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sábado, 13 de setembro de 2008
O encanto de ter um (a) amante...
Para a generalidade das mulheres, - ter um amante significa - ter uma quantidade de ocupações, de factos, de circunstâncias a que, pelo seu organismo e pela sua educação, acham um encanto inefável. Ter um amante - não é para elas abrir de noite a porta do seu jardim. Ter um amante é ter a feliz, a doce ocasião destes pequeninos afazeres - escrever cartas às escondidas, tremer e ter susto: fechar-se a sós para pensar, estendida no sofá; ter o orgulho de possuir um segredo; ter aquela ideia dele e do seu amor, acompanhando com uma melodia em surdina todos os seus movimentos, a toilette, o banho, o bordado, o penteado: é estar numa sala cheia de gente, e vê-lo a ele, sério e indiferente, e só eles dois estarem no encanto do mistério; é procurar uma certa flor que se combinou pôr no cabelo; é estar triste por ideias amorosas, nos dias de chuva, ao canto de um fogão; é a felicidade de andar melancólica no fundo de um cupé; é fazer toilette com intenção, o maior dos encantos femininos! Etc.
Estas pequeninas coisas, que enchem a sua existência, que a complicam em cor-de-rosa, que a idealizam - são a sua grande atracção. É o que amam. O homem amam-no pela quantidade do mistério, de interesse, de ocupação romanesca que ele dá à sua existência. De resto, amam o amor. Havia muito deste sentimento nas místicas e nas antigas noivas de Jesus. Amavam a Deus porque ele era o pretexto do culto.
Eça de Queirós, in 'Uma Campanha Alegre'
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8 comentários:
que «mal-engano».
isto tem de ser contextualizado à época.
gostei da expressão: «fazer toilette com intenção». tem uma certa delícia
Em todas as épocas o amor sempre teve a virtude, não apenas de desnudar dois amantes um em face do outro, mas também cada um deles diante de si próprio
bolas, essa é muito profunda, ainda assim, não tão profunda como: enquanto não encontro a mulher certa, vou saindo com as erradas. Pronto, mas é profunda.
eh eh eh
Como foi bom recordar " Uma campanha alegre"! Finalmente compreendo o que sentia. Era isso mesmo! Sem tirar nem por. Talvez tirasse a toilette. Mas tudo o resto é a memória viva de uma traição no feminino. A minha, pelo menos.
Pedras, estava com esperança que fizesses uma pequena dissertação ao Eça. Vá lá, sou muito ignorante em Eça. Inspira-te. Amanhã. Hoje, já é tarde.
Eça e a dissertação. Uma dissertação assim não surge de simples inspiração. O Homem merece o melhor, o meu melhor e este anda noutras aventuras que consomem tempo e cabeça. Terá de ficar para melhores dias, quando a disponibilidade seja quase total à causa querosiana.
Obrigada manuel marques por me trazer à memória os fundamentos de momentos passados.
pedrastuas:Nada de obrigados.Seja benvinda a bordo.Os mares são todos seus.
Navegar é preciso!
E encontro águas calmas por estas bandas. Vou ficando... com muito gosto!
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