Seguidores

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Tenho Saudades da Carícia dos Teus Braços .




Tenho saudades da carícia dos teus braços, dos teus braços fortes, dos teus braços carinhosos que me apertam e que me embalam nas horas alegres, nas horas tristes. Tenho saudades dos teus beijos, dos nossos grandes beijos que me en¬tontecem e me dão vontade de chorar. Tenho saudades das tuas mãos (...) Tenho saudades da seda amarela tão leve, tão suave, como se o sol andasse sobre o teu cabelo, a polvilhá-lo de oiro. Minha linda seda loira, como eu tenho vontade de te desfiar entre os meus dedos! Tu tens-me feito feliz, como eu nunca tivera esperanças de o ser. Se um dia alguém se julgar com direitos a perguntar-te o que fizeste de mim e da minha vida, tu dize-lhe, meu amor, que fizeste de mim uma mulher e da minha vida um sonho bom; podes dizer seja a quem for, a meu pai como a meu irmão, que eu nunca tive ninguém que olhasse para mim como tu olhas, que desde criança me abandonaram moralmente que fui sempre a isolada que no meio de toda a gente é mais isolada ainda. Podes dizer-lhe que eu tenho o direito de fazer da minha vida o que eu quiser, que até poderia fazer dela o farrapo com que se varrem as ruas, mas que tu fizeste dela alguma coisa de bom, de nobre e de útil, como nunca ninguém tinha pensado fazer. Sinto-me nos teus braços de¬fendida contra toda a gente e já não tenho medo que toda a lama deste mundo me toque sequer.

Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)"

2 comentários:

Clotilde Zingali disse...

o amor segue deixando seus presentes raros..

Olá Manuel! quanta coisa bacana sobre Fernando Pessoa :)) adorei saber. eu tenho o "livro do desassossego" e de quando em quando me perco naquelas confissões...encontro sombra que me conforta, abre e fecha meus olhos. um baita homem! você disse bem - quanto trouxe e traz através da palavra, da poesia! você respira mais perto de onde ele respirou, não é? e nós todos respiramos melhor porque ele respirou. densamente. um grande abraço. é sempre um prazer ler os seus comentários. Clotilde

Glorinha L de Lion disse...

Um amor assim, que não quer sentir?
Beijos.