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segunda-feira, 21 de junho de 2010

Cerimonial do Amor ...


Se não houver esperanças de que o teu amor seja recebido, o que tens a fazer é não o declarar. Poderá desenvolver-se em ti, num ambiente de silêncio. Esse amor proporciona-te então uma direcção que permite aproximares-te, afastares-te, entrares, saíres, encontrares, perderes. Porque tu és aquele que tem de viver. E não há vida se nenhum deus te criou linhas de força.
Se o teu amor não é recebido, se ele se transforma em súplica vã como recompensa da tua fidelidade, se não tens coração para te calares, nessa altura vai ter com um médico para ele te curar. É bom não confundir o amor com a escravatura do coração. O amor que pede é belo, mas aquele que suplica é amor de criado.

Se o teu amor esbarra com o absoluto das coisas, se por exemplo tem de franquear a impenetrável parede de um mosteiro ou do exílio, agradece a Deus que ela por hipótese retribua o teu amor, embora na aparência se mostre surda e cega. Há uma lamparina acesa para ti neste mundo. Pouco me importa que tu não possas servir-te dela. Aquele que morre no deserto tem a riqueza de uma casa longínqua, embora morra.
Se eu construir almas grandes e escolher a mais perfeita para a rodear de silêncio, ficarás com a impressão de que ninguém recebe nada com isso. E, no entanto, ela enobrece todo o meu império. Quem quer que passa ao longe, prosterna-se. E nascem os sinais e os milagres.
Não importa que o amor que alguém nutre por ti seja um amor inútil. Desde que tu lhe correspondas, caminharás na luz. Grande é a oração à qual só responde o silêncio; basta que o deus exista.
Se o teu amor é aceite e há braços que se abrem para ti, então pede a Deus que salve esse amor de apodrecer. Eu temo pelos corações cumulados.

Antoine de Saint-Exupéry, in "Cidadela"

7 comentários:

Essência e Palavras disse...

Belíssimo poema pra começar a semana.
Sintonia perfeita!

beejão pra ti!

Manuela Freitas disse...

Olà querido Manuel,
Mais um texto fantástico de um escritor, de um dos meus livros preferidos, como estás a ver refiro-me ao «Principezinho»! Estas coisas do amor são muito complicadas, nunca se sabe quando ele nos apanha e se é recíproco, pior ainda é quando ele nos deixa sem sabermos a razão!...
Há um poema que diz:
Amar e ser amada que ventura,
Não amar sendo amada um triste horror
Mas na vida há uma noite mais escura
Que é amar alguém, que não nos dá amor

Parece que é mais ou menos assim, mas nem me lembra de momento o autor! Sabes?
Beijinhos,
Manú

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Quando a vida dentro de mim se tornou possivel disse...

Não conhecia e ameiiiiiiiiiiiiii... Este estou levando na bolsa , como diz minha amiga Denise.
Um abração!!

Denise disse...

Suplicar amor...uma escolha que nos leva para o calabouço da existência - nem um réstia de sol entra para aquecer o coração.
Lindo poema.

Beijos com desejo de uma boa semana, Manuel!

Nato disse...

Gostei Muiito daqui belo blog
lindas palavras =D.
quando der passa la
te segui

abraços

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Olá amigo,

Este é um livro que me traz grande e doces recordações.
Li-o com o meu falecido pai pela primeira vez.
Depois li o origal, foi uma aventura inesquecível, ser capaz de ler um livro noutra língua que não a minha mas tão bela que adoçou ainda mais a sua leitura.

Recentemente li-a em Português novamente para os meus alunos Britânicos de português, foi uma loucura, até ouve choradeira.

Há três anos escrevi uma "review" para preparação do CPE em Inglês e tenho-o publicado no meu Blog - Diverse Texts and Stories.

Enfim, este é mais um dos imortais e sempre actual.
Beijinhos

Na casa do Rau