
A camaradagem, o companheirismo, às vezes, parecem amizade. Os interesses comuns por vezes criam situações humanas que são semelhantes à amizade. E as pessoas também fogem da solidão, entrando em todo o tipo de intimidades de que, a maior parte das vezes, se arrependem, mas durante algum tempo podem estar convencidas de que essa intimidade é uma espécie de amizade. Naturalmente, nesses casos não se trata de verdadeira amizade. Uma pessoa imagina que a amizade é um serviço. O amigo, assim como o namorado, não espera recompensa pelos seus sentimentos. Não quer contrapartidas, não considera a pessoa que escolheu para ser seu amigo como uma criatura irreal, conhece os seus defeitos e assim o aceita, com todas as suas consequências. Isso seria o ideal. E na verdade, vale a pena viver, ser homem, sem esse ideal?
E se um amigo falha, porque não é um verdadeiro amigo, podemos acusá-lo, culpando o seu carácter, a sua fraqueza? Quanto vale aquela amizade, em que só amamos o outro pela sua virtude, fidelidade e perseverança? Quanto vale qualquer afecto que espera recompensa? Não seria nosso dever aceitar o amigo infiel da mesma maneira que o amigo abnegado e fiel? Não seria isso o verdadeiro conteúdo de todas as relações humanas, esse altruísmo que não quer nada e não espera nada, absolutamente nada do outro? E quanto mais dá, menos espera em troca? E se entrega ao outro toda a confiança de uma juventude, toda a abnegação da idade viril e finalmente oferece a coisa mais preciosa que um ser humano pode proporcionar a outro ser humano, a sua confiança absoluta, cega e apaixonada, e depois se vê confrontado com o facto de o outro ser infiel e vil, tem direito de se ofender, de exigir vingança? E se se ofende e grita por vingança, era realmente amigo, o traído e abandonado?
Sándor Márai, in 'As Velas Ardem Até ao Fim'
6 comentários:
Caríssimo,
houve um tempo fascinante com uns escritos e nao só fascinantes (desculpe a redundãncia): Literatura de Cordel. Adorava ver as nossas livrarias com cordelinhos e molas....
de resto, se fosse a si, lia o Eça.
Este bla, bla, blá afz muito mal às pessoas.
Mas isto digo eu
pronto...
em última análise use as velas que quiser.
Olá Manuel,
Eu gostei imenso deste livro, é dos tais livros de que não se descola e até se chega ao fim querendo mais!...
Um grande abraço,
Manú
Essa é uma questão dificil.
beijos
Um texto muito bom e interessante. Boa escolha, Manuel! Aceitar a infidelidade e nada esperar em troca de uma relação... talvez seja o ideal. Mas acho difícil. Penso que a amizade, assim como o amor, precisam ser regados por ambas as partes. É necessário que hajam trocas.
Abraço
Olá Manuel
Não imagina o quanto eu gostei do texto que publicou.
li-o muito devagar para apreender bem o conteúdo e significado.
chamei até o Jorge (meu marido) e li para ele ouvir.
Ele também apreciou muito e conhece o livro de onde o Manuel o extraiu.
Fez-me até um resumo do livro.
Como ele é Pastor, lembrou-se do capitulo 13 da I Ep. de S. Paulo sos Coríntios, sobre o qual ele prega muitas vezes e que nós, os Evangélicos quase sabemos de Cór.
Aqui está:
«1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine.
2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
3 E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
4 O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece,
5 não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal;
6 não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade;
7 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8 O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
9 porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos;
10 mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado.
11 Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
12 Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.
13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.»
O Amor que pode ser a AMIZADE.
Desejo-lhe um lindo dia
viviana
CARO AMIGO,se melhorar, estraga.
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