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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Hino à Tolerância.




Já será grande a tua obra se tiveres conseguido levar a tolerância ao espírito dos que vivem em volta; tolerância que não seja feita de indiferença, da cinzenta igualdade que o mundo apresenta aos olhos que não vêem e às mãos que não agem; tolerância que, afirmando o que pensa, ainda nas horas mais perigosas, se coíba de eliminar o adversário e tenha sempre presente a diferença das almas e dos hábitos; dar-lhe-ão, se quiserem, o tom da ironia, para si próprios, para os outros; mas não hão-de cair no cepticismo e no cómodo sorriso superior; quando chegar o proceder, saberão o gosto da energia e das firmes atitudes. Mais a hão-de ter como vencedores do que como vencidos; a tolerância em face do que esmaga não anda longe do temor; então, antes os quero violentos que cobardes.
Mas tu mesmo, Marcos, com que direito és tolerante? Acaso te julgas possuidor da verdade? Em que trono te sentaram para que assim olhes de cima o resto dos humanos e todo o mundo em redor? Por que tão cedo te separas de compreender e de amar? Tens a pena do rico para o pobre, dás-lhe a esmola de lhe não fazer mal; baixaste a suportar o que é divino como tu; e queres que te vejamos superior porque já te não deixas irritar por gestos ou palavras dos irmãos. Mais alto te pretendo e mais humilde; à tolerância que envergonha substitui o cálido interesse pedagógico, o gosto fraternal de aprender e de guiar; não levantes barreiras, mas abate-as; se consideras pior o caminho dos outros vai junto deles, aconselha-os e guia-os; não os deixes errar só porque os dominarias, se quisesses; transforma em forte, viva chama o que a pouco e pouco se dirige a não ser mais que um gelado desdém.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'

2 comentários:

Manuela Freitas disse...

Sempre gostei da filosofia muito pessoal de Agostinho da Silva, ficava encantada a ouvi-lo quando fez uns programas na televisão!...
Este texto sobre a tolerância é muito interessante! Sempre se apela à tolerância, mas a mesma também pode ser um sinal de distanciamento e superioridade!
Um abraço,
Manú

Viviana disse...

Olá Manuel

Sorri, quando logo, logo, reconheci na foto aquele bom e sábio homem, que foi Agostinho da Silva.

Tenho imensas saudades dele!

Sempre o recordo sentado naquele cadeirão, já muito usado, com o seu amigo gato deitado junto ao seu ombro nas costas do cadeirão.

Aprendi muita coisa com ele, que ainda hoje guardo comigo.

Obrigada por o ter trazido hoje aqui.

Este foi um momento muito especial para mim, creia.

Quanto á tolerância...sabe que eu nunca gostei dessa palavra.

Eu prefiro outra:

A palavra AMAR!

E, veja, como eu me identifico com este grande homem:

«Mas tu mesmo, Marcos, com que direito és tolerante? Acaso te julgas possuidor da verdade? Em que trono te sentaram para que assim olhes de cima o resto dos humanos e todo o mundo em redor?»

É mesmo isso.

Quem sou para tolerar?
Para deixar que o outro exista?

Os homens são todos iguais, independentemente do que possuam ou saibam.

São homens.
E têm valor por serem homens.

Desejo-lhe um lindo dia

Um abraço

viviana