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quarta-feira, 14 de julho de 2010

A Nossa Arte




A arte de desenvolver os pequenos motivos para nos decidirmos a realizar as grandes acções que nos são necessárias. A arte de nunca nos deixarmos desencorajar pelas reacções dos outros, recordando que o valor de um sentimento é juízo nosso, pois seremos nós a senti-lo e não os que assistem. A arte de mentir a nós próprios, sabendo que estamos a mentir. A arte de encarar as pessoas de frente, incluindo nós próprios, como se fossem personagens de uma novela nossa. A arte de recordar sempre que, não tendo nós qualquer importância e não tendo também os outros qualquer espécie de importância, nós temos mais importância que qualquer outro, simplesmente porque somos nós.
A arte de considerar a mulher como um pedaço de pão: problema de astúcia. A arte de mergulhar fulminante e profundamente na dor, para vir novamente à tona graças a um golpe de rins. A arte de nos substituirmos a qualquer um, e de saber, portanto, que cada pessoa se interessa apenas por si própria. A arte de atribuir qualquer dos nossos gestos a outrem, para verificarmos imediatamente se é sensato.
A arte de viver sem a arte.
A arte de estar só.

Cesare Pavese, in 'O Ofício de Viver'

3 comentários:

Manuela Freitas disse...

Já leu esse livro, «Ofício de Viver»? para mim é dos livros marcantes na minha vida, ainda hoje vou ler partes que sublinhei.
Bj,
Manú

Regina Rozenbaum disse...

Manuel, poeta, amado!
Que escolha...
"O diário de Pavese é ao mesmo tempo uma técnica poética e um modo de estar no mundo.» (Ítalo Calvino). Fico pensando que esse diário retrata o desespero, profundo, e impotência não só do autor, mas de todos nós diante dos reveses que nossa vida sentimental, vira e mexe toma. Além disso, denuncia (apesar de muitas vezes em termos "bem pesados") toda a dificuldade, messsmo, de relacionarmos com o sexo oposto! «Ninguém se mata pelo amor de uma mulher (eu acrescento: de um homem). Matamo-nos porque um amor, não importa qual, nos revela a nós rnesrnos na nossa nudez, na nossa miséria, no nosso estado inerme, no nosso nada.»
Beijuuss n.c.

www.toforatodentro.blogspot.com

angela disse...

Muitas artes tem a vida.