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domingo, 27 de junho de 2010

A Amizade não se Procura, Exercita-se .




É um erro desejar ser compreendido antes de se ser elucidado por si mesmo a seus próprios olhos. É procurar prazeres na amizade, e não méritos. É qualquer coisa de mais corruptor ainda do que o amor. Venderias a tua alma por amor.
Aprende a repelir a amizade, ou melhor, o sonho da amizade. Desejar a amizade é um grande erro. A amizade deve ser uma alegria gratuita como as que a arte ou a vida oferecem. É preciso recusá-la para se ser digno de a receber: ela é da categoria da graça («Meu Deus, afastai-vos de mim...»). É dessas coisas que são dadas por acréscimo. Toda a ilusão de amizade merece ser destruída. Não é por acaso que nunca foste amado... Desejar escapar à solidão é uma cobardia. A amizade não se procura, não se imagina, não se deseja; exercita-se (é uma virtude). Abolir toda esta margem de sentimento, impura e enevoada. Schluss!

Ou melhor (pois não é necessário desbastar-se a si mesmo rigorosamente), tudo o que, na amizade, não passe por alterações efectivas deve passar por pensamentos ponderados. É absolutamente inútil privar-se da virtude inspiradora da amizade. O que deve ser severamente proibido, é sonhar com os prazeres do sentimento. É corrupção. E é tão estúpido como sonhar com a música ou com a pintura. A amizade não se deixa afastar da realidade, tal como o belo. E o milagre existe, simplesmente, no facto de que ela existe. Aos vinte e cinco anos é mais que tempo de acabar radicalmente com a adolescência...

Simone Weil, in 'A Gravidade e a Graça'

6 comentários:

Denise disse...

Na espontaneidade dos sentimentos mora seu valor máximo.
Com a amizade não é diferente.
Eis-me aqui, meu amigo, no exercício livre do bem querer, somente!!
Bom domingo!!

Beijo

angela disse...

Um bonito texto para refleti-se muito.

beijos

Regina Rozenbaum disse...

Manuel, poeta, amado!
Exercício diário e como digo sempre: tenho poucos, mas nos acompanhamos há muitos anos... Gosto muito do que Oscar Wilde diz:
"“Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
(...) Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero o meu avesso.(...) Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.(...) Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos
Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto: e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo, loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que “normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril."
Beijuuss n.c.

www.toforatodentro.blogspot.com

Guma disse...

O amigo pode bem, ser a família que podemos escolher.
Amizade é um crescendo, uma dádiva.
Não se procura, acontece com naturalidade!
E acima de tudo não está à venda.
Kandandos e uma óptima semana

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Amigo. Lindo texto. Como tudo que faz. Amizade é conquista. Beijos.

Manuela Freitas disse...

Como posso contestar a Simone Weil!?...
Depois de uma empatia que acontece entre duas pessoas é preciso de facto exercitar esse sentimento, depurá-lo de tudo que possa ter de negativo, é um exercício de facto de uma constante aprendizagem. Não basta dizer-se amigo o mais importante é ser-se amigo.
Beijinhos,
Manú