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segunda-feira, 29 de junho de 2009

A Sofreguidão de um Instante .




Tudo renegarei menos o afecto,
e trago um ceptro e uma coroa,
o primeiro de ferro, a segunda de urze,
para ser o rei efémero
desse amor único e breve
que se dilui em partidas
e se fragmenta em perguntas
iguais às das amantes
que a claridade atordoa e converte.
Deixa-me reinar em ti
o tempo apenas de um relâmpago
a incendiar a erva seca dos cumes.
E se tiver que montar guarda,
que seja em redor do teu sono,
num êxtase de lábios sobre a relva,
num delírio de beijos sobre o ventre,
num assombro de dedos sob a roupa.
Eu estava morto e não sabia, sabes,
que há um tempo dentro deste tempo
para renascermos com os corais
e sermos eternos na sofreguidão de um instante.

José Jorge Letria, in "Variantes do Oiro"

4 comentários:

angela disse...

Nossa! que bonito esse poema.
Renascer e ser eterno por um instante. Um instante sem tempo, um instante eterno.
Tenho sentido a falta de seus comentários em meu blog.
beijos amigo

Mariz disse...

Lindo poema mostrando q a paixão se vive num instante, mas pode durar eternamente nem q seja na lembrança.

bjos!

mariabesuga disse...

A mestria das palavras de JJLetria na sensibilidade de quem as escolhe para as partilhar.

...e é um poema muito bonito.

Ava disse...

"Deixa-me reinar em ti...
O tempo apenas de relâmpago..."

Ai, como é forte isso... basta isso e já temos a felicidade plena...
Loucuras de amar!