois que uma moça vil na Apúlia viste.

142

"Mas quem pode livrar-se por ventura
Dos laços que Amor arma brandamente
Entre as rosas e a neve humana pura,
O ouro e o alabastro transparente?
Quem de uma peregrina formosura,
De um vulto de Medusa propriamente,
Que o coração converte, que tem preso,
Em pedra não, mas em desejo aceso?

143

"Quem viu um olhar seguro, um gesto brando,
Uma suave e angélica excelência,
Que em si está sempre as almas transformando,
Que tivesse contra ela resistência?
Desculpado por certo está Fernando,
Para quem tem de amor experiência;
Mas antes, tendo livre a fantasia,
Por muito mais culpado o julgaria.

Leitura para a semana.


Na primeira metade do século XX, o mundo foi flagelado por guerras sucessivas, que causaram milhões de mortos, destruição e sofrimento. Houve também quem prosperasse com o esforço bélico, como os volframistas. Portugal foi um dos principais exportadores de volfrâmio, durante a Guerra Civil de Espanha e a Segunda Guerra Mundial.
O enriquecimento súbito dos volframistas e a sua queda na penúria do pós-guerra são motivo para uma tese de doutoramento do investigador João de Deus. Mergulhado numa conturbada vida amorosa, investiga o passado de Petrónio Chibante, o Rei do Volfrâmio, explorador da mina Paraíso, em Vilar das Almas. O passado, convocado de forma estranha pela alma de Serafina Amásio, antes de abandonar o corpo, cruza-se com o presente, revivendo amores e desamores de cada época, no lugar recôndito de Vilar e por esse mundo fora.

O Rei do Volfrâmio é a saga de um país e das suas almas, vivendo de um passado faustoso e iluminado, sem canalizar forças para o futuro. É uma reflexão sobre a diáspora e as gerações de novos párias.

É também uma ode ao amor, nas suas mais diversas e estranhas formas. É ainda uma elegia aos que das fraquezas fizeram forças, em nome da razão.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

The end

O corpo e a alma.


Definição

O corpo é onde
é carne:

o corpo é onde
há carne
e o sangue
é alarme.

O corpo é onde
é chama:

o corpo é onde
há chama
e a brasa
inflama.

O corpo é onde
é luta:

o corpo é onde
há luta
e o sangue
exulta.

O corpo é onde
é cal:

o corpo é onde
há cal
e a dor
é sal.

O corpo
é onde
e a vida
é quando.


Publicado no livro Canto e palavra (1965).
Affonso Romano de Sant'Anna

Longevidade

domingo, 29 de junho de 2008

Os sinos de Dom João Terceiro.



Em 1529 o Rei D. João III enviou um carregamento de cobre à Dinamarca, para fundição de sinos, contudo, foi roubado por protestantes que andavam ás avessas com os dinamarqueses.
O rei D. João IIII ficou furioso e os luteranos, por estranho que pareça, enviaram sinos... de igrejas de Copenhaga!
O rei ficou desconfiado da virtude dos sinos, mas os luteranos disseram que dinheiro e cobre havia pouco, pelo que sinos não havia outros.
Assim sendo, o Rei D. João III concordou em ficar com os sinos dinamarqueses, mas como depósito, e não como proprietário! Assim, quando a Dinamarca se tornar católica, os sinos serão devolvidos!

Poesia de amor

Pablo Neruda.


...Saudade é amar um passado que ainda não passou,
É recusar um presente que nos machuca,
É não ver o futuro que nos convida...

sábado, 28 de junho de 2008

Os marcos da Rainha D.Maria I.



No início do reinado da Rainha D. Maria I projectaram-se algumas estradas e começaram a ser construídas, mas em estilo insólito! Único no mundo!
Em vez de se começar pelas estradas em si, começou-se pelos marcos! Lindíssimos! Colunas monumentais, talhadas em fino mármore, providas de altaneiros relógios de Sol! Lindíssimos!
Quanto às estradas... o dinheiro foi desviado pela rainha! Os 16 milhões de cruzados foram aplicados no novo Convento da Basílica da Estrela! Os reis portugueses sempre aplicaram mais o dinheiro nas estradas para o céu do que nas terrestres...

--------------------------------------------------------------------------------

Relatividades!


"Na vida tudo é relativo. Um fio de cabelo na cabeça é pouco; na sopa, é muito!"

A noite do meu bem!

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Constância.


Academia Portuguesa da História premeia Carta Régia de Constância
A Carta Régia de Punhete (Constância) , editada pela Câmara Municipal pelo 10 de Junho do ano passado, acaba de ser distinguida com um prestigiado prémio da Academia Portuguesa da História.



O livro, com boa encadernação estampada a ouro, traz a público, em edição fac-similada, o documento de 1571 através do qual o rei D. Sebastião elevou Punhete (actual Constância) à categoria de vila e criou o concelho.



O prémio Cunha Serra com que a Academia Portuguesa da História distinguiu a Carta Régia de Punhete será entregue aos autores do trabalho historiográfico e diplomático que integra a edição: o Dr. António Matias Coelho, assessor cultural da Câmara Municipal, responsável pela coordenação e pela contextualização histórica, e a Prof. Doutora Maria José Azevedo Santos, professora catedrática da Faculdade de Letras e directora do Arquivo da Universidade de Coimbra, que produziu a análise paleográfico-diplomática, a transcrição e o glossário.



A sessão solene para a entrega do Prémio, que contará com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Constância, realiza-se no dia 2 de Julho, pelas 15 horas, na sede da Associação Portuguesa da História, em Lisboa.
Por CMC

Justiça de Dom João VI.



Carl Ruders conta-nos na sua carta de 30/3/1799, como era a Justiça neste tempo, quando um juiz absolve uma ama que matou 36 crianças a seu cargo com o fundamento que “se Deus lhe perdoou 35 vezes, não era fora de propósito que os homens lhe perdoassem uma”.
Uma história verídica aconteceu no fim do reinado de D. José I, quando uma ama de criação foi condenada à morte, em Coimbra, por ter assassinado 33 crianças abandonadas que lhe tinham sido entregues a troco de subsídio, pelas instituições de assistência!

Vidas!


Os homens tratam as suas vidas, como as crianças tratam os brinquedos: maltratando-a primeiro, deitando-a fora, depois.

Champions!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Carlos Drummond de Andrade.


SENTIMENTO DO MUNDO

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados

ao amanhecer esse amanhecer
mais noite que a noite.

Alexandre Dumas!


São as mulheres que nos inspiram para as grandes coisas que elas próprias nos impedem de realizar.

Receitas tradicionais da nossa região.

Arrepiados de Almoster


Ingredientes:


5 claras ;
500 gr de açúcar ;
500 gr de amêndoa com pele ;
raspa e sumo de limão
Confecção:

Comece por bater as claras em neve, após o que deverá adicionar o sumo de limão e o açúcar e continue a bater, sempre para o mesmo lado, até ganhar bolhas. Em seguida, junte a raspa de limão. Entretanto, corte o miolo de amêndoa em falhas e vá juntando este à mistura de claras, sem bater muito. Num tabuleiro untado de azeite, deite colheradas do preparado. Os montinhos deverão ficar afastados uns dos outros.
Leve ao forno a cozer, durante 15 minutos.

Sem fim.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Adoro!

Transfronteiriços!

Dois putos: um Português e um Espanhol.

O puto espanholito tinha a mania de chegar ao pé do Portuga e dizer-lhe:

- Eu como chocolate e tu comes broa!

O Portuga, farto de ouvir aquilo (e de comer broa), quando o espanhol chega e lhe diz novamente:

- Eu como chocolate e tu comes broa!

- Ah é ? mas eu tenho um governo do PS e tu não tens!

O Espanholito, apanhado de surpresa, vai para casa e pergunta à mãe o que é que há-de dizer para responder ao sacana do Tuga.

A mãe diz-lhe:

- Quando ele te disser isso, diz que não tens... mas que vais ter!

Então, quando se encontram novamente o puto diz:

- A minha mãe disse-me que não temos um governo do PS mas que vamos ter!

Responde o tuguinho:

- Ai sim? Então vais passar a comer broa que te lixas!!!

Marchas populares em Constância.




Sábado - 28 de Junho
Cumprindo aquilo que já é uma tradição em Constância, a Marcha do Bairro Chão da Feira vai voltar a dançar no Parque de Merendas, no próximo sábado, dia 28 de Junho, a partir das 22h00.

No entanto, e porque é véspera de S. Pedro, o arraial popular vai começar logo a partir das 15h00 com a abertura da quermesse, ao qu ese seguirão muitas outras actividades (conforme programa que abaixo se publica).

A Marcha do Chão da Feira é uma organização do próprio bairro, a qual conta com os apoios dos Moradores de Constância e Amigos, Escola EB 2/3 Luís de Camões de Constância, Câmara Municipal de Constância, Junta de Freguesiade Constância, G.N,R. de Constância e Café "Os Arcos".
Por CMC

terça-feira, 24 de junho de 2008

Anedotas da nossa história!

OS TRATADOS DA VERGONHA (1810)
Os Tratados da Vergonha tinham o nome oficial de Tratado da Paz e da Amizade e outro do Comércio. O último consistia em Portugal, a troco de nada, comprometer-se a:
1º Não fazer regulamentos que prejudicassem o comércio inglês (artº 6)
2º Franquear a circulação e o estabelecimento de cidadãos ingleses em território português (artº 7)
3º Não criar monopólios (a fim de impedir o favorecimento de nacionais), sem prejuízo do já estabelecido, o do tabaco (artº 8)
4º Todos os feitos (crimes) envolvendo britânicos seriam julgados por juízes por eles nomeados! (artº 10)
5º Não cobrar taxa aduaneira aos produtos ingleses superior a 15%, sendo esses 15% o valor declarado pelos próprios comerciantes ingleses! (artº 15-16)
Convém salientar que os produtos portugueses eram taxados a 16%, ou seja, na prática, os produtos ingleses eram protegidos dos portugueses! Só mesmo D. João VI! (VB-138)
Como resultado, se o comércio Portugal-Brasil foi de 63.540 contos de 1797-1806, baixou depois para cerca de metade entre 1806-1819!

Ruas de Constância.

O que é sincero não muda.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Os lusíados-Canto II




1

Já neste tempo o lúcido Planeta,
Que as horas vai do dia distinguindo,
Chegava à desejada e lenta meta,
A luz celeste às gentes encobrindo,
E da casa marítima secreta
Lhe estava o Deus Noturno a porta abrindo,
Quando as infidas gentes se chegaram
As naus, que pouco havia que ancoraram.

2

Dentre eles um, que traz encomendado
O mortífero engano, assim dizia:
"Capitão valeroso, que cortado
Tens de Neptuno o reino e salsa via,
O Rei que manda esta ilha, alvoroçado
Da vinda tua, tem tanta alegria,
Que não deseja mais que agasalhar-te,
Ver-te, e do necessário reformar-te.

3

"E porque está em extremo desejoso
De te ver, como cousa nomeada,
Te roga que, de nada receoso,
Entres a barra, tu com toda armada:
E porque do caminho trabalhoso
Trarás a gente débil e cansada,
Diz que na terra podes reformá-la,
Que a natureza obriga a desejá-la.

4

"E se buscando vás mercadoria
Que produze o aurífero Levante,
Canela, cravo, ardente especiaria,
Ou droga salutífera e prestante;
Ou se queres luzente pedraria,
O rubi fino, o rígido diamante,
Daqui levarás tudo tão sobejo
Com que faças o fim a teu desejo."

5

Ao mensageiro o Capitão responde
As palavras do Rei agradecendo:
E diz que, porque o Sol no mar se esconde,
Não entra para dentro, obedecendo;
Porém que, como a luz mostrar por onde
Vá sem perigo a frota, não temendo,
Cumprirá sem receio seu mandado,
Que a mais por tal senhor está obrigado.

6

Pergunta-lhe depois, se estão na terra
Cristãos, como o piloto lhe dizia;
O mensageiro astuto, que não erra,
Lhe diz, que a mais da gente em Cristo cria.
Desta sorte do peito lhe desterra
Toda a suspeita e cauta fantasia;
Por onde o Capitão seguramente
Se fia da infiel e falsa gente.

7

E de alguns que trazia condenados
Por culpas e por feitos vergonhosos,
Por que pudessem ser aventurados
Em casos desta sorte duvidosos,
Manda dous mais sagazes, ensaiados,
Por que notem dos Mouros enganosos
A cidade e poder, e por que vejam
Os Cristãos, que só tanto ver desejam.

8

E por estes ao Rei presentes manda,
Por que a boa vontade, que mostrava,
Tenha firme, segura, limpa e branda;
A qual bem ao contrário em tudo estava.
Já a companhia pérfida e nefanda
Das naus se despedia e o mar cortava:
Foram com gestos ledos e fingidos,
Os dous da frota em terra recebidos.

9

E depois que ao Rei apresentaram,
Co'o recado, os presentes que traziam,
A cidade correram, e notaram
Muito menos daquilo que queriam;
Que os Mouros cautelosos se guardaras
De lhes mostrarem tudo o que pediam:
Que onde reina a malícia, está o receio,
Que a faz imaginar no peito alheio.

10

Mas aquele que sempre a mocidade
Tem no rosto perpétua, e foi nascido
De duas mães, que urdia a falsidade
Por ver o navegante destruído,
Estava numa casa da cidade,
Com rosto humano e hábito fingido,
Mostrando-se Cristão, e fabricava
Um altar sumptuoso, que adorava.

11

Ali tinha em retrato afigurada
Do alto e Santo Espírito a pintura:
A cândida pombinha debuxada
Sobre a única Fénix, Virgem pura;
A companhia santa está pintada
Dos doze, tão torvados na figura,
Como os que, só das línguas que caíram,
De fogo, várias línguas referiram.

12

Aqui os dous companheiros conduzidos
Onde com este engano Baco estava,
Põem em terra os giolhos, e os sentidos
Naquele Deus que o mundo governava.
Os cheiros excelentes, produzidos
Na Pancaia odorífera, queimava
O Tioneu, e assim por derradeiro
O falso Deus adora o verdadeiro.

13

Aqui foram de noite agasalhados,
Com todo o bom e honesto tratamento,
Os dous Cristãos, não vendo que enganados
Os tinha o falso e santo fingimento.
Mas assim como os raios espalhados
Do Sol foram no mundo, e num momento
Apareceu no rúbido horizonte
Da moça de Titão a roxa fronte,

14

Tornam da terra os Mouros co'o recado
Do Rei, para que entrassem, e consigo
Os dous que o Capitão tinha mandado,
A quem se o Rei mostrou sincero amigo;
E sendo o Português certificado
De não haver receio de perigo,
E que gente de Cristo em terra havia,
Dentro no salso rio entrar queria.

15

Dizem-lhe os que mandou, que em terra
Sacras aras e sacerdote sinto; viram
Que ali se agasalharam o dormiram,
Enquanto a luz cobriu o escuro manto;
E que no Rei e gentes não sentiram
Senão contentamento e gosto tanto,
Que não podia certo haver suspeita
Numa mostra tão clara e tão perfeita.

16

Com isto o nobre Gama recebia
Alegremente os Mouros que subiam;
Que levemente um ânimo se fia
De mostras, que tão certas pareciam.
A nau da gente pérfida se enchia,
Deixando a bordo os barcos que traziam.
Alegres vinham todos, porque crêm
Que a presa desejada certa têm.

17

Na terra, cautamente aparelhavam
Armas e munições que, como vissem
Que no rio os navios ancoravam,
Neles ousadamente se subissem;
E, nesta treição determinavam
Que os de Luso de todo destruíssem,
E que incautos pagassem deste jeito
O mal que em Moçambique tinham feito.

18

As âncoras tenaces vão levando
Com a náutica grita costumada;
Da proa as velas sós ao vento dando
Inclinam para a barra abalizada.
Mas a linda Ericina, que guardando
Andava sempre a gente assinalada,
Vendo a cilada grande, e tão secreta,
Voa do Céu ao mar como uma seta.

19

Convoca as alvas filhas de Nereu,
Com toda a mais cerúlea companhia,
Que, porque no salgado mar nasceu,
Das águas o poder lhe obedecia.
E propondo-lhe a causa a que desceu,
Com todas juntamente se partia,
Para estorvar que a armada não chegasse

20

Já na água erguendo vão, com grande pressa,
Com as argênteas caudas branca escuma;
Cloto eo'o peito corta e atravessa
Com mais furor o mar do que costuma.
Salta Nise, Nerine se arremessa
Por cima da água crespa, em força suma.
Abrem caminho as ondas encurvadas
De temor das Nereidas apressadas.

21

Nos ombros de um Tritão, com gesto aceso,
Vai a linda Dione furiosa;
Não sente quem a leva o doce peso,
De soberbo com carga tão formosa.
Já chegam perto donde o vento teso
Enche as velas da frota belicosa;
Repartem-se e rodeiam nesse instante
As naus ligeiras, que iam por diante.

22

Põe-se a Deusa com outras em direito
Da proa capitaina, e ali fechando
O caminho da barra, estão de jeito,
Que em vão assopra o vento, a vela inchando.
Põem no madeiro duro o brando peito,
Para detrás a forte nau forçando;
Outras em derredor levando-a estavam,
E da barra inimiga a desviavam.

23

Quais para a cova as próvidas formigas,
Levando o peso grande acomodado,
As forças exercitam, de inimigas
Do inimigo inverno congelado;
Ali são seus trabalhos e fadigas,
Ali mostram vigor nunca esperado:
Tais andavam as Ninfas estorvando
A gente Portuguesa o fim nefando.

24

Torna para detrás a nau forçada,
Apesar dos que leva, que gritando
Mareiam velas; ferve a gente irada,
O leme a um bordo e a outro atravessando;
O mestre astuto em vão da popa brada,
Vendo como diante ameaçando
Os estava um marítimo penedo,
Que de quebrar-lhe a nau lhe mete medo.

25

A celeuma medonha se alevanta
No rudo marinheiro que trabalha;
O grande estrondo a Maura gente espanta,
Como se vissem hórrida batalha;
Não sabem a razão de fúria tanta,
Não sabem nesta pressa quem lhe valha;
Cuidam que seus enganos são sabidos,
E que hão de ser por isso aqui punidos.

26

Ei-los subitamente se lançavam
A seus batéis velozes que traziam;
Outros em cima o mar alevantavam,
Saltando n'água, a nado se acolhiam;
De um bordo e doutro súbito saltavam,
Que o medo os compelia do que viam;
Que antes querem ao mar aventurar-se
Que nas mãos inimigas entregar-se.

27

Assim como em selvática alagoa
As rãs, no tempo antigo Lícia gente,
Se sentem por ventura vir pessoa,
Estando fora da água incautamente,
Daqui e dali saltando, o charco soa,
Por fugir do perigo que se sente,
E acolhendo-se ao couto que conhecem,
Sós as cabeças na água lhe aparecem:

28

Assim fogem os Mouros; e o piloto,
Que ao perigo grande as naus guiara,
Crendo que seu engano estava noto,
Também foge, saltando na água amara.
Mas, por não darem no penedo imoto,
Onde percam a vida doce e cara,
A âncora solta logo a capitaina,
Qualquer das outras junto dela amaina.

29

Vendo o Gama, atentado, a estranheza
Dos Mouros, não cuidada, e juntamente
O piloto fugir-lhe com presteza,
Entende o que ordenava a bruta gente;
E vendo, sem contraste e sem braveza
Dos ventos, ou das águas sem corrente,
Que a nau passar avante não podia,
Havendo-o por milagre, assim dizia:

30

"Ó caso grande, estranho e não cuidado,
Ó milagre claríssimo e evidente,
Ó descoberto engano inopinado,
Ó pérfida, inimiga e falsa gente!
Quem poderá do mal aparelhado
Livrar-se sem perigo sabiamente,
Se lá de cima a Guarda soberana
Não acudir à fraca força humana?

31

"Bem nos mostra a divina Providência
Destes portos a pouca segurança;
Bem claro temos visto na aparência,
Que era enganada a nossa confiança.
Mas pois saber humano nem prudência
Enganos tão fingidos não alcança,
Ó tu, Guarda Divina, tem cuidado
De quem sem ti não pode ser guardado!

32

"E se te move tanto a piedade
Desta mísera gente peregrina,
Que só por tua altíssima bondade,
Da gente a salvas pérfida e malina,
Nalgum porto seguro de verdade
Conduzir-nos já agora determina,
Ou nos amostra a terra que buscamos,
Pois só por teu serviço navegamos."

33

Ouviu-lhe essas palavras piedosas
A formosa Dione, e comovida,
Dentre as Ninfas se vai, que saudosas
Ficaram desta súbita partida.
Já penetra as Estrelas luminosas,
Já na terceira Esfera recebida
Avante passa, e lá no sexto Céu,
Para onde estava o Padre, se moveu.

34

E como ia afrontada do caminho,
Tão formosa no gesto se mostrava,
Que as Estrelas e o Céu e o Ar vizinho,
E tudo quanto a via namorava.
Dos olhos, onde faz seu filho o ninho,
Uns espíritos vivos inspirava,
Com que os Pólos gelados acendia,
E tornava do Fogo a esfera fria.

35

E por mais namorar o soberano
Padre, de quem foi sempre amada e eriça,
Se lhe apresenta assim como ao Troiano,
Na selva Idea, já se apresentara.
Se a vira o caçador, que o vulto humano
Perdeu, vendo Diana na água clara,
Nunca os famintos galgos o mataram,
Que primeiro desejos o acabaram.

36

Os crespos fios d'ouro se esparziam
Pelo colo, que a neve escurecia;
Andando, as lácteas tetas lhe tremiam,
Com quem Amor brincava, e não se via;
Da alva petrina flamas lhe saíam,
Onde o Menino as almas acendia;
Pelas lisas colunas lhe trepavam
Desejos, que como hera se enrolavam.

37

C'um delgado sendal as partes cobre,
De quem vergonha é natural reparo,
Porém nem tudo esconde, nem descobre,
O véu, dos roxos lírios pouco avaro;
Mas, para que o desejo acenda o dobre,
Lhe põe diante aquele objeto raro.
Já se sentem no Céu, por toda a parte,
Ciúmes em Vulcano, amor em Marte.

38

E mostrando no angélico semblante
Co'o riso uma tristeza misturada,
Como dama que foi do incauto amante
Em brincos amorosos mal tratada,
Que se aqueixa e se ri num mesmo instante,
E se torna entre alegre magoada,
Desta arte a Deusa, a quem nenhuma iguala,
Mais mimosa que triste ao Padre fala:

39

"Sempre eu cuidei, ó Padre poderoso,
Que, para as cousas que eu do peito amasse,
Te achasse brando, afábil e amoroso,
Posto que a algum contrário lhe pesasse;
Mas, pois que contra mim te vejo iroso,
Sem que to merecesse, nem te errasse,
Faça-se como Baco determina;
Assentarei enfim que fui mofina.

40

"Este povo que é meu, por quem derramo
As lágrimas que em vão caídas vejo,
Que assaz de mal lhe quero, pois que o amo,
Sendo tu tanto contra meu desejo!
Por ele a ti rogando choro e bramo,
E contra minha dita enfim pelejo.
Ora pois, porque o amo é mal tratado,
Quero-lhe querer mal, será guardado.

41

"Mas moura enfim nas mãos das brutas gentes,
Que pois eu fui..." E nisto, de mimosa,
O rosto banha em lágrimas ardentes,
Como co'o orvalho fica a fresca rosa.
Calada um pouco, como se entre os dentes
Se lhe impedira a fala piedosa,
Torna a segui-la; e indo por diante,
Lhe atalha o poderoso e grão Tonante.

42

E destas brandas mostras comovido,
Que moveram de um tigre o peito duro,
Co'o vulto alegre, qual do Céu subido,
Torna sereno e claro o ar escuro,
As lágrimas lhe alimpa, e acendido
Na face a beija, e abraça o colo puro;
De modo que dali, se só se achara,
Outro novo Cupido se gerara.

43

E co'o seu apertando o rosto amado,
Que os soluços e lágrimas aumenta,
Como menino da ama castigado,
Que quem no afaga o choro lhe acrescente,
Por lhe pôr em sossego o peito irado,
Muitos casos futuros lhe apresenta.
Dos fados as entranhas revolvendo,
Desta maneira enfim lhe está dizendo:

44

"Formosa filha minha, não temais
Perigo algum nos vossos Lusitanos,
Nem que ninguém comigo possa mais,
Que esses chorosos olhos soberanos;
Que eu vos prometo, filha, que vejais
Esquecerem-se Gregos e Romanos,
Pelos ilustres feitos que esta gente
Há-de fazer nas partes do Oriente.

45

"Que se o facundo Ulisses escapou
De ser na Ogígia ilha eterno escravo,
E se Antenor os seios penetrou
Ilíricos e a fonte de Timavo;
E se o piedoso Eneias navegou
De Cila e de Caríbdis o mar bravo,
Os vossos, mores cousas atentando,
Novos mundos ao mundo irão mostrando.

46

"Fortalezas, cidades e altos muros,
Por eles vereis, filha, edificados;
Os Turcos belacíssimos e duros,
Deles sempre vereis desbaratados.
Os Reis da índia, livres e seguros,
Vereis ao Rei potente sojugados;
E por eles, de tudo enfim senhores,
Serão dadas na terra leis melhores.

47

"Vereis este, que agora pressuroso
Por tantos medos o Indo vai buscando,
Tremer dele Neptuno, de medroso
Sem vento suas águas encrespando.
Ó caso nunca visto e milagroso,
Que trema e ferva o mar, em calma estando!
Ó gente forte e de altos pensamentos,
Que também dela hão medo os Elementos!

48

"Vereis a terra, que a água lhe tolhia,
Que inda há-de ser um porto mui decente,
Em que vão descansar da longa via
As naus que navegarem do Ocidente.
Toda esta costa enfim, que agora urdia
O mortífero engano, obediente
Lhe pagará tributos, conhecendo
Não poder resistir ao Luso horrendo.

49

"E vereis o mar Roxo, tão famoso,
Tornar-se-lhe amarelo, de enfiado;
Vereis de Ormuz o Reino poderoso
Duas vezes tomado e sojugado.
Ali vereis o Mouro furioso
De suas mesmas setas traspassado:
Que quem vai contra os vossos, claro veja
Que, se resiste, contra si peleja.

50

"Vereis a inexpugnábil Dio forte,
Que dous cercos terá, dos vossos sendo.
Ali se mostrará seu preço e sorte,
Feitos de armas grandíssimos fazendo.
Invejoso vereis o grão Mavorte
Do peito Lusitano fero e horrendo:
Do Mouro ali verão que a voz extrema
Do falso Mahamede ao Céu blasfema.

51

"Goa vereis aos Mouros ser tomada,
A qual virá depois a ser senhora
De todo o Oriente, e sublimada
Co'os triunfos da gente vencedora.
Ali soberba, altiva, e exalçada,
Ao Gentio, que os ídolos adora,
Duro freio porá, e a toda a terra
Que cuidar de fazer aos vossos guerra.

52

"Vereis a fortaleza sustentar-se
De Cananor, com pouca força e gente;
E vereis Calecu desbaratar-se,
Cidade populosa e tão potente:
E vereis em Cochim assinalar-se
Tanto um peito soberbo e insolente,
Que cítara jamais cantou vitória,
Que assim mereça eterno nome e glória.

53

"Nunca com Marte instructo e furioso,
Se viu ferver Leucate, quando Augusto
Nas civis Actias guerras animoso,
O Capitão venceu Romano injusto,
Que dos povos da Aurora, e do famoso
Nilo, e do Bactra Cítico e robusto
A vitória trazia, e presa rica,
Preso na Egípcia linda e nego pudica.

54

Como vereis o mar fervendo aceso
Colos incêndios dos vossos pelejando,
Levando o Idololatra, e o Mouro preso,
De nações diferentes triunfando.
E sujeita a rica Áurea Quersoneso,
Até ao longínquo China navegando,
E as ilhas mais remotas do Oriente,
Ser-lhe-á todo o Oceano obediente.

55

"De modo, filha minha, que de jeito
Amostrarão esforço mais que humano,
Que nunca se verá tão forte peito,
Do Gangético mar ao Gaditano,
Nem das Boreais ondas ao Estreito,
Que mostrou o agravado Lusitano,
Posto que em todo o mundo, de afrontados,
Ressuscitassem todos os passados."

56

Como isto disse, manda o consagrado
Filho de Maia à Terra, por que tenha
Um pacífico porto o sossegado,
Para onde sem receio a frota venha;
F, para que em Mombaça, aventurado,
O forte Capitão se não detenha,
Lhe manda mais, que em sonhos lhe mostra
A terra, onde quieto repousasse.

57

Já pelo ar o Cileneu voava;
Com as asas nos pés à Terra desce;
Sua vara fatal na mão levava,
Com que os olhos cansados adormece:
Com esta, as tristes almas revocava
Do Inferno, e o vento lhe obedece.
Na cabeça o galero costumado.
E desta arte a Melinde foi chegado.

58

Consigo a Fama leva, por que diga
Do Lusitano o preço grande e raro,
Que o nome ilustre a um certo amor obriga
E faz, a quem o tem, amado e caro.
Desta arte vai fazendo a gente amiga,
Co rumor famosíssimo, e perclaro.
Já Melinde em desejos arde todo
De ver da gente forte o gesto e modo.

59

Dali para Mombaça logo parte,
Aonde as naus estavam temerosas,
Para que à gente mande que se aparte
Da barra amiga e terras suspeitosas:
Porque mui pouco val esforço e arte,
Contra infernais vontades enganosas;
Pouco val coração, astúcia e siso,
Se lá dos Céus não vem celeste aviso.

60

No feio caminho a noite tinha anelado,
E, as estrelas no Céu, coa luz alhea,
Tinham o largo Mundo alumiado;
E só co'o sono a gente se recreia.
O Capitão ilustre, já cansado
De vigiar a noite que arreceia,
Breve repouso então aos olhos dava,
A outra gente a quartos vigiava;

61

Quando Mercúrio em sonhos lhe aparece,
Dizendo: "Fuge, fuge, Lusitano,
Da cilada que o Rei malvado tece,
Por te trazer ao fim, e extremo dano;
Fuge, que o vento, e o Céu te favorece;
Sereno o tempo tens e o Oceano,
E outro Rei mais amigo, noutra parte,
Onde podes seguro agasalhar-te.

62

"Não tens aqui senão aparelhado
O hospício que o cru Diomedes dava,
Fazendo ser manjar acostumado
De cavalos a gente que hospedava;
As aras de Busíris infamado,
Onde os hóspedes tristes imolava,
Terás certas aqui, se muito esperas.
Fuge das gentes pérfidas e feras.

63

"Vai-te ao longo da costa discorrendo,
E outra terra acharás de mais verdade,
Lá quase junto donde o Sol ardendo
Iguala o dia e noite em quantidade;
Ali tua frota alegre recebendo
Um Rei, com muitas obras de amizade,,
Gasalhado seguro te daria,
E, para a índia, certa e sábia guia."

64

Isto Mercúrio disse, e o sono leva
Ao Capitão, que com mui grande espanto
Acorda, e vê ferida a escura treva
De uma súbita luz e raio santo.
E vendo claro quanto lhe releva
Não se deter na terra iníqua tanto,
Com novo espírito ao mestre seu mandava
Que as velas desse ao vento que assopravam.

65

"Dai velas, disse, dai ao largo vento,
Que o Céu nos favorece e Deus o manda;
Que um mensageiro vi do claro assento
Que só em favor de nossos passos anda."
Alevanta-se nisto o movimento
Dos marinheiros, de uma e de outra banda;
Levam gritando as âncoras acima,
Mostrando a ruda força, que se estima.

66

Neste tempo, que as âncoras levavam,
Na sombra escura os Mouros escondidos
Mansamente as amarras lhe cortavam,
Por serem, dando à costa, destruídos;
Mas com vista de linces vigiavam
Os Portugueses, sempre apercebidos.
Eles, como acordados os sentiram,
Voando, e não remando, lhe fugiram.

67

Mas já as agudas proas apartando
Iam as vias húmidas de argento;
Assopra-lhe galerno o vento, e brando,
Com suave e seguro movimento.
Nos perigos passados vão falando,
Que mal se perderão do pensamento
Os casos grandes, donde em tanto aperto
A vida em salvo escapa por acerto.

68

Tinha uma volta dado o Sol ardente
E noutro começava, quando viram
Ao longe deus navios, brandamente
Co'os ventos navegando, que respiram:
Porque haviam de ser da Maura gente,
Para eles arribando, as velas viram:
Um, de temor do mal que arreceava,
Por se salvar a gente à costa dava.

69

Não é o outro que fica tão manhoso;
Mas nas mãos vai cair do Lusitano,
Sem o rigor de Marte furioso,
E sem a fúria horrenda de Vulcano;
Que como fosse débil e medroso
Da pouca gente o fraco peito humano,
Não teve resistência; e se a tivera,
Mais dano resistindo recebera.

70

E como o Gama muito desejasse
Piloto para a Índia que buscava,
Cuidou que entre estes Mouros o tomasse;
Mas não lhe sucedeu como cuidava,
Que nenhum deles há que lhe ensinasse
A que parte dos céus a Índia estava;
Porém dizem-lhe todos, que tem perto
Melinde, onde achará piloto certo.

71

Louvam do Rei os Mouros a bondade,
Condição liberal, sincero peito,
Magnificência grande e humanidade,
Com partes de grandíssimo respeito.
O Capitão o assela por verdade,
Porque já lhe dissera, deste jeito,
Cileneu em sonhos; e partia
Para onde o sonho e o Mouro lhe dizia.

72

Era no tempo alegre, quando entrava
No roubador de Europa a luz Febeia,
Quando um e outro corno lhe aquentava,
E Flora derramava o de Amalteia:
A memória do dia renovava
O pressuroso Sol, que o Céu rodeia,
Em que Aquele, a quem tudo está sujeito,
O selo pôs a quanto tinha feito;

73

Quando chegava a frota àquela parte,
Onde o Reino Melinde já se via,
De toldos adornada, e leda de arte
Que bem mostra estimar o santo dia.
Treme a bandeira, voa o estandarte,
A cor purpúrea ao longe aparecia;
Soam os atambores o pandeiros,
E assim entravam ledos e guerreiros.

74

Enche-se toda a praia Melindana
Da gente que vem ver a leda armada,
Gente mais verdadeira, e mais humana,
Que toda a doutra terra atrás deixada.
Surge diante a frota Lusitana,
Pega no fundo a âncora pesada;
Mandam fora um dos Mouros que tomaram,
Por quem sua vinda ao Rei manifestaram.

75

O Rei, que já sabia da nobreza
Que tanto os Portugueses engrandece,
Tomarem o seu porto tanto preza,
Quanto a gente fortíssima merece:
E com verdadeiro ânimo e pureza,
Que os peitos generosos enobrece,
Lhe manda rogar muito que saíssem,
Para que de seus reinos se servissem.

76

São oferecimentos verdadeiros,
E palavras sinceras, não dobradas,
As que o Rei manda aos nobres cavaleiros,
Que tanto mar e terras tem passadas.
Manda-lhe mais lanígeros carneiros,
E galinhas domésticas cevadas,
Com as frutas, que então na terra havia;
E a vontade à dádiva excedia.

77

Recebe o Capitão alegremente
O mensageiro ledo e seu recado;
E logo manda ao Rei outro presente,
Que de longe trazia aparelhado:
Escarlata purpúrea, cor ardente,
O ramoso coral, fino e prezado,
Que debaixo das águas mole cresce,
E como é fora delas se endurece.

78

Manda mais um, na prática elegante,
Que co'o Rei nobre as pazes concertasse,
E que de não sair naquele instante
De suas naus em terra o desculpasse.
Partido assim o embaixador prestante,
Como na terra ao Rei se apresentasse,
Com estilo que Palas lhe ensinava,
Estas palavras tais falando orava:

79

"Sublime Rei, a quem do Olimpo puro
Foi da suma Justiça concedido
Refrear o soberbo povo duro,
Não menos dele amado, que temido:
Como porto mui forte e mui seguro,
De todo o Oriente conhecido,
Te vimos a buscar, para que achemos
Em ti o remédio certo que queremos.

80

"Não somos roubadores, que passando
Pelas fracas cidades descuidadas,
A ferro e a fogo as gentes vão matando,
Por roubar-lhe as fazendas cobiçadas;
Mas da soberba Europa navegando,
Imos buscando as terras apartadas
Da Índia grande e rica, por mandado
De um Rei que temos, alto e sublimado.

81

"Que geração tão dura há hi de gente,
Que bárbaro costume e usança feia,
Que não vedem os portos tão somente,
Mas inda o hospício da deserta areia?
Que má tenção, que peito em nós se sente,
Que de tão pouca gente se arreceia?
Que com laços armados, tão fingidos,
Nos ordenassem ver-nos destruídos?

82

"Mas tu, e quem mui certo confiamos
Achar-se mais verdade, ó Rei benigno,
E aquela certa ajuda em ti esperamos,
Que teve o perdido Ítaco em Alcino,
A teu porto seguro navegamos,
Conduzidos do intérprete divino;
Que, pois a ti nos manda, está mui claro,
Que és de peito sincero, humano e raro.

83

"E não cuides, ó Rei, que não saísse
O nosso Capitão esclarecido
A ver-te, ou a servir-te, porque visse
Ou suspeitasse em ti peito fingido:
Mas saberás que o fez, porque cumprisse
O regimento, em tudo obedecido,
De seu Rei, que lhe manda que não saia,
Deixando a frota, em nenhum porto ou praia.

84

"E porque é, de vassalos o exercício,
Que os membros tem regidos da cabeça,
Não quererás, pois tens de Rei o ofício,
Que ninguém a seu Rei desobedeça;
Mas as mercês e o grande benefício,
Que ora acha em ti, promete que conheça
Em tudo aquilo que ele e os seus puderem,
Enquanto os rios para o mar correrem."

85

Assim dizia; e todos juntamente,
Uns com outros em prática falando,
Louvavam muito o estâmago da gente,
Que tantos céus e mares vai passando.
E o Rei ilustre, o peito obediente
Dos Portugueses na alma imaginando,
Tinha por valor grande e mui subido
O do Rei que é tão longe obedecido.

86

E com risonha vista e ledo aspeito,
Responde ao embaixador, que tanto estima:
"Toda a suspeita má tirai do peito,
Nenhum frio temor em vós se imprima;
Que vosso preço e obras são de jeito
Para vos ter o mundo em muita estima;
E quem vos fez molesto tratamento,
Não pode ter subido pensamento.

87

"De não sair em terra toda a gente,
Por observar a usada preminência,
Ainda que me pese estranhamente,
Em muito tenho a muita obediência;
Mas, se lho o regimento não consente,
Nem eu consentirei que a excelência
De peitos tão leais em si desfaça,
Só porque a meu desejo satisfaça.

88

"Porém, como a luz crástina chegada
Ao mundo for, em minhas almadias
Eu irei visitar a forte armada,
Que ver tanto desejo, há tantos dias;
E se vier do mar desbaratada,
Do furioso vento e longas vias,
Aqui terá, de limpos pensamentos,
Piloto, munições e mantimentos."

89

Isto disse; e nas águas se escondia
O filho de Latona; e o mensageiro
Coa embaixada alegre se partia
Para a frota, no seu batel ligeiro.
Enchem-se os peitos todos de alegria.
Por terem o remédio verdadeiro
Para acharem a terra que buscavam;
E assim ledos a noite festejavam.

90

Não faltam ali os raios de artifício,
Os trêmulos cometas imitando;
Fazem os bombardeiros seu ofício,
O céu, a terra e as ondas atroando.
Mostra-se dos Ciclopas o exercício
Nas bombas que de fogo estão queimando;
Outros com vozes, com que o céu feriam,
Instrumentos altíssonos tangiam.

91

Respondem-lhe da terra juntamente,
Co'o raio volteando, com zunido;
Anda em giros no ar a roda ardente,
Estoura o pó sulfúreo escondido.
A grita se alevanta ao céu, da gente;
O mar se via em fogos acendido,
E não menos a terra; e assim festeja
Um ao outro, a maneira de peleja.

92

Mas já o Céu inquieto revolvendo,
As gentes incitava a seu trabalho,
E já a mãe de Menon a luz trazendo,
Ao sono longo punha certo atalho;
Iam-se as sombras lentas desfazendo,
Sobre as flores da terra em frio orvalho,
Quando o Rei Melindano se embarcava
A ver a frota, que no mar estava.

93

Viam-se em derredor ferver as praias
Da gente, que a ver só concorre leda;
Luzem da fina púrpura as cabaias,
Lustram os panos da tecida seda;
Em lugar das guerreiras azagaias
E do arco, que os cornos arremeda
Da Lua, trazem ramos de palmeira,
Dos que vencem, coroa verdadeira.

94

Um batel grande e largo, que toldado
Vinha de sedas de diversas cores,
Traz o Rei de Melinde, acompanhado
De nobres e seu Reino e de senhores:
Vem de ricos vestidos adornado,
Segundo seus costumes e primores;
Na cabeça uma fota guarnecida
De ouro, e de seda e de algodão tecida.

95

Cabaia de Damasco rico e dino,
Da Tíria cor, entre eles estimada,
Um colar ao pescoço, de ouro fino,
Onde a matéria da obra é superada,
C'um resplendor reluze adamantino;
Na cinta, a rica bem lavrada;
Nas alparcas dos pés, em fim de tudo,
Cobrem ouro e aljôfar ao veludo.

96

Com um redondo emparo alto de seda,
Numa alta e dourada hástia enxerido,
Um ministro à solar quentura veda.
Que não ofenda e queime o Rei subido.
Música traz na proa, estranha e leda,
De áspero som, horríssono ao ouvido,
De trombetas arcadas em redondo,
Que, sem concerto, fazem rudo estrondo.

97

Não menos guarnecido o Lusitano
Nos seus batéis, da frota se partia
A receber no mar o Melindano,
Com lustrosa e lograda companhia.
Vestido o Gama vem ao modo Hispano,
Mas Francesa era a roupa que vestia,
De cetim da Adriática Veneza
Carmesi, cor que a gente tanto preza:

98

De botões douro as mangas vêm tomadas,
Onde o Sol reluzindo a vista cega;
As calças soldadescas recamadas
Do metal, que Fortuna a tantos nega,
E com pontas do mesmo delicadas
Os golpes do gibão ajunta e achega;
Ao Itálico modo a áurea espada;
Pluma na gorra, um pouco declinada.

99

Nos de sua companhia se mostrava
Da tinta, que dá o múrice excelente,
A vária cor, que os olhos alegrava,
E a maneira do trajo diferente.
Tal o formoso esmalte se notava
Dos vestidos, olhados juntamente,
Qual aparece o arco rutilante
Da bela Ninfa, filha de Taumante.

100

Sonorosas trombetas incitavam
Os ânimos alegres, ressoando;
Dos Mouros os batéis, o mar coalhavam,
Os toldos pelas águas arrojando;
As bombardas horríssonas bramavam,
Com as nuvens de fumo o Sol tomando;
Amiúdam-se os brados acendidos,
Tapam com as mãos os Mouros os ouvidos.

101

Já no batel entrou do Capitão
O Rei, que nos seus braços o levava;
Ele coa cortesia, que a razão
(Por ser Rei) requeria, lhe falava.
C'umas mostras de espanto e admiração,
O Mouro o gesto e o modo lhe notava,
Como quem em mui grande estima tinha
Gente que de tão longe à índia vinha.

102

E com grandes palavras lhe oferece
Tudo o que de seus Reinos lhe cumprisse,
E que, se mantimento lhe falece,
Como se próprio fosse, lho pedisse.
Diz-lhe mais, que por fama bem conhece
A gente Lusitana, sem que a visse;
Que já ouviu dizer, que noutra terra
Com gente de sua Lei tivesse guerra.

103

E como por toda África se soa,
Lhe diz, os grandes feitos que fizeram,
Quando nela ganharam a coroa
Do Reino, onde as Hespéridas viveram;
E com muitas palavras apregoa
O menos que os de Luso mereceram,
E o mais que pela fama o Rei sabia.
Mas desta sorte o Gama respondia:

104

"Ó tu, que só tiveste piedade,
Rei benigno, da gente Lusitana,
Que com tanta miséria e adversidade
Dos mares experimenta a fúria insana;
Aquela alta e divina Eternidade,
Que o Céu revolve e rege a gente humana,
Pois que de ti tais obras recebemos,
Te pague o que nós outros não podemos.

105

"Tu só, de todos quantos queima Apolo,
Nos recebes em paz, cio mar profundo;
Em ti dos ventos hórridos de Eolo
Refúgio achamos bom, fido e jocundo.
Enquanto apascentar o largo Pólo
As Estrelas, e o Sol der lume ao Mundo,
Onde quer que eu viver, com fama e glória
Viverão teus louvores em memória."

106

Isto dizendo, os barcos vão remando
Para a frota, que o Mouro ver deseja;
Vão as naus uma e uma rodeando,
Porque de todas tudo note e veja.
Mas para o céu Vulcano fuzilando,
A frota coas bombardas o festeja,
E as trombetas canoras lhe tangiam;
Co'os anafis os Mouros respondiam.

107

Mas depois de ser tudo já notado
Do generoso Mouro, que pasmava
Ouvindo o instrumento inusitado,
Que tamanho terror em si mostrava,
Mandava estar quieto e ancorado
N'água o batel ligeiro que os levava,
Por falar de vagar co'o forte Gama,
Nas cousas de que tem notícia e faina.

108

Em práticas o Mouro diferentes
Se deleitava, perguntando agora
Pelas guerras famosas e excelentes
Co'o povo havidas, que a Mafoma adora;
Agora lhe pergunta pelas gentes
De toda a Hespéria última, onde mora;
Agora pelos povos seus vizinhos,
Agora pelos úmidos caminhos.

109

"Mas antes, valeroso Capitão,
Nos conta, lhe dizia, diligente,
Da terra tua o clima, e região
Do mundo onde morais distintamente;
E assim de vossa antiga geração,
E o princípio do Reino tão potente,
Co'os sucessos das guerras do começo,
Que, sem sabê-las, sei que são de preço.

110

"E assim também nos conta dos rodeios
Longos, em que te traz o mar irado,
Vendo os costumes bárbaros alheios.
Que a nossa África ruda tem criado.
Conta: que agora vêm co'os áureos freios
Os cavalos que o carro marchetado
Do novo Sol, da fria Aurora trazem,
O vento dorme, o mar e as ondas jazem.

111

"E não menos co'o tempo se parece
O desejo de ouvir-te o que contares;
Que quem há, que por fama não conhece
As obras Portuguesas singulares?
Não tanto desviado resplandece
De nós o claro Sol, para julgares
Que os Melindanos têm tão rudo peito,
Que não estimem muito um grande feito.

112

"Cometeram soberbos os Gigantes,
Com guerra vã, o Olimpo claro e puro;
Tentou Pirítoo e Teseu, de ignorantes,
O Reino de Plutão horrendo e escuro.
Se houve feitos no mundo tão possantes,
Não menos é trabalho ilustre e duro,
Quanto foi cometer Inferno o Céu,
Que outrem cometa a fúria de Nereu.

113

"Queimou o sagrado templo de Diana,
Do subtil Tesifónio fabricado,
Heróstrato, por ser da gente humana
Conhecido no mundo e nomeado:
Se também com tais obras nos engana
O desejo de um nome avantajado,
Mais razão há que queira eterna glória
Quem faz obras tão dignas de memória."

Willian Shakespeare

Anedotas da nossa história.

O POVO E OS JUDEUS
Vivendo numa terra sem saneamento básico e sujeita a sismos, o povo sempre culpou os judeus, que ainda por cima eram ricos pelo trabalho (os nobres eram por outros motivos), quer pelas pestes quer pelos terramotos.
Quando foi necessário dinheiro, 800 mil cruzados, para o dote da infanta D. Isabel que ia casar com o Imperador Carlos V, o povo, nas cortes, admitiu dar até 150 mil cruzados, quando ao resto, sugeriu ao rei D. João III o estabelecimento da inquisição, como ele, para assim conseguir o dinheiro, como ele mais tarde veio a fazer (António José Saraiva, A Inquisição Portuguesa. Lx, 1956: 17, cit. VB-178)

Noite de São João;




Por Alberto Caeiro







Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.

Divirtam-se.

domingo, 22 de junho de 2008

A guerra roubou-lhe a alma e os sonhos.


Põe anúncios no jornal a pedir uma mulher que aceite ter um filho seu



José António Pereira era um jovem como milhares de outros. Partiu de Constância para a guerra colonial em 1972. Em dois anos ficou psicologicamente arrasado. Ficou vivo mas perdeu a alma e os sonhos. Trinta anos depois põe anúncios nos jornais para arranjar uma mulher que esteja disposta a ter um filho seu.

Por causa da guerra tem a fachada da casa decorada com painés de azulejos com mensagens bizarras como: “Cuidado com o dono, que o cão está preso”. Por causa da guerra encheu a casa de centenas de bibelôs e faz colecção de tudo e mais alguma coisa. Por causa da guerra colonial põe anúncios nos jornais oferecendo dinheiro à mulher que aceite ter um filho seu. “A guerra estragou-me a vida toda. Se não tivesse ido à guerra, toda a minha vida seria diferente”, desabafa José António Pereira, conhecido na vila de Constância por “Paveia”.

Reformou-se da actividade de electricista há 23 anos e sofre há mais de 30 de distúrbio pós-traumático de stress de guerra. Esteve na guerra como radio-telegrafista, em Moçambique, entre 1972 e 1974. Estava lá há apenas seis meses quando a mãe morreu. Não pôde assistir ao funeral e só um ano e meio mais tarde é que chorou junto à sua campa.

Os primeiros indícios da doença surgiram em Junho de 1974, poucos meses antes de regressar a Portugal. Não dormia. Nem de noite nem de dia. “Também não dizia coisa com coisa”, acrescenta. Acabou por ser internado num hospital psiquiátrico. Regressa à metrópole em Outubro desse ano mas, segundo as suas palavras, ainda vinha pior da cabeça porque, já depois de sair do hospital, o tinham posto de sentinela à noite com a promessa que o regresso a Portugal seria mais rápido.

De tratamento em tratamento, as melhoras nunca foram significativas. Já esteve internado algumas vezes num conhecido hospital de saúde mental de Lisboa, as duas últimas a seu pedido. “Estava sozinho, não tomava a medicação pelo que fui eu próprio a pedir para ser internado para ver se me ajudavam”, explica. Já conta 18 anos desde a última vez que foi internado e, desde então, leva uma vida solitária, entre as suas fotografias antigas, colecções de automóveis em miniatura, e a paixão pelo Benfica

Há três semanas pôs um anúncio num jornal. Procura desesperadamente deixar descendência. Quer encontrar uma mulher que se disponha a ter um filho seu. “Não me custa estar solteiro, tenho pena é de não ter filhos”, explica o homem de meia-idade, bem-falante e educado. Oferece 500 euros mensais à mulher se disponha a realizar o seu maior sonho. É o terceiro anúncio do género que manda publicar mas, por diversas razões e circunstâncias, nunca teve êxito, isto apesar de ter recebido dezenas de respostas.

Pior do que combater

“Esta noite não durmo. Quando falo nestas coisas é uma noite sem dormir mas eu conto”, diz. E começa a desfiar memórias. Outubro de 1972. Comando de Defesa de Cahora Bassa, Moçambique. Cenário de guerra. Numa pequena caserna há alguém que está responsável por um dos postos de transmissões, recebendo e enviando mensagens codificadas via-rádio. Às seis da manhã, alguém pede socorro e ordem para evacuação. Há um soldado que levou um tiro no joelho e está a esvair-se em sangue. É emitida uma mensagem relâmpago.

O resgaste deveria ser feito de helicóptero mas para evacuar o ferido para o Hospital de Tete era necessário um helicóptero-canhão para proteger o outro. Não havia nenhum e o piloto do heli que transportaria o ferido não quis ir. Às três da tarde, altura em que estavam reunidas as condições para o resgate já o soldado tinha morrido, esvaído em sangue. “Uma coisa tão simples e morreu porque ninguém o socorreu. Sentia-me impotente para ajudar os outros e isso era desgastante”, conta José António Pereira. “Não andava a combater mas era pior que combater”, desabafa.

Recorda ainda o ataque de que a companhia e o posto de transmissões foi alvo, em 1973. “Cinco rampas de lançamento de foguetões dispararam a cerca de seis quilómetros do nosso quartel. A nossa sorte foi termos feito um abrigo, uma barraca de chapa ao lado da caserna de transmissões, porque já previamos que o quartel fosse atacado”, conta.

Por causa da guerra, José António Pereira quer instalar no jardim de sua casa um monumento aos que morreram em África. Aos que ficaram deficientes. Aos que, como ele, nunca mais voltaram a ser o que eram. Se um dia, por acaso, passar por lá e vir o memorial, não estranhe. Lembre-se da história de José António Dias Pereira. Lembre-se da história de todos os que sofreram na guerra.

Fonte:Mirante Online.

Um abraço José António Paveia.

José Régio.


Fado português.

O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

Ai, que lindeza tamanha,
meu chão, meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.

Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.

Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.

Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro veleiro
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

Literatura.


"Mas ela lia. Demoradamente, lia. Quando a provocavam, perguntava se ler não era melhor que falar e dizia: «sabemos lá o que dizemos. Mas eu tenho a certeza do que estou a ler.»"

Leitura para a semana.

Metade...

Cada um traça o seu caminho...


Se é o que estou a pensar:

-Até sempre Camarada.

sábado, 21 de junho de 2008

Solstício.


Curiosidades

Na linha do equador a duração dos dias é fixa ao longo das estações do ano com 12 horas de luz e 12 horas de noite. Desse modo os solstícios nessa linha não podem ser obtidos através de dias ou noites mais longas e somente podem ser observadas pela máxima inclinação da luz solar para o norte ou para o sul. Na linha do equador não há como dizer se um solstício é de verão ou de inverno uma vez que demarcam a separação dos hemisférios norte e sul da Terra.

Saber...


Saber ver é sentir o que se olha.

Vidas!


Há três grandes eventos nas nossas vidas: nascer, viver, e morrer. Do nascimento, não temos consciência; com a morte sofremos; e, quanto à vida, esquecemo-nos de a viver.

Intimidades.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Anedotas da nossa história.

A FUGA DE SÃO FRANCISCO XAVIER & SANTO ANTÓNIO!

Em 1770, os maratas indianos da cordilheira dos Gates resolveram descer e fazer saques nas proximidades de Goa. Revoltado, o vice-rei D. João José de Melo organizou 200 homens escolhidos a dedo e 2 generais intrépidos: S. Francisco Xavier, das Índias, e Sto António, de Lisboa! O tenente-coronel Manuel Pessinga Tinoco teve ordens, expressas e formais, de observar e cumprir, à risca, as ordens dadas pelos generais!
Marchava o destacamento em som de guerra, quando viram o inimigo. Mal o inimigo disparou, dispararam os portugueses a fugir! Mais depressa correu a notícia da fuga!
Quando no dia seguinte o tenente-coronel Tinoco chegou a Goa, foi preso e levado a julgamento militar. O julgamento foi fantástico!
Averiguado, sem ponta de dúvida, que os 2 generais, seus superiores, não tinham dado quaisquer ordens, ou instruções, e assim se ver que estes tinham fugido, o Tribunal considerou legitimada a fuga de Tinoco, absolvendo-o por completo!
Não consta que os santos fossem levados a tribunal.

--------------------------------------------------------------------------------

Indústria do futuro.


"A fábrica do futuro terá apenas dois operários: Um homem e um cão.
Função do homem: alimentar o cão.

E Eça!


«Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão.»


Eça de Queiroz

Senhora do mar.

Gosto desta canção e em particular da agressividade com que ela é cantada.
Foi o que faltou aos Viriatos ontem quando defrontaram os germanos.

<

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Acabou...

A partir de amanhã vamos deixar de assobiar para o lado.

O custo de vida cada vez está mais caro.






Façam o favor de serem felizes.

Euro 2008


QUARTOS-DE-FINAL

PORTUGAL-ALEMANHA

Estádio: St Jakob-Park, em Basileia
Hora: 19:45
Árbitro: Peter Frojdfeldt (Suécia)

EQUIPAS OFICIAIS

PORTUGAL

1-Ricardo
4-José Bosingwa
15-Pepe
16-Ricardo Carvalho
2-Paulo Ferreira
8-Petit
10-João Moutinho
20-Deco
11-Simão
7-Cristiano Ronaldo
21-Nuno Gomes

Treinador: Luiz Felipe Scolari

Suplentes:
12-Nuno
22-Rui Patrício
3-Bruno Alves
5-Fernando Meira
6-Raul Meireles
9-Hugo Almeida
13-Miguel
14-Jorge Ribeiro
17-Ricardo Quaresma
18-Miguel Veloso
19-Nani
23-Hélder Postiga

ALEMANHA

1-Jens Lehmann
3-Arne Friedrich
17-Per Mertesacker
21-Christoph Metzelder
16-Philipp Lahm
6-Simon Rolfes
7-Bastian Schweinsteiger
15-Thomas Hitzlsperger
13-Michael Ballack
11-Miroslav Klose
20-Lukas Podolski

Treinador: Joachim Löw

Suplentes:
12-Robert Enke
23-Rene Adler
2-Marcell Jansen
4-Clemens Fritz
5-Heiko Westermann
8-Torsten Frings
9-Mario Gómez
10-Oliver Neuville
14-Piotr Trochowski
18-Tim Borowski
19-David Odonkor
22-Kevin Kuranyi

Resultado final 2-3 a favor da seleçcão Alemã.

Caroços de laranja.


"Quando eu disse ao caroço de laranja, que dentro dele dormia um laranjal inteirinho, ele me olhou estupidamente incrédulo".

Fernando Pessoa.


O outro lado de Pessoa-Quadras populares.


Saudades, só os Portugueses
Conseguem senti-las bem
Porque têm essa palavra
Para dizer que as têm


Deixaste cair a liga
Porque não estava apertada...
Por muito que a gente diga
A gente nunca diz nada.


Quando vieste da festa,
Vinhas cansada e contente.
A minha pergunta é esta:
Foi da festa ou foi da gente?

Não há verdade na vida
Que se não diga a mentir.
Há quem apresse a subida
Para descer a sorrir.


No baile em que dançam todos
Alguém fica sem dançar.
Melhor é não ir ao baile
Do que estar lá sem estar.


Santo Antônio de Lisboa
Era um grande pregador
Mas é por ser Santo António
Que as moças lhe têm amor

Anedotas da nossa história.

PADRE QUEIXA-SE QUE PAROQUIANOS NÃO MORREM!
O padre de Sagres tinha emolumentos funerários, mas os paroquianos não morriam, como ele próprio se queixa, numa carta escrita em 1573!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

"O menino que carregava água na peneira."


Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento
e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!

A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos

- Manoel de Barros -

Verão 2008


Animação de Verão 2008

Verão é sinónimo de férias, de lazer e de descanso. No entanto, a cultura, o saber e o conhecimento não têm fronteiras de espaço e de tempo.



Neste sentido, e sabendo que, para além dos próprios habitantes do nosso concelho e daqueles que regularmente nos visitam de concelhos vizinhos, Constância é escolhida por muitas e muitas pessoas como destino de férias, seja em estadia mais longa, seja num simples e curto fim-de-semana, a Câmara Municipal e outras entidades vão dinamizar uma série de espectáculos de ar livre, integrados na Animação de Verão, fazendo do nosso concelho, também nesta época do ano, um pólo de convergências entre a cultura e o lazer, o espectáculo e a animação.



ANIMAÇÃO DE VERÃO 2008

CONSTÂNCIA







5 DE JULHO | 21H30



ANFITEATRO DOS RIOS

23º FESTIVAL NACIONAL DE FOLCLORE “TEJO E ZÊZERE” 2008

ORGANIZAÇÃO: RANCHO FOLCLÓRICO “OS CAMPONESES” DE MALPIQUE





12 DE JULHO | 17H00» 20H00



CENTRO HISTÓRICO

“ILÍADA”, DE HOMERO – TEATRO



FEIRA DO LIVRO

ORGANIZAÇÃO: PARQUE ALMOUROL | MUNICÍPIO DE CONSTÂNCIA





12 DE JULHO | 22H00» 23H00



CENTRO HISTÓRICO

“DIDO E ENEIAS”, DE PURCELL – ÓPERA

ORGANIZAÇÃO: PARQUE ALMOUROL | MUNICÍPIO DE CONSTÂNCIA





13 DE JULHO | 17H00» 20H00



CENTRO HISTÓRICO

“ILÍADA”, DE HOMERO – TEATRO



FEIRA DO LIVRO

ORGANIZAÇÃO: PARQUE ALMOUROL | MUNICÍPIO DE CONSTÂNCIA





18 DE JULHO | 21h30



ANFITEATRO DOS RIOS

CONCERTO MUSICAL – ORQUESTRA DE SOPROS

ORGANIZAÇÃO: CHORAL PHYDELLIUS E ASSOCIAÇÃO FILARMÓNICA MONTALVENSE 24 DE JANEIRO





19 DE JULHO | 10H00» 02H00



PARQUE DE MERENDAS | ANFITEATRO DOS RIOS

3ª FESTA JOVEM

ORGANIZAÇÃO: JUNTA DE FREGUESIA DE CONSTÂNCIA





02 DE AGOSTO | 17H00



CENTRO HISTÓRICO

WORKSHOP DE DANÇA

ORGANIZAÇÃO: PARQUE ALMOUROL | MUNICÍPIO DE CONSTÂNCIA



02 DE AGOSTO | 22H00



CENTRO HISTÓRICO

BAILES DO MUNDO – VIOLONS ET TALONS (FRANÇA) – BAILE CIGANO

ORGANIZAÇÃO: PARQUE ALMOUROL | MUNICÍPIO DE CONSTÂNCIA





03 DE AGOSTO | 17H00» 20H00



MARGENS DO TEJO

MARÍTIMOS – ESPECTÁCULOS NÓMADAS EM CENA NO TEJO

ORGANIZAÇÃO: PARQUE ALMOUROL | MUNICÍPIO DE CONSTÂNCIA


Por CMC

Férias desportivas 2008;


Férias Desportivas 2008

Inscrições Abertas De 1 a 25 de Julho, vão decorrer em Constância as Férias Desportivas 2008, uma iniciativa destinada a crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 15 anos, organizadas pelo Agrupamento de Escolas de Constância, pela Associação Filarmónica Montalvense 24 de Janeiro, pelos Bombeiros Voluntários de Constância, pela Câmara Municipal de Constância e pela Associação “Os Quatros Cantos do Cisne” com o apoio do Instituto Português da Juventude.

Trabalhando em parceria com diversas entidades, vai ser possível implementar espaços de jogo, entretenimento, diversão, socialização e encontro com os outros e com o meio, ocupando os tempos livres das crianças.

As iniciativas dinamizadas no âmbito das Férias Desportivas 2008 têm como principais objectivos, possibilitar a ocupação saudável dos tempos livres das crianças e dos jovens participantes, sensibilizando-os para a frequência de actividades culturais e pedagógicas e para a prática desportiva generalizada e equilibrada, numa perspectiva lúdica.

As inscrições para as Férias Desportivas 2008 já podem ser efectuadas nos Centros de Actividades de Tempos Livres (ATL’S) do concelho, ou na Escola EB 2,3/S Luís de Camões.





Por CMC

terça-feira, 17 de junho de 2008

Rio...


Choveu de noite até encostar em mim. O rio deve estar
mais gordo. Escutei um perfume de sol nas águas.

Manoel de Barros

Anedotas da nossa história!

O ANALFABETISMO DA NOSSA TROPA
O Regulamento Militar do Conde de Lippe, de 18/1/1763, impunha que o sargento tinha de saber ler, escrever e contar, para prevenir que os oficiais, por serem nobres, fossem analfabetos.

Mar Português.



Lúcia Moniz.

Parque ambiental de Santa Margarida-Constância.


Parque Ambiental de Santa Margarida
O Parque Ambiental de Santa Margarida (PASM), é um projecto de origem municipal, integrado num programa mais vasto, o do Parque Almourol.



O PASM é um espaço de 6 hectares onde pode, para além desfrutar de momento de calma, contemplação e convívio, encontrar informação e formação ambiental.

Temos ao seu dispor:


§ ECOTECA
o Espaço Internet
o Centro de Documentação
o Exposições
o Laboratório
o Auditório
o Loja


§ LAZER
o Parque de Merendas
o Campo de Jogos
o Parque Infantil
o Anfiteatro ao ar Livre


§ DIDÁTICO
o Torre de Observação
o Jardim de Plantas Aromáticas e Medicinais
o Lagos e Riachos
o Relvados e Prados de Sequeiro
o Sobreiral
o Viveiro
o Circuitos Ambientais dotados de equipamentos pedagógicos (ar, terra, água e energia)


§ ACTIVIDADES
o Visitas Guiadas
o Aulas de Natureza
o Oficinas Ambientais
o Cursos
o Jogos Tradicionais e Ambientais
o Percursos Pedestres Guiados no concelho de Constância

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Cenas mirambolantes.

Receitas da nossa região.

Sopa de Peixe


Ingredientes:


3 fataças (600 grs cada), com aproveitamento dos fígados, das moelas e das ovas ;
1 kg de batata cortada ás rodelas ;
meio kg de tomate picado ;
1 pimento cortado fininho ;
2 dl de azeite ;
1 folha de louro ;
colorau a gosto ;
piripiri q.b. ;
1 cebola grande picada ;
sal q.b. ;
pão cortado em pequenos pedaços ;
hortelã
Confecção:

Colocam-se todos os ingredientes ( o peixe fica por cima ) numa panela ao lume. Tempera-se de sal. Vai a lume forte, retirando-se o peixe sem deixar cozer demais. Junta-se o pão e a hortelã. O peixe é servido à parte, regado com uma colher do caldo a que se juntou bastante sal (salmoura).

Anedotas da nossa História!

A INQUISIÇÃO E OS MORTOS
A Inquisição não limita a sua jurisdição apenas aos vivos e aos mortos nos cárceres, mas estende-a, frequentemente, a pessoas mortas muitos anos antes de terem sido acusadas de qualquer crime de vulto. Neste caso, desenterram-nas, julgam-nas (e quem cala consente) e se são condenadas queimam-lhes os ossos em auto-de-fé, confiscando-lhes os bens para o que despojam, meticulosamente, os seus herdeiros (M. Dellon, Relation de l’Inquisition de Goa, cit. VB-17)